The God of High School (o anime)

Ou “Quéquitacontecenoquêciroteiro???”

Se o cinema coreano brinda o mundo com verdadeiras perolas, como Old Boy, A Man Who Was Superman, Parasita, Train to Busan (continuo ME RECUSANDO TERMINANTEMENTE a chamar pela BOSTA de título nacional, que é “Invasão Zumbi”) e tantos outros, o mesmo não pode ser dito de seus quadrinhos, os chamados Manhwa. Tive contato com poucos, alguns foram lançados no Brasil, alguns até viraram filme em Hollywood, como é o caso de Priest, que ganhou uma versão estrelada pelo Paul Bettany que CAGOU pra trama original e transformou a luta de templários contra demônios em uma disputa de super-padres contra vampiros no velho oeste. Mas uma coisa a maioria deles tinha em comum: Suas histórias começavam de um jeito e, lá pela metade, a coisa dava um giro e virava algo completamente diferente! E não falo isso de uma forma positiva! Um ótimo exemplo de péssimo exemplo é, talvez, o manhwa que alcançou maior fama no Brasil que foi Chonchu: O Guerreiro Maldito, que dá uma girada tão brusca na sua trama que a impressão que se tinha é que os autores já não sabiam que história contar. E a suspeita só ganha força quando descobrimos que os autores pararam a publicação na Coreia em 2004, em sua 15ª e…FODA-SE! Nunca mais voltaram pra terminar esse troço que tava indo pra caminhos MUITO estranhos!

Inclusive a capa da 15ª edição tinha um ar de despedida, acho que era um prenuncio da sua morte prematura…

E esse caso de “história que começa de um jeito e depois muda do nada” também se aplica a The God of High School, um manhwa lançado em 2011 diretamente pra internet, formato aparentemente muito popular na coreia, e que até hoje conta com 482 capítulos publicados no site Webtoon. Um dia, o serviço de streaming especializado em animes, Crunchyroll, chegou na Webtoon e disse “Ei…psiu…ei…e se a gente se juntasse e produzisse um anime original baseado nesse manhwa aí, hein?” ao que a Webtoon respondeu “Só vamo!” e assim, em julho de 2020, chegava a Crunchyroll sua primeira produção original.

A sinopse básica é a seguinte: Anualmente acontece um torneio de artes marciais chamado The God of High School, onde estudantes colegiais de toda a Coreia do Sul são convidados a participar e testar suas habilidades. O vencedor passa para a edição mundial e, caso vença, terá o pedido que quiser realizado pela empresa responsável por organizar a quizumba toda. E é nesse cenário que acompanhamos o jovem Jin Mori, um estudante que mora só e nunca explicam como ele paga as contas da casa ou compra comida, já que não trabalha. Seu avó é uma lenda das artes marciais e está desaparecido há algum tempo. Com o tempo se juntam a ele o caladão mas gente boa Han Dawei e a jovem espadachim Yoo Mira. Bem, guardem essa sinopse básica que eu vou voltar a ela daqui a pouco…

The God of High School é um anime muitíssimo bem produzido! Sua animação é dinâmica, suas cores são bonitas, o character design, apesar de não apresentar nada de novo e muitos personagens parecem cópias de outros ( o Han Dawei é a cara de TROCENTOS personagens com o mesmo jeitão dele em um porrilhão de mangás Shoujo e alguns Sonens também), é agradável. Tecnicamente não há do que se reclamar. Talvez só do fato de que as artes marciais apresentadas no anime não parecem EM NADA com o que deveriam ser!

https://www.youtube.com/watch?v=heJgMo9btX8

Um ponto positivo é que as lutas são corridas em sua maioria, e não temos aqueles momentos de pausa onde o personagem fica explicando como o golpe funciona, que órgãos vai afetar e como ele aprendeu a executá-lo. Em compensação, não existe muita coreografia, são apenas super-chutes e super-socos dados a esmo ao melhor estilo Dragon Ball Z. E aí entra o problema dos estilos usados pelos personagens não parecerem em nada com o que eles dizem praticar. Jin Moori, nosso protagonista, usa o Tae Kwon Do, mas tudo que ele faz é dar uns chutes aleatórios no ar… e é isso! não existe a aplicação de uma técnica ali, não existe uma postura que remeta minimamente ao Tae Kwon Do, não existe sequer uma guarda que lembre a arte marcial! No caso de Han Daewi, ele luta Karatê, que usa muitos socos e chutes. Mas ele também não mostra nenhuma postura de nenhum estilo de karatê existente além de SÓ USAR SOCOS, o que faz parecer que o personagem é um praticante de boxe! Já a Yoo Mira…bem…uma hora ela perde a espada e, basicamente…ela se transforma no Shura de Cavaleiros do Zodíaco! Mas o PIOR caso é o do personagem cujo o nome eu não lembro, pois ele aparece só pra apanhar por uns 40 segundos e some, que é anunciado como lutador de Brazilian Jiu-Jitsu mas, quando vai lutar…o sujeito me larga golpes de capoeira! O ÚNICO PERSONAGEM QUE MOSTROU TÉCNICAS RECONHECÍVEIS DE UM ESTILO DE ARTE MARCIAL E O ANIME ME TROCA O NOME DO ESTILO! E se você nesse momento está dizendo/pensando “Ain, mas capoeira nem é uma arte marcial, é uma dança e bibibi, bóbóbó…” meus mais sinceros FODA-SE!

