Street Fighter Alpha: Aquele divertido mangá ruim…
Ou “Por que nunca acertam nas adaptações de Street Fighter Alpha?”.
É fato notório que o jogo Street Fighter II, o mais famoso da série, recebeu algumas das piores adaptações na forma da série animada americana e do filme NOJENTO estrelado pelo Van Damme e que acabou matando Raúl Juliá (ator no qual Robert Downey Jr. está se transformando gradativamente). Mas, em contraponto, recebeu algumas das MELHORES adaptações que um jogo de luta poderia receber na forma do MARAVILHINDO longa animado Street Fighter II : O Filme e da inesquecível série Street Fighter II Victory, não só uma das melhores adaptações seriadas de um jogo (quiçá A MELHOR) mas um dos melhores animes de porradaria franca já produzidos, com coreografias de luta sensacionais, animação de qualidade (tirando os episódios da luta do Ken contra o Fei Long e do Ryu contra o Sagat que são HORRIVELMENTE mal animados) e com uma trilha sonora chiclete. Quem aqui não lembra o tema do Hadouken? Ou o tema de tensão e suspense da luta entre Ken e Vega? Tem até um filmeco de porradaria baiano chamado “A Vingança da Morte” que se utilizou descaradamente da trilha de Street Fighter II Victory. Está no Youtube, procurem por sua conta e risco.
Em contraponto, se Street Fighter II ganhou boas adaptações animadas no Japão, o mesmo não pode ser dito de Street Fighter Alpha (ou Zero, se preferir), o qual amargou um OVA em 1999 que tinha um character design bacanudo e fiel ao jogo, uma animação de encher os olhos…mas uma história avulsa e lixosa que nem se esforçava em seguir a trama do jogo! O OVA, ao invés de se focar no embate entre Ryu e Akuma, irmão e assassino de seu mestre, resolve se focar numa trama original bostolenta sobre um suposto irmão mais novo do Ryu chamado Shun que diz ser brasileiro (sim, Shun é um nome muito comum em terras tupiniquins…) e demonstra uma habilidade fora do comum nas artes marciais. O vilão final da história é a porcaria de um cientista que controla um androide e tudo acaba parecendo mais uma cópia descarada de Dragon Ball Z do que uma adaptação de Street Fighter. Esse OVA me causa desgosto até hoje. Para minha alegria, em 2005 foi lançado Street Fighter Alpha: Generations, um OVA de 40 minutos que também não seguia ao pé da letra a história dos jogos mas também não a estuprava, como o OVA anterior. Ele se focava mais na relação entre Ryu e Akuma e era mais coeso com o universo de Street Fighter, servindo inclusive de inspiração para a melhor adaptação em live action da franquia, a websérie Street Fighter: Assassin’s Fist de 2014 e que, inclusive, foi lançado em formato de longa metragem de forma oficial no Brasil.
Já no campo dos mangás, Street Fighter II ganhou uma adaptação fraquinha, porém divertida, em 1992. Escrito e desenhado por Masaomi Kanzaki, a história também toma certas liberdades já que tinha apenas o jogo e sua história básica como fio condutor, e você pode saber mais sobre ele clicando AQUI! Isso sem falar nas adaptações não muito oficiais feitas na Coreia e na cretiníssima versão brazuca da Editora Escala (mais informações sobre essas HQs também no link acima). Mas foi em 1995, enquanto o jogo estava em alta, que Street Fighter Alpha ganhou sua versão em mangá pelas mãos de Masahiko Nakahira. A vantagem de Nakahira sobre Masaomi Kazanki era o fato de que Street Fighter Alpha tinha uma trama melhor trabalhada que Street Fighter II. Mas, adivinhem…Nakahira resolveu não segui-la a risca! O resultado? Um mangá ruim…mas divertido!
