Vingadores : The Avengers- Uma das PIORES quadrinizações de um filme que eu já li!
E, caso você não lembre, sim, em 2012 o filme foi lançado como Os Vingadores: The Avengers no Brasil.
Caso ainda não acredite em mim, eis a prova:
Mas esse post não é pra falar dessa palhaçada! A palhaçada aqui é outra! Acontece que filmes adaptados pros quadrinhos existem desde o tempo em que Tony Ramos ainda não tinha pelo no peito. Porém os filmes baseados em quadrinhos que se tornaram quadrinhos baseados em um filme baseado em quadrinhos (fale isso 5 vezes com farinha na boca sem cuspir um grão) não são algo tão antigo assim! Eu não tenho certeza mas acho que é quase certo afirmar que um dos primeiros foi a adptação em quadrinhos do Batman de Tim Burton em 1989, já que o Superman de 1978 teve uma revista com informações de bastidores e imagens do filme mas não uma quadrinização.
E essa adaptação do filme do Batman pros quadrinhos é um negócio espetacular! Tirando o estranho fato do Batman da versão em papel se mover de maneira MUITO MAIS ÁGIL que o Batman da telona, o gibi trasnporta o rosto do elenco pro desenho de forma perfeita graças ao traço do telentoso Jerry Ordway. O trabalho com essa quadrinização foi tão bom que nos EUA foi lançada uma edição com as paginas em preto e branco ao lado das coloridas pra que o trabalho de Ordway pudesse ser apreciado em todo o seu esplendor.
Claro que os demais filmes do Batman ganharam versões em quadrinhos mas NENHUM sequer arranhou a superficie da qualidade do primeiro. Mas não só de bons filmes vivia a adaptação para quadrinhos! E filmes como Supergirl, o Justiceiro do Dolph Lundgren e o Capitão América das orelhas apregadas na máscara dos anos 90 também ganharam suas quadrinizações. Curiosamente, algumas dessas adaptações eram MUITO MELHORES que os filmes propriamente ditos, é o caso do Justiceiro, que se utilizava de cenas cortadas do filme que dariam maior sentido a trama e ainda faziam o personagem aparecer com a famosa caveira no peito (mesmo que apenas perto do fim da história) que tanto fez falta no longa.
Uma coisa que essas adaptações para os quadrinhos faziam era colocar um time de gente talentosa e até famosa no meio pra chamar a atenção de quem já acompanhava as HQs além de mostrar que apostavam no que estavam vendendo nas telonas. Um caso bacana é a adaptação do filme Conan: O Bárbaro estrelado pelo grandalhão Arnold Schwarzenegger, que foi escrito, desenhado e belíssimamente colorizado por John Buscema, nome mais que consagrado no título do personagem. Aliás, é interessante notar que John Buscema não tentou fazer o Conan parecido com o Shwarzenegger. O Conan da adaptação é o Conan dos quadrinhos tal qual ele desenhava. Eu achei isso muito legal!
O interessante é que a adaptação do filme não foi publicada numa edição especial e, sim, na edição 21 da revista Marvel Comics Super Special que publicava histórias fechadas de vários personagens mais adultos da editora em suas edições mas também publicava várias adaptaçõs de filmes pros quadrinhos como Tubarão, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Indiana Jones, James Bond, Blade Runner e tantos outros. Conan: O Destuidor também apareceu nas páginas da revista, mas dessa vez John Buscema apenas desenhou,deixando o roteiro para Michael Fleisher e as cores para George Roussos, que fez um trabalho genérico e sem graça. Uma pena, tendo em vista o ótimo trabalho que John Buscema tinha feito sozinho na adaptação anterior.
Sim, eu sei que eu estou me alongando demais pra chegar ao tema central desse post, mas creio que seja importante essa conceituação pra entendermos…ou melhor, pra ficarmos ainda mais confusos com o que virá a seguir.
Acontece que se nos anos 80 tinhamos esse cuidado com as adaptações dos filmes pros quadrinhos, ele foi se perdendo com o passar dos anos. Certo que no meio dos anos 90 não tivemos uma quantidade exorbitante de adaptações de quadrinhos pros cinema e as que tivemos…bem…era melhor nem ter tido! Mas já não se tinha mais o cuidado e esmero com esse tipo de HQ. E a coisa ficou ainda PIOR no começo dos anos 2000 quando X-Men chegou aos cinemas.
A partir daí as adaptações se resumiam a roteiros corridos, desenhitas entre o regular e o ruim, páginas que tentavam captar o impacto das cenas do filme mas que falhavam miseravelmente e as vezes cenas que já eram ruins nos filmes ficando ainda PIORES nas quadrinizações. Um exemplo lamentável é a HORRENDA cena da luta entre Matt Murdock e Elektra no medonho filme de 2003 (que, confesso, não consigo desgostar 100% do filme mas odeio 200% essa cena) que nos quadrinhos conseguiu ficar ainda mais nojenta e sem graça.