Se tem duas coisas com as quais eu sou cricri com relação a anime são a qualidade da animação (já abandonei muito anime por ter uma qualidade bosta) e o fato de que se o tema for artes marciais…ME MOSTRE ARTES MARCIAIS! Me mostre técnicas conhecidas, ou próximas das reais mesmo que exageradas! E, como eu já disse, The God of High School não se preocupa muito com isso, e foi justamente por isso que o Kassius me alertou para o risco de eu possivelmente detestar o anime. Mas, para surpresa dele e MINHA também…eu gostei! A falta de técnica não me incomodou porque ela foi compensada com velocidade, já que as lutas não se arrastavam por 2 ou 3 episódios, na verdade alguns episódios tem até 3 lutas, muito disso graças ao fato do anime ter só 13 episódios pra se desenvolver, e também foi compensada com o velho clichê dos torneios onde todo mundo tem um draminha pessoal que é a razão pra participar e…eu ADORO essa breguice! Só que é no meio do torneio que o maior problema dessa quizumba entra: O ROTEIRO!

Inicialmente eu achei que The God of High School seria um Tenjou Tenge (Tenjho Tenge…Tenjo Tenge…ninguém parece se decidir como essa porra se escreve) consertado! “Mas por que ‘consertado’, Tio Hellbolha?” você pode me questionar, pequena criança. E a resposta é muito simples! Quando fui introduzido ao anime de Tenjou Tenge assisti os dois primeiros episódios animadíssimo, pois apesar da apelação (sério, eu DETESTO animes onde as meninas tem proporções exageradas e tudo é desculpa pra mostrar elas nuas, semi-nuas ou em posições apelativas mesmo vestidas. Ou seja…90% dos animes shonen!), a série tinha dois protagonistas casca grossa que apanhavam pra um suposto “zé ruela” e descobriam que eram dois bostas pois havia gente mais forte que eles, e a luta no segundo episódio onde isso fica provado é uma das melhores que já vi em um anime de artes marciais!

Só que do terceiro episódio em diante o anime IGNORA os protagonistas que estabeleceu nos dois primeiros episódios e se foca no passado de uma das coadjuvantes e seu relacionamento com o suposto vilão da trama e troca toda a ótima animação da luta vista no episódio 2 por frames estáticos passando nas tela 3 vezes pra dar a ilusão de poderosos golpes. Eu dropei na hora e não me arrependo pois vi que os protagonistas só voltam nos episódios finais e a história termina de maneira brusca só continuando em um OVA onde o protagonista revela ter um poder tirado do rabo que você só entende se tiver lido o mangá.

E The God of High School meio que segue esse caminho da “correção”, mantendo os protagonistas como protagonistas, levando eles pra o torneio como tem que ser, enfrentando seus adversários como tem que fazer…até que no meio da trama começa uma paralela que atropela TUDO! A corporação que financia o torneio é comandada por personagens clichê que usam terno, andam com as mãos nos bolsos, fazem cara de quem peida cheiroso e são absurdamente poderosos MAS QUE TEM UM TIPO DE STAND NO MELHOR ESTILO JOJO’S BIZARRE ADVENTURE!

Depois eles começam a usar esses stands como a galera de Shaman King usava seus espíritos, ou seja, incorporando suas habilidades! Depois essa corporação, que é apresentada como a verdadeira vilã da história, se revela como o time dos mocinhos que enfrentam OUTRA CORPORAÇÃO que quer trazer o fim do mundo a troco de…nada. E, finalmente, temos os competidores do torneio revelando que também tem esses stands/espiritos antigos e os protagonistas acabam descobrindo que também tem essa porra e tudo fica parecendo uma grande gripe de superpoderes!

Quando essa Durga gigante apareceu descendo dos céus, eu juro que esperei aparecer um Eva pra lutar contra ele enquanto seu piloto adolescente gritava em desespero.

A partir do episódio 6 a série para de ser sobre um campeonato de artes marciais e se torna um rip-off safado de todo anime shonen que existe! Por exemplo, você consegue reconhecer traços de Naruto, Bleach e Dragon Ball Z na coisa toda, com o agravante de que o “poderzinho” do Jin Moori é…ENCORPORAR O GOKU! Não, não o personagem do Akira Toriyama, mas sim o da lenda chinesa que serviu de inspiração pra ele. Una-se a esse cabaré do caralho que transforma um campeonato de artes marciais entre estudantes em uma batalha apocaliptica pelo destino do mundo a enredos que não se sustentam, plots esquecidos, plots ignorados, personagens que são apresentados como se fossem ter importância fundamental pra trama mas se revelando sem importância NENHUMA, personagens aparecendo DO NADA e tendo importância fundamental pra trama, personalidades mudadas sem motivo ou aviso prévio e…voilá! Mais uma obra coreana que começa de um jeito e se perde totalmente da metade pra frente!

Jin Mori em sua “forma Goku”
Ah, sim, a raposa de 9 caudas também aparece.

Após assistir o anime dei uma olhada por cima no manhwa original e vi que muita coisa foi resumida, cortada ou jogada pra outro momento da trama. O manhwa parece oferecer explicações melhores pra muitas coisas, mas isso não muda o fato de que essa mudança brusca na trama vem de lá! O problema se mantém nas duas mídias! E aí eu já não tenho como defender nenhuma.

The God of High School é um anime que merece crédito pela qualidade técnica mas que peca enormemente pela trama rocambolesca ao invés de optar por algo mais simples que poderia render uma série mais agradável. Talvez haja uma segunda temporada e talvez eu veja, mas não é algo que eu vá recomendar pra ninguém em um primeiro momento. Existem animes de porradaria com histórias melhores dentro da proposta do clichezão de campeonato de porradaria, como Kengan Ashura e Baki. Eu não gostei dos rumos que o anime tomou da metade em diante, mas se você gosta de lutas com super-poderes, talvez goste e talvez enxergue a mudança do tom da trama como uma escalada. Eu só enxerguei como bagunça mesmo. No mais…

Nota: 6,0 (mais pelos 6 primeiros episódios mesmo)