A trama é bem meia-boca e cheia de absurdos.Tudo começa com Ryu, que abandonou o caminho do guerreiro após derrotar Sagat com a ajuda do Satsui no Hadou, o “lado negro” das artes marciais, que tomou seu corpo quando este estava por ser derrotado pelo tailândes gigante. Com isso, Sagat ganhou uma enorme cicatriz no peito e Ryu uma enorme cicatriz na consciência. Para se punir, Ryu decide virar…um GUARDA COSTAS DE TRAFICANTES DE DROGAS! Sim, isso não faz o menor sentido! Durante um de seus “serviços”, o barco que Ryu protegia ao lado do grandallhão Birdie é interceptado pela Interpol sob o comando da jovem Chun-li. Durante o embate, Ryu salva Birdie de ser baleado tomando as balas no próprio peito. Como resultado, Ryu não apenas não vem a falecer como despertar o Satsui no Hadou novamente e inicia uma destruição que mais parece ter saído de um capítulo de Dragon Ball Z (sim, as adaptações de Street Fighter Alpha parecem sofrer desse mal constantemente). São 10 Hadoukens seguidos sendo disparados sem dificuldade nenhuma, tal qual o famoso Street Fighter de rodoviária, e a destruição quase total de um navio inteiro pelas mãos de um enlouquecido e imparável Ryu.
Após quase matar toda uma equipe da Swat e da Interpol, Ryu consegue ser detido por Chun-li com a ajuda de Birdie e, após prendê-lo…decide que seria uma ótima ideia usá-lo para se infiltrar no torneio perpetrado pela misteriosa organização chamada Shadaloo! Sim, a cadeia não é uma opção porque a lógica não se aplica a esse mangá, lembra? Então Ryu e Chun-li partem em busca dos torneios clandestinos que levem até a Shadaloo. No caminho, Ryu conhece a misteriosa Rose que avisa a Ryu que o Satsui no Hadou pode ser sua ruína ou a salvação do mundo, além de dizer que ele precisa encontrar dois homens de vermelho. Um deles Ryu sabe exatamente quem é, bem como nós. Após reencontrar seu velho amigo Ken Masters, Ryu lhe conta sobre o Satsui no Hadou e como o uso do Shoryuken pode…sabe-se lá por que…despertá-lo. Sim,esse lance do Shoryuken não faz o menor sentido e, coincidentemente ou não, Masaomi Kazanki também atribuiu problemas ao uso do golpe em seu mangá de Street Fighter II. Sei lá qual é o problema dessa galera com um golpe tão secundário, no caso do Ryu… antes tivesse a ver com o Hadouken…
Enfim, o pau come solto na casa de noca entre Ryu e Ken em um duelo de …Shoryukens! Sim, Ken queria provar que usar o golpe não era o gatilho para o Satsui no Hadou e, após horas de sopapos, consegue. Moídos feito arroz de terceira, é hora de Ryu, Ken e Chun-li partirem em direção ao quartel general da Shadaloo. Lá chegando, são recebidos por um Vega sem garras ou máscara mas trabalhando como anfitrião maluco do torneio mortal. E enquanto Chun-li se mete na luta entre Sodom e Killer Bee (uma Cammy ainda sem nome e sem memória), Ryu começa a quebrar o pau contra Adom, ex-aluno de Sagat que quer vingança contra Ryu não por este ter derrotado seu mestre, mas por ter desmoralizado o nome do Muay Thai mundialmente. Durante o combate, Adom dá uma trapaceada ameaçando a vida de Ken e Chun-li e isso faz com que Ryu desperte o Satui no Hadou e comece a destruir a bodega toda, incluindo uma das pernas de Adom. É quando surge o outro homem de vermelho que Rose citou. Trata-se de Guy, o ninja que usa Nike. Guy, aqui, é retratado quase como um super-herói, sempre aparecendo de forma dramática e sendo o único capaz de enfrentar o Ryu com o Satsui no Hadou desperto sem a menor dificuldade. Ele traz Ryu a razão enquanto que Bison aparece para Ken e leva Killer Bee embora em silêncio.
Após essa quizumba toda, Ken decide ir atrás do homem que matou seu mestre e o encontra. Mas Akuma só dá um aviso a Ken dizendo para que ele espalhe a noticia de que estará esperando os desafiantes que quiserem enfrentá-lo no monte Gouken. E some da história para nunca mais ser mencionado. Aí começa a correria do mangá, com Bison pairando sobre Shinjuku com sua fortaleza voadora e destruindo metade da cidade. O sujeito quer se agarrar no tapa com Ryu mas Rose entra no meio e trava uma batalha de poderes paranormais com o queixo de bunda do mal. Enquanto isso, Chun-li e Nash invadem a fortaleza voadora afim de deter a porra toda e, de brinde, para que Chun-li verifique se seu pai está a bordo, já que sumiu enquanto investigava Bison.
