REVIEW TORIYAMICO 4: Nekomajin

Três pratos de trigo para três gatos-demônio nada tristes.

Há dois anos atrás encontrei em uma feira de livros que acontece anualmente aqui em Caruaru City, 3 mangás one-shot do Akira Toriyama publicados pela Conrad. Li e resenhei um por um e você pode conferi estas resenhas clicando AQUI. Só que a Conrad havia publicado mais algumas one-shots do criador de Dragon Ball , sendo elas o one-shot Nekomajin e o compilado de histórias curtas em 3 edições chamado Marusaku. Infelizmente nenhuma dessas edições apareceu nas edições posteriores da feira de livros. Porém, em 2018 uma das duas únicas lojas de quadrinhos que existem aqui na cidade apareceu com uma leva de mangás Conrad, entre eles Sandland, Kajika, Cowa! e…Nekomajin!

Obviamente levei Nekomajin pra casa e, com uma pitada de empolgação porque muita gente havia me dito que era um dos melhores trabalhos do Toriyama (inclusive o Ken-Oh havia comentado no review de Sand Land que esse era O MELHOR one-shot do Toriyama e esse foi o comentário que mais serviu de combustível para minha empolgação), comecei a lê-lo como um sertanejo sedento que vai ao jarro de barro beber água numa caneca de alumínio (só quem teve contato com a zona rural vai saber que beber água num pote de barro com um caneco de alumínio é uma experiência única). O problema é que fui com sede demais…

Mas, antes de mais nada, uma pequena sinopse:

Nekomajins são um espécie de gatos-demônio que, assim com os gatos comuns, se apresentam nas mais diversas formas, cores, raças e modelos. Todos os Nekomajins tem superforça, podem voar, se transformar em qualquer pessoa ou animal (e talvez objetos, mas isso não é mostrado no mangá, estou conjecturando) e ainda possuir pessoas, alem de serem uns trambiqueiros de marca maior, sempre tentando levar vantagem em cima dos outros. Em Nekomajin conhecemos 3 deles, todos chamados de…bem…Nekomajin. O mangá se divide em 8 historietas, as duas primeiras são focadas em um mesmo Nekomajin. Na primeira ele ajuda dois sujeitos que perderam a moto…sendo que eles descobrem que foi o próprio Nekomajin que a roubou. Os tais sujeitos acabam libertando um demônio há muito adormecido e cabe a Nekomajin derrotar o capetinha.

Na segunda historieta Nekomajin acaba encontrado uma nave espacial e acaba destruindo-a tentando pilotá-la. Ele acaba por descobrir que a tal nave pertencia a dois extraterrestres que estavam sequestrando uma menina. Não, Nekomajin não está nem aí pra menina, ele está mais preocupado em consertar a nave dos extraterrestres que ele quebrou…contanto que os visitantes de outro planeta paguem a conta! No final Nekomajin acaba salvando a menina e a Terra de ser invadida. De um jeito não convencional e totalmente acidental, claro…

Inclusive nessa história tem um personagem chamado Pito Kobayashi que parece ter servido de inspiração para o One criar oi Mumen Rider, o herói sem poderes que anda de bicicleta em One-Punch Man.

A terceira historieta é focada em outro Nekomajin. Nela, vemos o gatinho-cramunhão ajudar um professor com falta de auto-confiança a enfrentar uma dupla de bandidos que explorava a maior fonte de renda da ilha onde vivem, um cogumelo chamado nekomatsutake que os bandidos compravam por preços baixíssimos se valendo do medo dos aldeões.

As 5 historietas restantes são focadas no Nekomajin Z, o qual se veste igual ao Goku, luta igual ao Goku e, inclusive…encontra o Goku!

Agora vamos a análise.

Antes de mais nada, eu preciso dizer…Nekomajin inicialmente me decepcionou um bom bocado! Talvez a culpa tenha sido minha, que esperei demais, mas o fato é que enquanto Sandland, Kajika e Cowa! tinham aquela mistura de ação e humor que estamos tão acostumados a ver em Dragon Ball, Nekomajin aposta mais no humor e, bem, Akira Toriyama sabe escrever bons momentos de humor que são universais…mas tem horas que esses momentos esbarram em dois problemas:

1- O humor fica infantil demais em um nível que beira a imbecilidade, o que é até compreensível tendo em vista que seu personagem título age como uma criança quase o tempo todo.

2- A repetição. E não falo só nesse mangá! Algumas situações, personagens e suas personalidades são tão recicladas de outras obras do próprio Toriyama que acabam trazendo um ar de “Isso de novo…?” e acaba ficando meio chatinho e sem graça em muitos momentos. O Nekomajin, por exemplo, é o Majin Boo gordo só que com orelhas e rabo de gato. Inclusive o Majin Boo aparece no mangá e essa similitude rende uma piadota. Claro que essa reciclagem não chega a ser ofensiva como um certo “”””””mestre”””””” costuma fazer em seus mangás, mas acaba tendo cheirinho de falta de ousadia e comodismo descarado.

