Review Triste: Sai De Baixo, O Filme
Existem certas obras que não se encaixam em todas os formatos.
E Sai de Baixo é uma delas! O humorístico criado por Luis Gustavo, o Vavá, que estrou em 31 de março de 1996 na Rede Globo, era gravado ao vivo aos moldes do clássico A Família Trapo de 1967 e esse era o charme da coisa toda. O que dava graça ao programa não eram os roteiros, que eram sempre bem básicos e com histórias bobinhas, a graça ficava por conta da imprevisibilidade do elenco, com destaque pra o trio Tom Cavalcante, Miguel Falabella e Claudia Jimenez, essa ultima infelizmente presente apenas na primeira temporada pois deixou o programa por discordar de várias piadas envolvendo o seu peso e nunca mais voltaria ao papel da doméstica Edileuza.
Mudanças de elenco foram feitas, com alguns erros pelo caminho como a adição de Ilana Kaplan como a doméstica Lucinete afim de substituir Edileuza. O resultado foi desastroso pois a atriz insistia em fazer uma personagem com trejeitos que beiravam um personagem de programa infantil e isso destoava totalmente do clima do programa como um todo, o que resultou em sua substituição pela saudosa Márcia Cabrita que seguiu até a quinta temporada, quando o programa ganhou novos personagens e perdeu todo meu interesse já que todos os novos atores tinham o mesmo problema de Ilana Kaplan.
E eis que chega 2019 e somos pegos de surpresa pelo anuncio de que Sai de Baixo voltaria, só que agora para as telas do cinema! E, sim, isso por si só já era um péssimo sinal, pois o formato de “sitcom” proposto pelo programa claramente se perderia dentro de um formato tão engessado como o cinema. Lembrem-se, a graça do programa não estava nos roteiros, como eu já disse, mas na liberdade de improvisação e nas infinitas e inesperadas possibilidades resultantes disso. Dito e feito! Vi o filme e…
Produzido pela Globo Filmes, CLARO, o filme segue o padrão de todas as produções Globo para o cinema: Comédias pau-mole com piadas idiotas, situações clichês mais batidas que a bunda da Lindsay Lohan e um ritmo que mais parece uma sketch do antigo Zorra Total esticado por uma hora e meia. Pra começar temos a velha história de algo valioso colocado em uma mala que acaba se confundindo com outra igual. E é isso, o filme TODO gira em torno disso. Mas se você é curioso e quer uma sinopse mais detalhada, aqui vai:
A família mais amada do Arouche está sem teto. Caco Antibes foi preso devido a seus contínuos trambiques e Vavá acabou indo junto já que Caco insistia em usar seu nome e cartão em toda e qualquer falcatrua. Magda e Cassandra agora moram com Ribamar e Cibalena, a nova empregada da vez, junto a um já adulto Caquinho, que é a cópia perfeita do pai tanto nos trejeitos quanto nas malandragens. Completa o time de inquilinos a tia de Ribamar, Dona Jaula, interpretada pelo próprio Tom Cavalcante.
A confusão começa quando um tio de Caco, que é juiz, o liberta em troca de um favor: Atravessar a fronteira do Paraguai com milhões em dinheiro desviados de verba pública na forma de pedras preciosas. O que Caco não sabe é que Magda recebe uma proposta similar de sua prima milionária Angelina (interpretada por Lúcio Mauro Filho) e que Caquinho, por sua vez, está mancomunado com ambos. Agora a família irá ressuscitar a extinta Vavatur para fazer a viagem e encobrir os planos mas também terá que escapar do vingativo irmão gêmeo de Angelina, Baquenta, que acabou sendo preso por causa de Caco. Agora pouca aventura e menos comédia ainda estarão no caminho dessa turma.
