Universo Marvel vs Justiceiro
Um “Eu Sou a Lenda” melhor que o do Will Smith…
Sabe o que é melhor que um porrilhão de mega-sagas engatadas uma atrás da outra parecendo um trenzinho movido a babaquices e sensacionalismo nojento pra entupir os bolsos de dinheiro? Histórias contidas em si mesmo, sem a preocupação com ligações cronológicas complexas e que tenham a única e simples função de divertir. E parece que a Marvel esqueceu disso. Hoje em dia temos mega-saga de merda atrás de mega-saga de merda resultando na tal crise que fizeram questão de culpar a tentativa de trazer diversidade para suas HQs quando, na verdade, a culpa era de suas histórias megalomaniacamente horrendas.
Mas até no mar de merda, vez ou outra aparece um porto seguro para se atracar esporadicamente. E foi em 2010, quando a Marvel já andava emendando mega-sagas como Guerra Civil, Invasão Secreta e A Essência do Medo, que surgiu uma singela mini-série em 4 partes estrelada por um de meus personagens favoritos da editora, o Justiceiro. Tratava-se de Universo Marvel vs Justiceiro, uma história livre do estigma das mega-sagas, apesar do nome apontar o contrário, e que também se mostrava livre de amarras cronológicas e sem a preocupação de se tornar canônica.
Escrita por Jonathan Maberry, com a arte ESTUPENDA de Goran Parlov, Universo Marvel se passa em uma realidade alternativa onde uma espécie de vírus transformou humanos e meta-humanos em criaturas canibais extremamente violentas. Não, eles não se tornaram zumbis como em Zumbis Marvel, apenas tiveram os instintos reduzidos a algo mais básico, mais primal.
A história soa como uma baita homenagem aos filmes de George Romero, mas lembra mesmo é o plot de Eu Sou a Lenda, com o Will Smith, inclusive com muitas cenas extremamente similares. Jonathan Maberry trabalha muito bem os clichês encontrados nesse tipo de filme e joga um tempero a mais ao colocar Frank Castle como o protagonista. Assim sendo, não temos o clássico protagonista perdido e vacilante que põe seus valores a prova e pensa duas vezes antes de atirar em alguém infectado. Ao invés disso, temos um sujeito com um histórico que pode ser resumido a “Se é mau, morre!” levado ao extremo, já que, tecnicamente, o mundo inteiro se tornou um berço do mal e Castle é um dos poucos imunes e, dos poucos imunes, o único que não tem dúvidas do que precisa ser feito. Desse modo, não existem amigos, nem entre os civis, nem entre os uniformizados. O único momento que é mostrado uma certa vacilação na hora de puxar o gatilho é quando Castle precisa por fim no único homem a quem respeitava acima de qualquer outro, o Capitão América.
“Ah, mas tio Hellbolha…dá mais detalhes do enredo! Como é que começa essa infecção?” você pode protestar, pequena criança. E, nas imortais palavras de Thor “EU DIGO-TE…NÃO!”. Essa é uma história que merece ser lida pois tem conceitos muito bacanas e apresenta vários personagens como você nunca viu e, sempre que aparecem, é de um jeito surpreendente. Mas vou dizer uma coisinha só: Eu SEMPRE imaginei o que aconteceria se um dia a armadura do Homem de Ferro parasse de vez e mantivesse o Tony Stark preso dentro e longe de conseguir qualquer tipo de ajuda pra tirá-lo de lá. Pois é, nessa história isso é respondido…
E se o roteiro diverte, os desenhos enchem os olhos. Goran Parlov é, pra mim, um dos melhores desenhistas que já passaram pelas histórias do Justiceiro. O cara veio dos fumettis, os quadrinhos italianos, e desenhou coisas como Ken Parker, Tex e Mágico Vento e ele emprega essa pegada de “cowboy moderno” ao Justiceiro que dá um “charme a mais” ao personagem. Se o Justiceiro parecia perigoso antes, no traço do Parlov ele parece MUITO MAIS, se ele parecia capaz de acabar com um exército de mafiosos antes, no traço do Parlov ele parece capaz de chutar a bunda do Hulk! E olha que ele chega mesmo perto de fazer isso nessa história…
Foi justamente com essa história que me tornei fã do Goran Parlov. Seu traço solto que, por vezes, parece um esboço ou algo feito as pressas, ao mesmo tempo mostra uma definição incrível e um dominio narrativo espetacular. E isso só foi mais e mais comprovado em toda obra do cara que fui atrás depois, como a fase dele ao lado do Garth Ennis no Justiceiro, no spin off estrelado pelo Barracuda, na mini-série do Nick Fury e também nos fumettis do Mágico Vento.
Universo Marvel vs Justiceiro chegou ao Brasil em duas partes pela, infelizmente, extinta Grandes Heróis Marvel da Panini em 2012. O mais bacana é que há uma história do Wolverine no mesmo universo e que também foi lançada em duas partes aqui, sendo as duas últimas edições da Grandes Heróis Marvel, ela não só tem ligação com a história do Justiceiro como dá respostas para algumas perguntas que surgem na parte estrelada por Frank Castle. O roteiro também fica a cargo do Jonathan Maberry mas os desenhos vão pras mãos também talentosas mas menos carismáticas de Laurence Campbell. O único ponto negativo é que a parte do Wolverine ficou mais didática e, portanto, mais arrastada. Mas, ainda assim, é muito bacana.
E é disso que mais sinto falta hoje em dia, boas histórias, grandiosas em sua “pequenes”. Também sinto falta de uma publicação como Grandes Heróis Marvel nas bancas, com histórias que se fechavam em até no máximo três edições e não eram exclusivas de um único personagem, dando a liberdade dos leitores escolherem que arcos gostariam de ler.
No mais, Marvel vs Justiceiro é leitura mais que recomendada. Procure, leia e se divirta enquanto se mantém bem longe das patacoadas editoriais da Marvel de hoje em dia.
Nota: 9,0