Mas isso quer dizer que o mangá é um pedaço de lixo nojento e asqueroso? Claro que não! Ele só não me empolgou, envolveu e divertiu tanto quanto os 3 anteriores mas, ainda assim, cumpriu seu papel, só que teve alguns ônus. As 3 primeiras histórias tem umas piadinhas que  funcionam, outras que não…mas conseguem ser simpáticas mesmo carregando todos os problemas que citei até agora. A melhor parte, sem sombra de duvida, fica por conta das 5 histórias restantes focadas no Nekomajin Z.  Ela tem os mesmos problemas que as outras? Sim! Só que ela é a única que traz algo mais “ousado” pra ideia geral que é o fato do Toriyama usar a trama central pra zoar sua maior obra, que é Dragon Ball! Assim sendo, além das participações especiais de Vegeta, Goku e Majin Boo, ainda temos uma pequena expansão no universo de Dragon Ball com a introdução do filho do Freeza, o pequeno Creeza, que é a cara do pai com o diferencial de ter uma cabeça pontiaguda que mais lembra uma cebola.

Claro que tudo fica dentro do campo do “universo alternativo”, já que a história não apenas não se leva a sério como não leva em contra a cronologia oficial de DB, pois a aparição de Vegeta se passa quando ele ainda é soldado de Freeza mas ele está trajando aquela “armadura regata” que usa na fase Cell e já se transforma em Super Sayajin mesmo não tendo encontrado Goku. Aliás, existe um Sayajin gordinho chamado Onio exclusivo dessa história que também é capaz de se transformar em Super Sayajin como se fosse algo natural para todo Sayajin desde sempre.

Outra “falha cronológica” está na ultima história, quando Goku aparece. Ele já está usando a roupa que usa no final do mangá original de Dragon Ball, ou seja, muitos anos após a luta com Vegeta, mas o menino humano que é amigo do Nekomajin Z não envelheceu um único dia entra a história em que o Vegeta aparece e essa. Obviamente esse é um fato totalmente sem importância dentro da proposta “zuera” da história. O que importa mesmo é ver os personagens de DB em situações absurdas que dificilmente veríamos na série regular, como o Vegete fingindo que recebeu uma ligação de celular pra arregar numa briga, o filho do Freeza se recusando a lutar porque restava menos de uma página pra história acabar e isso não permitiria um combate épico, tendo em vista que no mangá de DB os combates duravam vários capítulos inteiros, ou o Goku vencendo o Nekomajin da maneira mais estupidamente lógica possível.

Vegeta arregando elegantemente.

Quanto ao trabalho gráfico da Conrad, esse parece ter sido o mangá em que despenderam um maior cuidado, pois tem orelhas na capa e um desenho na folha de rosto.O problema é que nessas orelhas não tem nada escrito, nem uma biografia básica do Toriyama. As capas originais também estão presentes na edição e coloridas, inclusive. O problema é que poderiam estar no começo de cada história ou no final da edição num tipo de galeria de capa, mas acharam melhor meter tudo no começo da edição e no final tem apenas…uma folha em branco! Sério! Uma folha inteira cheia de nada! Ah, Conrad, Conrad…

Ah, e com relação a má diagramação das páginas que a Conrad fez em Sand Land que acabava cortando quadros e balões de maneira grosseira e que me fez prestar atenção a esse detalhe em todas as publicações da Conrad a partir de então, aqui felizmente é um problema quase inexistente e nas poucas vezes que ocorre não comprometem em nada a leitura.

Por fim, Nekomajin não atendeu as minhas expectativas, que eram bem altas, mas também não foi uma decepção. Tem um começo problemático com o humor do Toriyama capengando mas acaba se recuperando bem quando começa a  tiração de sarro em cima de Dragon Ball. Se recomendo! Claro que sim! Como eu já disse, Toriyama pode repetir fórmulas, conceitos e até piadas, mas ele ainda tem um traço maravilhoso e consegue criar personagens cativantes que conseguem te conquistar, mesmo que tardiamente. Ao contrário de certos “””””””mestres”””””” por aí…

Nota: 7,5

PS: Se fosse fazer um ranking dos one-shots do Toriyama lidos até agora, minha classificação seria a seguinte:

1- Cowa!

2- Kajika

3- Sand Land

4- Nekomajin

PS 2: Ainda sigo buscando Marusaku. Ô, mangázinho difícil de se conseguir completo, viu!? O jeito é “importar”…