A possivel salvação da Nickelodeon

Interessante como Bob Esponja foi, e é, uma benção para o merchandising da Nickelodeon, com todos os produtos e coisas relacionadas à venda. Para o setor criativo, foi uma maldição.

Praticamente o primeiro produto depois da era dos Nicktoons (Vida Moderna de Rocko, Ren e Stimpy e muitos outros) quase congelou a produção do canal ao redor da esponja. Houveram outros bons desenhos, mas sempre foram ocasionais, como Avatar ou rapidamente cancelados como El Tigre.

Isso era muito bom.

Esperemos que The Loud House não siga esse caminho.

O desenho gira ao redor dos irmãos Loud, que são dez meninas e um único menino, Lincoln. Ele geralmente, em especial na primeira temporada, o foco ao redor do qual a historia gira, frequentemente falando com a camera.

A estrutura dos episódios costuma ser essa: um dos irmãos geralmente age de forma exagerada ou até babaca com um ou mais dos outros. Eles tem os conflitos e as coisas se esclarecem no fim, quase como uma liçao de moral.

É bem simples, mas surpreendentemente bem executado e passando longe até daqueles didatismos do fim dos episodios do He-man.

A abertura entrega o modo como, repetindo, a primeira temporada progride. Normalmente com Lincoln tentando obter algum silencio, ou privacidade ou mesmo atenção, e a forma como ele tenta fazer isso, ocasionalmente sendo quase escroto, acaba colocando ele em problemas com as irmãs.

Um exemplo. Em um episodio, ele se cansa do barulho constante e compra uns abafadores sonoros, quase invisiveis, plugues de ouvido. Mas para não dar na cara que está ignorando as irmãs, continua respondendo à elas, mas com frases evasivas ou neutras “Sim, ótimo” “Concordo com você”. Elas logo notam e começam a planejar pra sacanea-lo.

E o nome do episodio é “Sound of Silence”

Em outro caso a briga é por que ele tem o costume de ler seus quadrinhos de cueca no sofá, o que as irrita, Ele retruca dizendo que elas fazem suas próprias coisas o tempo todo mas ele não reclama. Então eles apostam quem consegue ficar mais tempo sem fazer nada que gosta. No fim, elas percebem que foram babacas com ele e se acertam.

A animação é muito boa e tem muita personalidade, com um uso de sombras e hachuras que dão a impressão de uma historia em quadrinhos. Originalmente iria ser uma familia de coelhos, mas uma executiva do canal sugeriu ao criador Chris Savino que fossem humanos, o que ele diz ter sido a melhor idéia da sua carreira. Um executivo acertando numa sugestão. Algo que não se vê muito.

Mas as piadas e o modo como os personagens são escritos é que tornam o desenho interessante. À principio, como vemos principalmente o ponto de vista do Lincoln, as meninas tem um traço mais forte de personalidade e pouca coisa mais. Com o tempo elas vão sendo mais exploradas e nós, e o Lincoln, passamos a ver mais sobre elas.

Nenhum deles é escrito com formas absolutas. Lincoln é um guri legal, mas não é incomum ve-lo agir de forma egoista ou rude e as meninas são tratadas da mesma forma.

Contrariando a ilustração, vou apresentar todos descendo a escada da idade. Lori está sempre com um celular e é biologicamente incapaz de ficar sem falar com o namorado por um dia. Leni, bem, não é muito esperta, mas talvez por isso, seja a mais feliz. Luna curte musica alta. Musica de qualquer tipo.

Luan é comediante, mas suas piadas variam de boas ao nivel Fozzie o Urso. Lynn é a esportista e competitiva. Então há Lincoln. Mais novas que ele são: a trevosa Lucy, as gemêas Lola e Lana, a primeira uma tipica princesinha, mas com um lado cruel e a segunda amante da lama e imundicie.

As mais novas são Lisa, geniazinha que faz invençoes tipicas de desenho e Lilly, um bebe. Ela anda e caga.

Os pais de Clyde, o amigo do Lincoln. Na Arabia Saudita um deles recebeu dublagem com voz feminina. Viva a tolerancia.

E fica um aviso, há uma quantidade saudável de piadas relacionadas e diversos fluidos corporais e demais excrescências. Mas felizmente não é nisso que o show se apoia. Há também muitas, muitas, referencias (como Lincoln ter um boneco do Mazinger ZEEEETTTOOOO!!!!) e piadas que com certeza as crianças não vão entender, como uma paródia da cena do coelho cozido em Atração Fatal.

Ou vão pescar uma referencia de Patch Adams?

É um show bem do tipo “autoral”, criação do veterano Chris Savino e inspirado em suas próprias experiencias em crescer em uma familia grande e ele dirige todos, ou quase todos os episódios. São duas temporadas de 26 episódios, ou serão, já aparentemente haverá um hiato na segunda temporada.

Mas considerando que:

1 –  O show ultrapassou a audiencia do Bob Esponja, o que já é um feito e

2 – Não é feito pelo Miura ou pelo Togashi, esse hiato deve ser curto.

Não é um puta desenho, como Apenas um Show ou Gumball, mas definitivamente é bom, e vai melhorando, de forma que dar uma procurada não é perda de tempo.

A Comediante. O fanart desse desenho varia do genial para o “é melhor voltar para onde eu vim”