Robocop – por Zweist
Nós temos o futuro sob controle.
A historia você já sabe ou desconfia. O policial Alex Murphy se fode aí e é transformado pela empresa OCP em um ser meio homem, meio máquina, um tira total! Ele começa a combater o crime em Detroit, vai atrás de quem o “matou” isso leva até a OCP e fim.
Sabemos que é muito mais que isso, então vamos lá nos aprofundar um pouco.
Boa parte do filme se passa na OCP, que aparece como uma empresa competente desta vez, não dona da cidade, mas extremamente rica e influente. Chefiada por Steve Jobs Raymond Sellars (Michael Keaton), ela vende seus drones de combate para todo mundo e em muitos lugares eles atuam como forças policiais. MAS nos EUA eles são proibidos de vender, pois há uma lei, apoiada pelo público americano que não quer que o poder de policiar as cidades seja entregue a uma máquina. então a OCP busca contornar a lei, apresentando um policial que é meio máquina para mudar a opiniao pública e derrubar a lei. Para isso eles contam com três fatores. O apresentador de TV Pat Novak (Samuel L. Jackson) um tipo de Datena, cujo programa apoia tudo que a OCP propõe; sua divisão de próteses chefiada pelo cientista Dennett Norton (Gary Oldman) e Alex Murphy, um policial que acaba do lado errado de uma explosão.
Não procure o mesmo filme. Sério. E ele nem se propôs a ser. Ao contrário do ridículo remake de Vingador do Futuro (também de Verhoeven), o filme de Padilha não é realmente uma refilmagem. Certamente tem elementos do original, mas o cerne é completamente novo. A crítica social está presente, mas não é a mesma de antes, ou pelo menos mudou para se adaptar aos nossos tempos. E Padilha não podia deixar de cutucar a policia um pouco.
A hiperviolência por exemplo, dançou, e há uma excelente razão para isso. Houve gente mimizando que o Robocop quase não mata ninguém, que estava tudo bem mostrar um monte de iranianos mortos mas não pode mostrar americanos mortos, por isso o Robocop atira neles uns projéteis que tem o efeito de disparos de taser. E a razão para isso é simples e clara no filme. O Robocop, como projeto da OCP é um PRODUTO que depende da opinião pública. O mesmo público que não quer suas ruas guardadas por máquinas não aceitaria um banho de sangue como o que o Robocop original daria. “Fascista!!” começariam a gritar. Agora, se um monte de “árabes” está sendo explodido por munição de alto calibre, bem, foda-se, pensa o grosso da população.
O destaque dado a família de Murphy também foi importante. É um dos furos do original. O cara é pulverizado nas balas e parte de seu corpo é utilizado para criar o Robocop. Certo. E a mulher do cara? Recebeu um caixão lacrado para enterrar e fica por isso? Disseram pra ela que isso acontece na policia e ela ficou de boas? No segundo filme até tentam dar uma explicação para isso, mas o remendo fica ainda pior. O fato é que Verhoeven estava focando no Robocop em si, na ação, pensar no que aconteceu com a família do cara seria uma preocupação a mais para ele. E de boas, Verhoeven nunca deu muita importância para os relacionamentos humanos em seus filmes. No filme de Padilha, a situação da esposa e filho de Murphy é importante e primordial. A mulher quer saber o que houve com o marido e não está disposta a ficar calada.
Há bastante destaque para o “ajuste” de Murphy à sua nova condição e isso é o ponto primordial do novo filme. O quanto resta de “homem” dentro da máquina? E sua mente. O conflito do Robocop contra as “Diretiva” no original não existe aqui, mas sim um muito mais profundo, mostrado à medida que a mente do Robocop é ajustada para os propósitos da empresa e do projeto. É uma diferença importante. No original, Robocop acorda sem saber que já foi um homem. Aqui, ele desperta sabendo que não é mais.
Há várias homenagens ao original escondidas pelo filme e até ao filho de José Padilha, frases do original e momentos que evocam passagens do filme dos anos 80. Por sinal, esse talvez seja um ponto fraco do filme e que afasta parte do público e críticos cabeças moles. Ser comparado com um dos baluartes de ação da Década da Ação.
Eu estava extremamente cético quanto a esse filme e muito crítico desde o começo, principalmente quando o visual do Robocop foi divulgado. O rosto exposto, a mão exposta, o visual Kamen Rider, tudo me desagradava. Mas está contextualizado na história e fica ótimo em ação. Eu pensava que o visual original era mais intimidante ( e isso é até pontuado em certo momento no remake), e mais robótico. Esquece. O visual funciona muito bem, tanto a armadura prateada quanto a modelo BOPE. O visual do Robocop é extremamente badass, assim como sua moto. O fato dele correr em pular por exemplo também me incomodava. Mas é claro que isso é viável. A robótica avançou dos anos 80 pra cá, é inaceitável que o Robocop andasse como o primo do Frankenstein que se cagou todo, lento como posts do Bruno e ainda assim se esperasse que ele combatesse o crime. A mesma coisa com ED -209. Porra! Até o AZIMO desce escadas. Falando no ED-209, os efeitos especiais estão ótimos também e nem tem tanta coisa assim, mas quando aparecem é bastante impressionante. Não vai rolar aquele momento “boneco de massinha do Robocop enfrentando o boneco de massinha do ED – 209”. Eu sempre achei aquilo ruim.
A trilha sonora é boa, o famoso tema do Robocop aparece de forma pontual e bem inserida. A trilha ficou aos cuidados de Pedro Bromfman (um dos parças que Padilha levou na mala, o outro foi o diretor de fotografia Lula Carvalho), rola até “Fly Me To The Moon (In Other Words)” de Sinatra, e a irônica e colocada para zuar mesmo “If I Only Had a Heart” (do Homem de Lata, em O Mágico de Oz).
Eu ainda adoro o original, um puta filme, mas não vá, repito, não assista o remake pensando nele. São dois filmes diferentes e José Padilha entendeu que não daria pra simplesmente refilmar o original. É um produto de sua época, como esse também é.