Review Tagarela: Deadpool Clássico 3

Uma série de posts não tão seriado assim.

Láááá em 2017, a Panini começou a lançar a série de encadernados que ofendia a muito leitor de quadrinhos pelo simples fato de existir e ainda ter a pachorra de usar a palavra “clássico” na capa. Afinal, o que diabos Deadpool, um personagem ODIADO pelos leitores mais velhacos, tem de “clássico”? Bem, eu gosto do Deadpool porque ele esteve ali, no meu iniciozinho de vida de leitor de quadrinho de gente superpoderosa vestindo pijama, mas eu leio esse “clássico” como “As histórias mais bacaninha do Deadpool” do que como “clássico” ao pé da letra.

Enfim, em 2017 eu também iniciei o que pensei que seria uma série de posts acompanhado cada volume da coleção. Mas o desanimo bateu e eu só fiz duas partes. Agora, cinco fodendo anos depois, eu resolvi reler a fase do Joe Kelly que tanto amo, e resolvi retomar essa série com a periodicidade “quando eu quiser já, que ninguém vai ler mesmo”. Caso vocês, cinco leitores que ainda leem posts, queiram ver as partes 1 e 2 basta clicar AQUI.

Obviamente esse post é referente ao volume 3 da coleção Deadpool Clássico. Nele, temos o segundo arco do Joe Kelly, que eu já cansei de dizer que é o verdadeiro pai do Deadpool pra mim, e os filmes se basearem em muita coisa do seu run só prova isso. Se no primeiro arco tinhamos o Wade Wilson tendo que acertar contas com seu passado e tendo na Siryn, da X-Force, sua consciência e interesse amoroso “salutar” pra nosso herói, aqui a porca torce o rabo, porque temos uma nova coadjuvante feminina e um novo e deturpardo interesse amoroso pro Mercenário Tagarela na forma de Mary Tifoide.

Não, essa não é a Mary Tifoide segurando o Deadpool na capa! Esse é o T-Ray e essa é a capa do volume 3 que eu precisava colocar em algum lugar!

A história começa com Deadpool pegando um serviço onde precisa resgatar uma mulher chamada Mary de uma clinica psiquiátrica. Fuinha, o Robin da derrota do Deadpool, t´á precisando de grana e pede pra ir junto, Deadpool inicialmente recusa mas o Fuinha acaba por descobrir que existe um segundo serviço no mesmo endereço, e esse é pra MATAR a mesmíssima Mary. A dupla dinâmica do retardo se une e vai atrás do serviço. Como Deadpool está tentando deixar a vida de assassinatos de lado depois que Siryn lhe mostrou que poderia ser uma pessoa melhor, ele ficará encarregado do resgate de Mary e Fuinha ficará encarregado da parte do assassinato. O problema é que entre trancos, barrancos, uma pesonagem pra lá de bizarra chamada Vamp que pode se transformar num neandertal com poderes psíquicos chamado Animus que apareceu em histórias do Capitão América e dos Vingadores dos anos 70 (quando nada precisava fazer muito sentido) e muitas explosões, Deadpool descobre que as pessoas que encomendaram o resgate e o assassinato eram as mesmas. E ambas eram a mesma pessoa, a própria Mary que era o alvo de ambas as demandas. E essa Mary, claro, é a Mary Tifoide.

O que se segue durante todo o encadernado é o Wade tentando fazer pela Mary Tifoide o mesmo que a Siryn fez por ele, que é mostrar que nem tudo precisa ser resolvido com tiros, explosões, torturas e desmembramentos. O problema é que isso se torna um pouquinho complicado quando a pessoa além de pinel tem 3 personalidades distintas mas é a PIOR delas que resolve “tomar conta da casa”. A coisa degringola terrivelmente e deságua na busca por vingaça de Mary contra o Demolidor. E é interessante que justamente numa revista do Deadpool teremos revelações importantíssimas sobre o passado de Mary e do próprio Matt Murdock.

Esse arco tem ligações com dois arcos importantes do Demolidor. O primeiro é A Queda do Rei do Crime, que é uma sequencia dos acontecimentos do clássico A Queda de Murdock e que, apesar disso, não é tão lembrado assim. Saiu no Brasil em formatinho pela Abril em Grandes Heróis Marvel Nº47 e eu já fiz o review que você pode ler clicando AQUI. Acontece que nessa história, afim de dar o troco no Rei do Crime, o Demolidor começa atacando tudo que ele mais presa. Uma dessas coisas é justamente Mary Tifoide, que era guarda costas do Rei e sua “peguete”. Matt acaba armado pra que Mary vá pra um manicômio, e isso ele o faz de um maneira bem cruel. Acontece que a personalidade boazinha da Mary era apaixonada por Matt e ele usa justamente esse sentimento pra fazer ela ser pega e internada. Obviamente Matt não é cruel como o Wilson Fisk e esse ato acaba fazendo-o se sentir um monstro. E é justamente por isso que Mary está presa no inicio dessa história do Deadpool e também é por isso que a Mary Tifoide está sedenta por vingança.

