Shimoneta, Dead or Alive e essas coisas.
Está cada vez pior.
Não é de hoje que se trava uma batalha entre as pessoas que produzem conteudos, desde filmes, games, quadrinhos, música e as que defendem…. bem…. qualquer coisa.
As mais recentes baixas foram do lados dos games, a mais nova sequência da série Dead or Alive Extreme Volleyball e o vindouro Street Fighter V.
Os jogos não foram cancelados, mas sofreram estranhos destinos, só possíveis graças aos estranhos tempos que vivemos.
Rainbow Mika surgiu em Street Fighter Alpha 3 e tem aparecido aqui e ali na franquia. Ela é uma lutadora de wrestling e uma de suas marcas registradas são os golpes que aplica com o pandeirão.
No trailer de sua apresentação para SFV, ela aplica um golpe que dispara uma animação. Ao final da animação, ela dá um tapa na própria bunda, um tipo de provocação. E então recentemente recebemos a notícia de que, na versão ocidental do jogo a câmera é colocada um pouco pra cima.
https://www.youtube.com/watch?v=B1NrENvIvPo
O mesmo aconteceu com um golpe da Cammy.
A Capcom alegou que a mudança foi porque “queremos começar do zero….” ” não queremos ter algo no jogo que faça as pessoas pensarem “Isso não é aceitável”.”
É interessante notar que não houve gritaria quando a Capcom revelou uma nova skin para Ryu. Sem camisa e com uma barba fistaile, passou a ser apelidado de “Hot Ryu”. Porque será que ninguém reclamou que estão objetificando o cara?
Então temos o Dead or Alive Extreme Volleyball 3. Aqui a sutileza vai pro vinagre. Existe um fiapo de história e quem jogou me disse que a parte do vôlei é realmente bem-feita. Mas não é pra ser um jogo de vôlei que esse game existe. É para ver as personagens usando biquinis cada vez menores.
Dead or Alive em geral e Extreme Volleyball em particular sempre receberam críticas por essa abordagem. E estão bem corretas no sentido em que dizem que Extreme Volleyball é basicamente uma ferramenta avançada de masturbação. A série de luta pelo menos tem uma jogabilidade sólida.
Mas então a Tecmo anunciou que não irá lançar Extreme Volleyball 3 no ocidente. E ao contrário da Capcom, deu nome aos bois. Não quer ouvir gritaria dos SJW. O site de importação PlayAsia até mesmo falou abertamente.
Social Justice Warriors. Os Guerreiros da Justiça Social. As pessoas que estão atentas à discriminação, racismo, misoginia, objetificação, calzone e essas coisas, e usam principalmente as mídias sociais para denunciar e protestar.
É um objetivo nobre, o problema é que todos que não concordam ou se colocam como neutros nessas discussões são vistos como adversários, a receberem a pecha de misóginos, algofóbicos ou coisas do tipo. É estranho que movimentos que pregam a igualdade e diversidade só permitam uma visão de mundo.
E uma das formas de partilhar essa visão é, curiosamente, usar de pressão e intimidação. Justamente uma das coisas que esses movimentos, aparentemente, combatem.
A coisa chegou num ponto onde houve declarações dos criadores de games sobre o porque das personagens parecerem de tal e tal jeito. Claro, tais desculpas são pra lá de furadas.
Hideo Kojima lançou aquele H de que a Quiet (de Metal Gear Solid 5) usa pouca roupa porque respira pela pele. Frank O´Connor disse que a Cortana (o programa assistente do Master Chief em Halo) parece uma mulher com o corpo pintado para atrair atenção. O que torna a resposta de George Kamitami, de Dragon´s Crown ainda mais épica e sensacional.
Perguntado por SJWs do porque a personagem Witch tinha aquela aparência, ele apenas respondeu: “Porque eu gosto de peitões.”
Como lutar contra tal sinceridade?
Um fato estranho é justamente o fenômeno que acabou criando o anime Shimoneta este ano e Daimidaler no ano passado. Os dois são críticas, não muito sutis, ao avanço das leis moralistas no Japão.
Em Shimoneta, o país virou um tipo de estado policial, todos os cidadãos são obrigados a usar uma pulseira e uma gargantilha que os monitoram. Quaisquer palavras indecentes podem mandá-los pra cadeia. O negócio ficou tão grave que alunos do colegial não tem a mais vaga noção de como a reprodução funciona. É contra esse estado de coisas que os personagens lutam.
Então ficam dois estados de coisas. Na América, os SJW criam barulho o bastante para inibir os criadores e no outro lado do Atlântico, o governo acaba sendo o guardião da moralidade.
É interessante pensar que, nos EUA é preciso que esse tipo de ação venha dos movimentos sociais, pois, desde um bom tempo atrás, eles ficam meio receosos de impor restrições governamentais, pelo menos muito abertamente. Para evitar uma intervenção do governo, algumas associações não governamentais foram criadas, para se auto regularem.
Mas isso não torna essas ferramentas civis de regulamentação menos perigosas. Na verdade, parece acontecer o contrário. A organização que regula a classificação etária de filmes, os famosos PGs, é ultrassecreta e muito poderosa. E em mais de uma ocasião, fudeu com filmes e produtores. Eles podem escolher a classificação de forma bastante arbitrária e quase aleatória.
O problema é que, aparentemente, nada, nunca, vai ser o suficiente pra esse pessoal. Podemos citar o exemplo de Linkle. Ela é uma simpática versão feminina de outra dimensão do Link, de Hyrule Warriors. Sim, o Dinasty Warriors de Zelda.
E mesmo depois de tanto tempo dizendo que “Deveria haver uma personagem feminina forte em Legend of Zelda”, as feministas odiaram Linkle. Por que? Entre outras razões, porque ela não está estrelando um jogo da série principal.
Tudo tem o potencial de ofender alguém. Tudo. Melhor dizendo, sempre vai exister alguém que se ofenda com alguma coisa.
Se for dada atenção para todo mundo que se ofende com alguma coisa, nada mais será feito.