Tive algumas dessas adaptações e prequels (prequels que eram sumariamente ignoradas pelos filmes, claro) e lembro que era broxante ler aquilo antes de ver os filmes e ainda mais broxante depois, quando você via que o filme era ou MUITO MELHOR do que aquelas HQs vagabundas tentavam vender ou pelo menos não tão horríveis quanto.
A ultima adaptação em quadrinhos que comprei foi Batman Begins e desde então eu me mantenho longe desse tipo de material. As vezes costumo dar uma olhada online em algo que sai de um filme novo, mas é mais comum hoje em dia prequels do que adaptações dos filme em si. Bem…esse meu afastamento desse tipo de material mudou há umas duas semanas atrás a contar da data de publicação desse post.
Acontece que eu estava passando na feira e lá tem uma barraca que vende côcos e…livros usados! Sim, eu sei que é meio discrepante, mas é assim que o Brasil anda ultimamente, com as pessoas tendo que se adaptar absurdamente pra sobreviver. No meio de um monte de livros de receitas, livros religiosos, romances vagabundos dos anos 70 e 80 e lixo com o Edir Macedo na capa, haviam alguns quadrinhos. A maioria da DC da fase dos Novos 52 e inicio do Rebirth. E num canto, em cima de um monte de livros aleatórios e longe dessas HQs estava Vingadores: Era de Ultron- Prelúdio, HQ que eu já tinha visto em bancas há época de seu lançamento e ignorado completamente por saber que era uma bomba. Essa mesma HQ está encalhada até hoje nas duas comic shops da cidade e a capa, com uma foto aleatória do Thor ao lado do Capitão América retirada de uma cena de A Era de Ultron não é lá um grande chamariz.
Porém, como na barraca do côco a HQ estava fora do plástico como originalmente tinha ido as bancas (acho que acompanhada de um album de figurinhas), dei uma folheada e pra minha surpresa a HQ, que era bem grossa pra trazer só um prelúdio de um filme que normalmente vinha com no máximo 45 páginas, trazia também histórias clássicas do Roy Thomas com o John Buscema, Kurt Bursiek com George Perez e, mais atualmente, Brian Michael Bendis e Bryan Hitch, todas obviamente focadas no Ultron. Claro que a HQ trazia tambéma a tal história pequel de A Era de Ultron, mas como eram apenas 16 páginas (HORRENDAMENTE desenhadas, diga-se de passagem), obviamente não compensaria publicar apenas ela. Mas a minha surpresa maior veio no inicio da edição, pois sem aviso prévio, me deparo com a adaptação do Os Vingadores: The Avengers para os quadrinhos! Ok…tecnicamente o filme é um prelúdio pra A Era de Ultron. Então acho que tá tudo certo…
Lembro que quando fui ver o filme no cinema com a senhora Hellbolha, eu fiquei parecendo um moleque de tão feliz que cada segundo do filme me deixava com suas cenas fantásticas, diálogos afiados e momentos memoráveis (nunca vou esquece o sorriso idiota com que fiquei quando o Hulk deu o soco no bichão voador e quando olhei pro lado esperando um olhar de reprovação da senhora Hellbolha pela minha infantilidade, ela estava com um sorriso do mesmo tamanho encarando fixamente a tela). O filme foi toda uma experiência pra mim e pra todo fã de quadrinho que sempre sonhou ver um universo compartilhado nos cinemas. Fato é que não importa o tamanho dos filmes de super-herói hoje em dia, aquele abril de 2012 foi único e aquela sensação dificilmente vá se repetir de novo (creio que o mais próximo foi o encontro dos 3 aranhas em Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa).
Pois bem…isto posto, toda a ação, emoção, aventura e sensação de grandiosidade que gerou uma sensação de fascinação pra quem viu o filme…NÃO ESTÁ NA HQ! Ela é uma adaptação porca, nojenta, corrida e completamente anticlimática a cada página. Lembro que a única parte que eu achei chatinha quando vi o filme no cinema foram os 30 minutos iniciais, que é a parte mais lenta. Mas a razão de minha impaciência é que eu não via a hora de ver a equipe reunida. E depois desses 30 minutos iniciais o filme pisa no acelerador com os dois pés e a ação é quase ininterrupta! A adaptação em quadrinhos pula esses trinta minutos resumindo-o em duas míseras páginas. O problema é que parece fazer isso com TODO O FILME!