Sério, praticamente NADA se salva nesse filme de menos de uma hora e meia mas que parece ter 3 de tão chato! As piadas são imbecis com momentos pastelão vergonhosos como na cena em que a Dona Jaula interage com um vaso sanitário tecnológico e temos a piadinha com jato d’água de bidê jogada na cara e, logo em seguida, talco. A única boa sacada e que acontece umas 4 ou 5 brevíssimas vezes durante todo o longa é quando os atores improvisam pra lembrar o espirito do programa e as risadas dos colegas de cena são deixadas na edição final. A maioria desses momentos acontece na interação entre Tom Cavalcante e Aracy Balabanian e Balabanian acaba sendo o tema de outra cena engraçada onde Miguel Falabella e Tom Cavalcante param pra conversar sobre ela ter assinado um contrato pra filmar por apenas 3 dias enquanto eles estão fazendo o filme todo. Isso aconteceu, claro, devido a idade avançada da atriz que está com 79 anos, bem como acontece com Luis Gustavo, que com seus 85 anos de idade não aguentaria o ritmo de correria do filme e só aparece na cena final do filme deixando o longa desfalcado já que Vavá era a argamassa que mantinha toda a família unida. Aliás, esse foi o primeiro ponto que realmente me causou tristeza quando o filme começou: Constatar que seus personagens favoritos estão passíveis de envelhecer.
Envelhecer é natural, claro! Mas a gente nunca está muito preparado pra ver personagens que estão imortalizados em uma obra do cinema ou TV voltar anos depois e parecer meio sem vida. E toda vez que eu olhava pro Tom Cavalcante tentando fazer o mesmo Ribamar garotão de anos atrás mas com a cara enrugada, uma voz rouca e uma expressão de cansaço eu sentia um desconforto gigante! Ele ainda consegue convencer sim, claro, como eu disse alguns dos poucos bons momentos do filme acontecem graças a ele. Mas é aquela sensação de finitude das coisas que acaba abafando um pouco o riso. Eu já havia sentido isso no revival de 2013 sempre que via Luis Gustavo precisar se apoiar em algo ou alguém pra subir um pequeno degrau que tinha no cenário ou Aracy Balabanian sentada grande parte do tempo. A sensação só cresceu ao ver esse filme e perceber a idade pesando em todos eles. Tom Cavalcante enrugado e de voz rouca, Miguel Falabella se movendo contidamente ao contrário do Caco “overacting” de outrora, Aracy Balabanian sempre sentada em suas cenas e Luis Gustavo aparentando estar cansado simplesmente por estar em pé na cena final. A única que mudou minimamente e ainda está em grande forma é Marisa Orth com seus 55 anos que nem se fazem aparente. Eita…o clima pesou um pouquinho agora, né…vamos voltar a falar do filme que é melhor.
O resultado final é cansativo, clichezento e te faz questionar se não seria melhor gravar mais um programa ao vivo e lançar no cinema. Seria estranho? Seria! Mas, pelo menos, seria inovador e se afastaria da forma quebrada da Globo Filmes e sua legião de filmes mais do mesmo. A total degradação da produção consegue ser estampada em uma cena que se passa as 1:05hr de filme onde, por alguma razão, alguém resolveu meter uma cena de um ônibus feito em CG no filme a troco de NADA!
Enfim, desde que o trailer saiu eu já previa que o filme seria uma bomba mas, ainda assim, conseguiu superar minhas piores expectativas. Se você é fã do programa dê uma olhada por sua conta e risco, talvez sirva pra matar a saudade dos personagens, mas aí eu já aconselho a ir atrás dos episódios originais que, ao contrário do que muita gente diz, envelheceu MUITO BEM, obrigado! Se você é fã das comédias da Globo Filmes, como De Pernas Pro Ar 3, filme que segundo a atriz Ingrid Guimarães poderia muito bem bater de frente com Vingadores: Ultimato de igual pra igual, você muito provavelmente vá adorar. Agora, se você tem bom gosto pra comédia…PASSE LONGE! ECA! COCÔ! NÃO PODE!
Nota: 1,0
PS: Esqueci de comentar que também é estranho ver o Arouche Towers do lado de fora. Parece um prédio bem meia boca ao contrário do que o apartamento gigante do programa fazia parecer.
PS2: Perderam a chance de adaptar pra telona o famoso monologo “Por favor, salvem a professorinha” do Caco. Ficaria uma merda? Muito provavelmente, assim como todo o filme. Mas seria uma homenagem a algo tão icônico ao menos.