Trash Delícia – A Morte do Demônio

“Porra, essa coluna ainda tá aí, rapá? Fazendo o quê, rapá?” – João do Américathe-evil-dead-original-1981-poster

Houve uma época de ouro com um charme especial em relação à outras épocas douradas do cinema de terror. Seus filmes não entraram para a história do cinema como obras primas da quinta arte, como o que aconteceu com O Bebê de Rosemary ou O Exorcista, por exemplo. O caminho traçado foi exatamente o inverso, com obras que possuíam roteiros e orçamento disputando entre si quem era o mais ridículo, com cenas grotescas e tão mal executadas em alguns casos que provocam risadas ao invés de medo.

Nessa coluna já tivemos grandes expoentes do cinema trash como O Vingador Tóxico e O Ataque dos Tomates Assassinos, mas na minha opinião, nada se compara a The Evil Dead, que no Brasil ganhou o fantástico título de Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio. Nos dois filmes supracitados temos o trash puro e simples, com efeitos grotescos e roteiros risíveis, mas em Evil Dead as coisas vão além.

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Antes de explicar o porque de tanta puxação se saco, bora pra história. O filme abre com uma visão em primeira pessoa de uma criatura observando um carro. Nesse carro estão cinco jovens: Ash, irmã do Ash, namorada do  Ash, amigo babaca do Ash e namorada do amigo babaca do Ash. Por interferência de forças capetais, o volante do carro trava, quase provocando um batida de frente com um caminhão, mas na última hora o volante volta ao normal.

Pouco tempo depois os jovens atravessam uma ponte que deveria ter sido destruída há muito tempo pela Defesa Civil e chegam na cabana, uma coisa velha e feia que você sente o cheiro de mofo saindo da tela e impregnando em seu nariz. Enquanto se acomodam no barraco, a primeira manifestação trevosa acontece, com a irmã do Ash (que até que é uma narigudinha show) tem a mão possuída e desenha o Necronomicon como uma criança de 5 anos.

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Durante a hora da janta, o alçapão do porão (olha a rima!) se abre violentamente, atraindo a atenção de todos. Para investigar o que aconteceu, o amigo babaca do Ash desce as escadas, seguido depois pelo protagonista. Lá embaixo eles encontram uma coisas maneiras, como uma carabina, munição para a carabina, um livro de capa esquisita, um gravador e um quarto do poster de The Hills Have Eyes colado na parede. Eles estão decidem pegar o loot e levar pra cima, deixando pra trás só o pedaço do poster. Duro golpe.

Já na sala de estar, a turma toda se junta para escutar a fita. A gravação pertence ao antigo dono da cabana, um arqueólogo que participou de escavações na região da Mesopotâmia (ou algo assim) e lá encontro o tal livro, feito de pele humana e contendo antigos feitiços para invocação e libertação de demônios. A fita rola um pouco pra frente e o encantamento é recitado, despertando os demonho.

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A primeira a rodar é a irmã do Ash, que é possuída após a famosa cena do estRupo na floresta, em que a moça literalmente leva pau. A próxima vítima é a namorada do amigo babaca, depois a namorada do Ash e finalmente o amigo babaca do Ash. A luta é vencida bravamente pelo protagonista após o mesmo, em uma batalha hercúlea, conseguir queimar o maldito livro. O filme se encerra com uma força misteriosa atacando Ash ao amanhecer.

Brincadeiras à parte, esse é um dos meus filmes favoritos de terror, e se hoje ele não me traz nada além de boas lembranças, lá nos meus 12 anos de idade eu me borrava de medo quando assistia essa pérola às onze da noite na Band. Mesmo com os efeitos pra lá de ultrapassados, a película ainda consegue ser divertida, além de graficamente bem violenta, sendo inclusive proibida em alguns países na época do seu lançamento.

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Finalmente, a explicação do porquê de tanta puxação de saco: Sam Raimi. O roteirista e diretor do filme, mesmo não possuindo um orçamento bom ou até mesmo um elenco minimamente decente, conseguiu produzir uma pérola do gênero, abusando do uso de maquiagem convencional, stop motion com muita massinha de modelar e o diferencial para a época: ângulos de câmera bizarros e inusitados que passam para o espectador um pouco da confusão e loucura que deveriam estar transbordando a mente dos personagens. Raimi também desenvolveu (ou aprimorou) a tecnologia de câmera suspensa usada nas cenas de perseguição e na icônica cena final do filme.

Se você se julga fã de filmes de terror simplesmente porque adorou Anabelle e assistiu todos os trezentos Atividade Paranormal mas não conhece essa maravilha, eu tenho uma notícia muito ruim pra te dar…