Sério, em cada página dessa adaptação em quadrinhos, que nos EUA foi dividida em duas edições de 20 páginas cada, o roteirista Will Corona Pilgrim expreme uns 20 ou 30 minutos, matando diálogos importantes, apresentando mal e porcamente alguns personagens e ignorando completamente cenas chaves. Um exemplo de tudo isso em um só momento é na cena da morte do Colson. O personagem tem UMA FALA no primeiro quadrinho da HQ, aparece no fundo do segundo quadrinho (página da esqueda acima) e é solenemente ignorado no resto. Não temos a tietagem dele ao Capitão América e nem o lance das figurinhas, algo fundamental pros Vingadores deixarem suas diferenças de lado e se unirem. Aqui, quando ele morre, se você não tiver visto o filme e não souber quem é, você nem se importa!
A influência do cetro sobre a psique, ativando o lado agressivo dos Vingandores também é deixado de lado e fica sem sentido quando o Hulk finalmente se transforma no porta-aviões da Shield. As lutas são podres de ruins e algumas duram UM QUADRINHO SÓ, como a da Viúva Negra contra o mentalmente controlado Gavião Arqueiro ( penultimo quadro da página da esqueda acima).
Tudo é corrido e mal contado e só não é pior porque os desenhos não são ruins. O artista principal é um certo pau no cu arrombadaço, transfobico e bolsominon seboso. Foda-se! Não vou falar dele! O artista secundário é Augustin Padilla, que tem um traço mais estilizado com um sombreado escuro e meio sujo bem elgal e, honestamente, eu preferia que tivesse desenhado a edição inteira.
Ah, eu já ia esquecendo dois pontos! A cena do missil aqui é confusa e ridicula. Confusa porque se fala em um portal que está permitindo os Chitauris de invadirem nosso planeta, mas a HQ MAL MOSTRA O TAL PORTAL! E quando o míssil núclear é lançado e desviado pelo Homem de Ferro, no filme o míssil é grande e ele sustenta sobre as costas, na HQ é do tamanho de um cano de PVC e ele carrega como se fosse jogar numa lixeirinha qualquer. Assim como no filme, ele lança pelo portal e destrói a frota Chitauri, só que você NÃO ENTENDE O QUE ACONTECEU PORQUE NÃO MOSTRAM A CENA DIREITO! E a parte em que pensam que o Homem de Ferro está morto é tão dramática quanto encarar uma sacola de supermercado. E, não, eu não estou falando de uma sacola de supermercado flutuando com uma leve brisa. Falo de uma sacola de supermercado parada ali, ao lado da moça do caixa enquanto você espera a pessoa da sua frente pagar um pacote de doritos de R$2,00 com um cartão de crédito que insiste em dar recusado!
O segundo ponto é a já lendaria cena do Hulk usando o Loki de porrete pra dar uma surra no chão. Ela simplesmente INEXISTE na HQ.
Eu sei que a Marvel e até a DC ainda publicam algumas coisas relacionadas as seus filmes, mas eu honestamente me mantenho bem longe justamente por essa qualidade pífia. E, de fato, fazia muito mais sentido ter essas edições nos anos 80 não apenas pela qualidade como pelo fato de que não era tão fácil ter os filmes em home-vídeo como é hoje em dia. Se não tinha cinema na sua cidade (como era meu caso), eu poderia ver o filme pela HQ e esperar pra me maravilhar quando finalmente visse aquilo em live action um tempo depois. E eu sabia que iria estar praticamente identico ao quadrinho! Então, se eu posso ter o filme num serviço de streaming pouco após sair do cinema (ou mesmo “importar” ele), porque diabos eu vou querer uma adaptação em quadrinhos produzida de muita má vontade?
Eu não cheguei a ter as adaptações dos filmes dos anos 80, como Batman, Justiceiro e Conan: O Bárbaro, mas eu bem que adoraria ter! São trabalhos fantásticos que dão gosto de ver! Já essa adaptação de Vingadores…bem, ainda bem que temos as outras histórias no encadernado que valem a pena e me fazem esquecer que ela existe.
Nota: 2,0
PS: Curiosamenta a adaptação de Batman e Robin de 1998 para os quadrinhos começa com uma página metalinguística. A primeira página mostra o diretor Joel Schumacher de costar dirigindo o Batman de George Clooney e o Robin de Chris O’Donnell correndo em direção a uma parede de chromakey que, em seguida, se transforma na porta da jolheria roubada pelo Sr. Frio. A HQ não volta a fazer menção de que tudo não passa de um filme, mas bem que o filme podia ter usado essa ideia. Poderia ter resultado numa comédia das boas e não numa comédia das ruins como o filme acabou sendo.