Rose é derrotada e Bison explode um prédio na cabeça do Ryu…que apenas desmaia! Ele é encontrado por Sakura, que a essa altura ainda nem sabia quem o Ryu era mas já tinha um gosto por lutas. Bison começa a atacar o desacordado Ryu e é atacado por Sakura. Bison dá uma coça na menina e Ryu desperta bem no momento em que ela ia virar patê. Ele o salva e começa o combate final com Bison. Quando parecia que Ryu despertaria o Satsui no Hadou, ele finalmente percebe que o controlou e já não existe ódio em seu coração. Ele derrota Bison com o poder do amor em forma de um Tatsumaki Senpukyaku que não apenas põe o vilão fora de jogo como destrói meio arranha-céu no processo. A nave de Bison explode mas a explosão é contida por Rose e tudo acaba bem! Tirando a parte que metade de Shinjuku foi pro saco, claro…
E esse é o resumão dos dois volumes do mangá lançados no Brasil pela New Pop anos atrás. Sempre tive vontade de lê-los e finalmente o fiz. Sempre ouvia ou lia reviews dizendo que a história era ok pra um mangá de luta e que tinha um final muito corrido. Olha, honestamente o roteiro não é bem “ok”…ele é entupido de absurdos e coisas sem nexo, como fui citando no resumo não muito resumido acima. As lutas são bacanas em alguns momentos mas extremamente exageradas em outros, como a primeira luta no navio e a ultima contra o Bison, onde Street Fighter Alpha abandona a proposta de “lutadores de rua” e adota o “sáporra é Dragon Ball Z agora”, e isso é bem incomodo e totalmente destoante do que se espera de algo relacionado a série. Se o Ryu dispara um Hadouken, eu espero que ele leve alguns minutos pra disparar outro, já que a lógica do Hadouken é a de que ele é o chi, a energia espiritual, canalizada através das mãos e sendo disparada como um projétil. Assim sendo, se eu disparo uma grande quantidade de chi, logo eu preciso recarregar ou vou cair sem forças, certo? Isso é mostrado em Street Fighter II V na dificuldade em que o Ryu tem para aprender a lançar um único Hadouken e em Street Fighter II: O Filme quando é mostrado que o Ryu precisa concentrar a energia nas mãos antes de lançar o golpe e, por isso, não se apoia no uso do golpe para vencer combates e, sim, nas suas habilidades com o karatê shotokan.
Quanto aos desenhos de Masahiko Nakahira, eles são muito bons, principalmente levando em consideração que é um mangá do anos 90 e parece ter sido feito recentemente, já quele não apela pra muitos dos exageros comuns da época! Seu traço segue de perto o visual do jogo mas tem um estilo próprio. Sua porradaria é bacana e até mesmo os exageros supracitados tem um visual legal. No entanto, alguns quadrinhos acabam ficando um pouco confusos quando ele resolve retratar um personagem dando mútiplos golpes em um único quadro, pois desenha muitas “explosões” entre os dois personagens e você acaba não entendendo muito bem o que aconteceu. Mas isso acontece pouquíssimas vezes.
O mangá é um exagero e tem muitos momentos absurdos…mas em nenhuma momento me incomodou tanto quanto o OVA de 1999 me incomoda até hoje, pois tem a vantagem de, apesar dos pesares, seguir a premissa básica do jogo e não inventar vilões genéricos idiotas como o supracitado OVA. Eu, particularmente, não gosto do plot do Satsui no Hadou, creio que justamente por ele ser a força motriz por trás do OVA e isso me deixou completamente cismado com ele. Mas se é pra focar nisso, preferiria que a história se centrasse no desafio de Akuma e deixasse o Bison como um sub-chefe a ser explorado muito mais adiante, tal qual foi feito em Street Fighter Alpha Generations e Assassin’s Fist. Masahiko Nakahira preferiu deixar isso para o mangá Street Fighter III: Final Ryu que sairia anos mais tarde e tem um final que eu, particularmente, acho que se encaixa na lista de absurdos que SF Alpha contém.
Enfim, é um mangá que não esperava muito e, por isso, acabou me divertindo. Não, eu não recomendo pagar o preço de capa (R$19,90), mas se encontrar em uma promoção (os meus custaram uns R$8,00 cada) e gostar de Street Fighter, aí sim, eu aconselho a pegar. Não é a melhor coisa já produzida com o nome da franquia mas fica longe de ser a pior, cargo ainda ocupado pelo OVA de 1999, na minha fecal opinião (sim, não conto o filme do Van Damme e a animação americana de 1995 por que são hor concours).
Nota: 6,5