Solaris

Transitando entre a loucura e a bad vibe.

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A descoberta de vida fora da Terra não significou contato com a mesma. Solaris é um planeta banhado por dois sóis, um vermelho e um azul, praticamente não existe noite além de um curto período de aproximadamente dez minutos. Quase que a totalidade da superfície do planeta é coberta por um oceano gelatinoso e não apenas vivo, mas dotado de uma inteligência ímpar. Apesar disso, as inúmeras expedições para tentar contato com tal inteligência foram infrutíferas, como se o  grande mostro simplesmente ignorasse a presença dos mínimos seres.

Durante anos (décadas) um incontável número de pesquisadores, cientistas de campo e especulativos das mais variadas áreas fundamentaram o que pode ser chamado de solarismo. Apesar do oceano não se comunicar coma espécie humana, ele e os seus fenômenos ainda é passível de estudo, como por exemplo as imensas formações que se assemelham a cidades ou a conglomerados de cristais do tamanho de cidades que emergem das profundezas em questão de horas e acabam desaparecendo tão rápido quanto surgem.

Kris Kelvin é um psicólogo especializado no planeta que viaja até  o mesmo para a analisar o comportamento do oceano. Ao  chegar na estação de pesquisas, porém, o jovem encontra uma situação bem diferente do que esperava. Dos três cientistas que deveriam recebê-lo, só restaram dois e ainda assim o s mesmos se encontram em um estado tal de perturbação capaz de deixar Kelvin atônito. O terceiro cientista e seu antigo professor e amigo, Gibarian, foi encontrado morto em seu quarto aparentemente após ter se matado.

O mais amigável dos dois cientistas restantes é Snaut, que frequentemente se encontra embriagado e em um estado de desleixo que demonstra que o mesmo simplesmente está abandonando a sanidade. Snaut explica a Kelvin que de algumas semana até aquele momento, os pesquisadores  presentes na estação tem recebido visitas dos que ele convencionou a chamar de hóspedes. Os hóspedes chegam geralmente após Um período de sono, são intimamente ligados às pessoas que deram origem a ponto de não conseguirem se afastar dos mesmos. A jornada de Kelvin agora se divide entre tentar compreender o oceano de Solaris e compreender a si mesmo.

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Solaris ganhou duas adaptações cinematográficas, sendo a de 1972 dirigida pelo russo Andrei Tarkovski ganhadora do Gran Prix em Cannes, além de ter sido indicada à Palma de Ouro no mesmo ano. A segunda é uma adaptação estadunidense de 2002 estrela do George Clooney e dirigida por Steven Soderbergh. Não conheço nenhuma das duas, mas a vergonha recai em meus  ombro apenas em relação à primeira. Acabei comprando o livro por estar em promoção e por menções e mais menções internet afora sobre a qualidade do mesmo. Ainda bem que comprei.

O livro inicia tenso e já prende a atenção do leitor nas primeiras páginas, inicialmente galgado em um suspense. A medida que algumas respostas  começam a ser respondidas e dão lugar a outras dúvidas e começa o drama, o livro começa a possuir um peso e melancolia que só vi igual em O Fim Da Infância, de Arthur C Clarke. A tragédia se anuncia no começo do filme, mas você continua lendo com a esperança de que as coisas no final se resolvam de uma maneira feliz, se enganando até o último minuto.

Stanislaw Lem, o autor do livro, optou por uma narrativa linear com alguns momentos extensos de flashback e outros contemplativos, mas em momento algum se tornando maçante. As descrições de eventos passados, assim como fenômenos geológicos de Solaris são lisérgicos e descritivos na dose certa para deixar a sua cabeça preencher as lacunas sem esforço. Mesmo com alguns momentos que pesam em linguagem técnica e a já citada lisergia, o clima predominante no livro é de melancolia. Tanto Kelvin quanto os demais personagens do livro aparentam sofrer de uma culpa sufocante.

O tratamento editorial da publicação é padrão Aleph. Capa dura com uma arte maravilhosa e bordas das páginas em amarelo vivo, o tipo de edição que consegue uns minutos da sua atenção sem esforço. O interior também é bem trabalhado, em termos de arte, mas não possui extra algum, nada de prefácio ou posfácio, apenas o texto do livro e alguns poucas linhas sobre o autor ao final. Não que os extras façam alguma falta, mas é que a editora tem deixado este que vos escreve meio mal costumado com esses agrados.

O preço de lançamento do livro é de 59 reais, sendo vendido no momento que o post está sendo escrito por 39,90. É um livro ótimo, uma clássico da ficção científica mas esse preço inchado por conta do tratamento gráfico deixa a aquisição do  mesmo um pouco desanimadora, então recomendo apenas aos amantes de ficção científica, ou aos iniciantes sem tanta dó do seu dinheiro.

Godoka
15/08/2017