Sabe aquela leitura que você sempre deixa pro final por parecer a menos interessante?

Pois é…eu fiz isso com Cowa!, mangá que fecha a trilogia de resenhas dos mangás do Toryama que adquiri na feira de livros de Caruaru City. Eu peguei ele por impulso, pois me parecia bem menos interessante que Sand Land e Kajika, muito disso por ter aquele ar mais infantil dado o seu traço mais simplificado e a “fofurinha” dos personagens. Eu, muito honestamente, não esperava NADA de Cowa!. Aliás, esperava sim…esperava parar a leitura algumas vezes e perder a vontade de ler pois achava que seria uma serie de historietas curtas e com piadinhas infames. E devo dizer que os dois primeiros capítulos QUASE me levaram a isso mesmo…mas até as partes bobinhas o Toriyama sabe contar bem, sem falar nos seus personagens sempre carismáticos. E que bom que não larguei Cowa! logo no começo.

Imagem by Guia dos Quadrinhos

A história de Cowa! é muito simples: no pequeno vilarejo de Kowmori Misaki monstros e humanos vivem em harmonia. Conhecemos, então, o protagonista da história, o simpático vampirinho Paifu com seu fiel companheiro, o fantasminha José Rodriguez (sim, esse é o nome dele mesmo).Tudo que ambos querem fazer é se divertir, como qualquer criança normal, seja monstro ou não. E parece que a diversão vai começar de verdade quando descobrem que seu professor está doente, vitima de uma gripe e, por isso, vão ter uma hora a menos de aula. O que Paifu e José Rodriguez não sabem é que a tal gripe está vitimizando vários monstros da vila e que ela é, na verdade, uma terrível gripe chamada “Obakekaze”, a qual só ataca monstros e pode matá-los em apenas 30 dias. Assim que o médico da cidade descobre tal fato, diz a Paifu que a única chance dos monstros habitantes Kowmori Misaki é ir até uma montanha chamada Mimizukuyama afim de encontrar a bruxa que vive em seu topo e que é capaz de produzir a cura. No entanto, a viagem é longa e perigosa, e Paifu acaba por convencer o carrancudo e misterioso humano chamado Maruyma, o qual vive recluso e tem uma lenda sobre si que diz que ele já matou alguém (coisa que amedronta profundamente os monstros) a ajudá-lo. Só que Paifu só convence o grandalhão Maruyama após mentir dizendo que a vila o pagaria um milhão de ienes pelo trabalho. Agora Paifu, José Rodriguez e Maruyama vão em busca da cura, mas não antes de terem no time o auto-convidado Arpon, o qual se auto-denomina arqui-inimigo de Paifu. Aliás, o Arpon se “auto-tudo” já que ninguém o leva a sério. E é aí que a aventura começa de verdade.

Esse certamente não é o grupo de heróis mais convencional já visto….

Como eu disse, em um primeiro momento você pode cometer o erro de julgar Cowa! pela capa, dado o ar infantil que os desenhos simplificados do Toriyama  passam . Mas é um baita de uma mangá divertido pra caramba! A arte do Toriyama está BEEEEM simplificada de fato, em alguns momentos dá a impressão de ser uma série de tirinhas de jornal editados de modo a formarem páginas inteiras. Mas ainda é Toriyama e sua arte simplificada casa mais que perfeitamente com o proposito da trama. Os três monstrinhos, sempre fazendo bobagens por não conhecerem o mundo além da sua vilinha, fedem a carisma e mesmo fazendo besteiras que colocam a jornada e a suas próprias vidas em risco durante toda a trama, você não consegue ficar zangado com nenhum deles de tão cretinamente simpáticos que são. E o humano misterioso, o Maruyama, é o tipico grandalhão turrão mas de bom coração, um velho clichê, verdade…mas que não o deixa abaixo do nível de carisma do trio de monstrinhos de jeito nenhum! Aliás, ele se tornou meu personagem favorito de todo o mangá!

Isso sem falar que ele “é o bichão memo”!

Outro ponto bacana aqui é que Toriyama, apesar de fazer suas histórias sempre puxarem pra comédia escrachada, sabe inserir momentos de drama de modo a não ficar destoante. Isso é mostrado em Sand Land em uma cena onde descobrimos o passado do xerife Lao, e lá casa perfeitamente com a trama, que tem momentos mais sérios. Em Cowa! o ritmo é muito mais pastelão mas, ainda assim Toriyama apresenta um problema sério sem sair do tom de humor da obra. Acontece que os monstros não são bem vistos pelos humanos e sofrem preconceito dos mesmos. Enquanto, em contraponto, os monstros ficam assustadíssimos quando descobrem que Maruyama, um humano, matou outro humano, o que mostra que as aparências nada dizem e que a humanidade é mais monstruosa que os próprios monstros. Algo similar ao que é mostrado em Sand Land com relação aos humanos e demônios.

Quanto ao trabalho de diagramação da Conrad, que tantos problemas causou em Sand Land e ainda permaneceu, mesmo que em menor escala, em Kajika, aqui é quase nulo, Ainda existem uns quadrinhos cortados nas bordas, mas são pouquíssimos, já que o tipo de diagramação que o Toriyama usou meio que centralizou bem os quadrinhos, sempre pequenos, nas páginas.

Por fim, Cowa! foi uma grande surpresa pra mim. Me arrisco a dizer que ultrapassou Sand Land e ficou pau a pau com Kajika na minha preferência. Por isso, se já tiver visto esse mangá em alguma prateleira e não o pegou por julgar a capa algo infantil demais…pegue-o sem medo! Ele pode ser uma história infantil, mas é uma história infantil by Akira Toriyama, ou seja, é infantil “pero no mucho”. É uma aventura surpreendentemente divertida e,dificilmente, você vá se arrepender!

Nota: 9,0

PS: Esqueci de mencionar que o Paifu é filho de uma vampira com um…Homem-Coala! Isso mesmo, esse seria o “lobisomem” deste mundo. E o Paifu acaba por se transformar em um terrível Homem-Coala sempre que vê uma cruz e só volta ao normal ao ver algo redondo. Sim, isso não faz o menor sentido…mas é cretinamente sensacional!

PS2: Além de aparecer em Sand Land, Dabura, ator tão solicitado que é, também aparece em Cowa!