Afro Lista

Recentemente, um pequeno grupo de amiches foi assistir um filme seguindo uma sugestão do Manhattan. Antes de chegar ao filme em si, algumas coisas devem ser ditas.

O cinema era a pequena sala do Conjunto Nacional de São Paulo, bastante aconchegante e intimista na verdade. Pode haver alguma relação entre o publico normal do local e a pipoca, ambas bastante velhas segundo uma amiche presente.

Ou pode ser o filme.

O filme começa em 1947, e trata-se de uma passagem da vida de Dalton Trumbo (Bryan Cranston) , escritor de filmes premiado e de muitos sucessos.

Alguns anos atrás, Trumbo e vários de seus amigos se filiaram ao Partido Comunsta Americano, o que não era preocupante durante a Segunda Guerra. Mas depois que a URSS e os EUA ficaram um de cada lado da Cortina de Ferro, os comunistas se tornaram, digamos, impopulares.

A guerra fria estava ali e na verdade, ninguém sabia se podia esquentar a qualquer momento. Casos de espionagem como do casal Rosenberg (que vendiam segredos nucleares aos russos), não ajudaram a  tornar os comunistas populares.

É, os espiões de verdade parecem pouco com o Sean Connery

Trumbo e seus amigos, no entanto começaram a notar algumas movimentações estranhas, como a formação do Comitê Contra Atividades Anti Americanas (House Un-American Activities Committee ou HUAC como ficou conhecido), que, com o auxilio de nomes importantes em Hollywood, começou a fuçar a industria do cinema, buscando revelar os  “comunistas infiltrados”.

A face da democracia.

Trumbo vivia bem, era um sujeito rico na verdade, o bastante para ser criticado por seus amigos mais militantes, em particular, Arlen Hird, seu amigo mais próximo.

O grupo de Trumbo, ao ser convocado resolveu invocar seu direito a permanecer em silencio, a Quinta Emenda da Constituição (visto que não estavam sob julgamento, podiam fazer isso), no entanto acabaram sendo acusados de desacato ao Congresso, o que lhes rendeu uma pena de um ano. Eles ficaram sendo conhecidos como, os 10 de Hollywood.

Ao sairem, as coisas só mostraram estar piores para ele. Eles estavam na Lista Negra do cinema e ninguém iria emprega-los. Isso se deve principalmente pela ação da, preparem-se para um nome enorme, Motion Picture Alliance for the Preservation of American Ideals, um grupo formado por alguns nomes importantes na industria, contando com nomes como John Wayne e até a escritora Ayn Rand ( que escreveu Bioshock ou algo assim)

O filme é realmente excelente e retrata muito bem um periodo bastante maluco da historia americana.

Mesmo intimado a depor, o passarinho não abriu o bico para o Congresso

Os anos 50 em particular foram o período mais agravado da paranoia contra a “Ameaça Vermelha”. E naturalmente, havia todo tipo de gente no meio disso, desde pessoas que realmente viam comunistas em toda parte quanto aqueles que só estavam se aproveitando do caos por uma razão ou outra. E claro, os prejudicados.

Alguns, como no caso dos 10 de Hollywood eram realmente comunistas, mas dificilmente seriam revolucionários. Outros que foram levados até a Comissão realmente eram. Alguns entregaram nomes para se livrarem de problemas. E muitos eram apenas pegos no meio disso tudo.

Elle Fanning, servindo a Caipirinha de Moscou

As similaridades com os julgamentos das bruxas eram infelizes e não eram poucos. Os convocados tinham suas vidas vasculhadas minunciosamente e vários de seus direitos constitucionais eram apenas ignorados. Normalmente era exigido que eles informassem o nome de outros.

Na prática, todas essas precauções não parecem ter tido nenhum efeito real, além de zoar a vida de muita gente.

Felizmente, Trumbo era um cara muito talentoso (e paradoxal, já que se apoiava na Primeira Emenda, a da liberdade de expressão e ao mesmo tempo falava em defesa de sujeitos legais como Stalin e Kim Il-sung) e conseguiu atravessar o periodo mais tenso da paranoia, não incólume, mas se saiu melhor do que muitos.

O elenco está realmente excelente, desde Bryan Cranston até Diane Lane. Eu diria no entanto que dois nomes se destacaram e chamaram nossa atenção. David James Elliott  como John Wayne e Dean O’Gorman como Kirk Douglas. Esse, em particular, estava identico ao original. Já Elliott fez o possivel para interpretar o Duke, embora não se parecesse nada com ele fisicamente.

Então, resumindo, é um ótimo filme e bom para dar um tempo do pessoal com os colantes, animações e semelhantes.

Boa escolha Manhattan.