Mais adiante, no crossover do mercenário tagarela com o homem sem medo, descobrimos o segredo mais importante da origem de Mary Tifoide. Lembram de Demolidor: O Homem Sem Medo de Frank Miller e John Romita Jr (que eu também já resenhei AQUI)? Lembram que em uma cena onde Matt, ainda em sua fase “pré-Demolidor” invade um prostíbulo pra pegar um bandido, é atacado pelas prostitutas e acaba acertando uma que cai pela janela pra morte, o que deixa Matt completamente perturbado e consumido pela culpa? Pois então…não é que essa prostituta era a Mary! Durante uma discussão com T-Ray, o rival gigante, silencioso e bizarro do Deadpool, no Inferno, o bar de mercenários onde Wade pega suas missões (e que nos filmes é gerido pelo Fuinha), Wade, sem querer, acaba acertando Mary Tifoide e arremessando ela por uma janela, o que dá um estalo na cabeça dela e desperta a memória reprimida daquela noite. Por isso, o ódio de Mary contra Matt sobe um nível e ela irá fazer de tudo pra matar o Demolidor, nem que pra isso tenha que deixar um rastro de carnificina pra o vigilante cegueta seguir.

Joe Kelly segue em alta nesse novo arco, agora levando a história pra um tom ainda mais sombrio, traçando um paralelo da psique perturbada do Deadpool com a da Mary Tifoide e mostrando que, por mais que se esforce pra nadar pro lado do bem, a maré dos acontecimentos parece não ajudar o mercenário colorado. O desfecho desse arco é, pra dizer o minimo, “turbulento” pros dois personagens. E por falar em desfecho, é preciso apontar um erro GIGANTESCO da Panini aqui.

Acontece que o encadernado traz as edições 6 a 8 da revista regular do Deadpool mas tamb´ém traz Daredevil/Deadpool ’97 Annual. Qual o problema com isso? Acontece que a Panini colocou as revistas 6 a 8 em ordem no encadernado mas Daredevil/Deadpool ’97 Annual se passa ANTES da edição 8, o que deixa o leitor desavisado confuso! Quando a Abril publicou esse arco na revista Marvel 99, ela sabiamente organizou a ordem. No omnibus americano as histórias também estão em ordem, o que mostra que foi um baita vacilo unica e simplesmente da Panini. Essa mudança de ordem tira todo o impacto do final do arco quando Mary Tifoide e Deadpool tem seu confronto físico e moral definitivo. Outro ponto que fica sem sentido é o cachorro que Deadpool dá pra Cega Al, que aparece sem explicação na edição 8 no meio do encadernado e só vai ser explicado de onde ele saiu no Annual que ficou no final do encadernado. Vacilo feio pra caramba esse da Panini.

O encadernado também traz Deadpool-1 que não é a primeira edição da série mas, sim, uma edição especial focada na personagem Zoe, que faz parte da Landau, Luckman & Lake, uma especie de agência de espionagem dimensional que tem interesse em Wade Wilson e faz pequenas aparições durante esses dois primeiros arcos mostrando que algo maior está por vir.

Nessa história, que se passa quando Wade Wilson ainda nem sonhava em ser o Deadpool, Zoe vai se encontrar com Vanessa, a namorada de Wade que trabalha como prostituta, afim de tentar impedir que uma tragédia inesperada aconteça. Essa é a história mais diferente até aqui, tanto em traço quanto em tom. Nela, não temos os desenhos caricatos do Ed McGuinness, mas o traço mais realista de Aaron Lopresti. Também não temos Deadpool fazendo piadinhas. Na verdade, nem tem Deadpool e mal tem Wade Wilson. A trama se foca mais em Zoe conhecendo Vanessa e vendo o quão desgracenta a vida da menina é, além de descobrir que Wade não é uma pessoa tão ruim quanto ela julgava mas, no ramo em que ele age, ser bom pode trazer terríveis consequências pra quem não merece. Essa história é muito boa e igualmente bad vibe.

Enfim, Deadpool Clássico 3 ainda mantém a qualidade além de mexer com a deturpada noção de moral do nosso “herói”. Se fosse pra indicar qualquer coisa do Deadpool pra alguém que estivesse querendo começar a ler o personagem, essa e a edição anterior seria indicações certas!

Nota:9,0

Pra organização da Panini a nota é 5,0. PRESTA ATENÇÃO NA ORDEM DAS COISAS, PANINI DE 2017!