Review Sanguinário: Innocent
A beleza violenta.
Quando foi anunciado pela Panini, eu confesso que torci MUUUUITO o nariz para Innocent, mangá de Shin’ichi Sakamoto. Tudo pela capa, que mostrava um personagem com traços andróginos e vestindo roupas da França do século XVIII. E, que fique claro, meu problema NUNCA FOI O FATO DO PERSONAGEM TER TRAÇOS ANDRÓGINOS! O problema é que meu contato com obras fictícias, mesmo que baseadas em acontecimentos históricos, que se passavam nessa época sempre terminavam com uma torrente de tédio sendo derramada sobre mim. Assim sendo, ignorei o mangá veementemente.
No entanto, ouvi algumas pessoas, muitas delas que torciam o nariz pra mangás em geral, tecendo elogios a obra. Foi quando, em uma bela tarde nublada e sem nada pra fazer, resolvi dar um confere. E, negadinha… meu nariz torcido foi destorcido de imediato na base da porrada! QUE-MANGÁ- FANTÁSTICO!
A história de Innocent segue o jovem Charles Henrin-Sanson, quarto na linha de sucessão para o cargo ocupado pelo seu pai, Charles-Jean-Baptiste Sanson, o atual Monsieu de Paris. “Monsieu”…nome bonito, né? Pois é…só que nada mais é que um eufemismo para CARRASCO! Sim, Charles iria suceder seu pai como executor oficial, fato que não lhe agradava nem um pouco. Traçando um paralelo pueril, imagine que Shun vai, de fato, pra Ilha da Rainha da Morte antes do Ikki tomar seu lugar e este fique apenas choramingando enquanto Guilty tentava convencer o pequeno Shun a matar impiedosamente. É mais ou menos por aí a relação entre Charles e seu pai.
Acontece que uma série de infortúnios vai atingindo não apenas Charles mas toda sua família, e o garoto se vê quase obrigado a seguir o caminho que tanto detesta, sobretudo porque sua avó, uma mulher severa e cruel, irá forçá-lo a seguir esse caminho e manter o nome dos Sanson na história, nem que seja na base da tortura.
Bem, não irei me aprofundar muito na trama porque, acreditem, é uma série de acontecimentos que, mesmo que as vezes pareçam previsíveis, acabam tendo um desenrolar e até um desfecho chocantes. O maior exemplo disso está em uma execução levada a cabo por Charles que começa no volume 3 e termina no volume 4. Sério, a coisa é tão violenta e perturbadora que você vai virando a página com a boca aberta e os olhos arregalados. E isso só piora quando você lembra que tudo foi baseado em ACONTECIMENTOS REAIS! É de gelar o sangue…
Nesse momento muita gente que leu o parágrafo acima pode estar pensando “Mas, peraí, Hellbolha…como assim ‘começa no volume 3 e termina no volume 4’? A Panini não lançou apenas dois volumes até agora?”. E eu vos digo: Eu cansei de gastar dinheiro em coisas que não conheço apenas pela empolgação da novidade. Quebrei a cara com Avengers 9, mangá do qual eu esperava muito e me foi entregue decepcionantes migalhas (e que você pode ler a resenha AQUI ) e por isso decidi que sempre irei dar uma olhada numa versão digital antes de gastar meu escasso dinheirinho em papel caro da Panini. Assim sendo, fiz uma busca na internet e acabei achando os 9 volumes da obra. Tinha a intenção de ler apenas o primeiro mas o mangá me pegou de um jeito que acabei devorando os 9.
Isto posto, a partir daqui vou dar opiniões de muitas coisas que ainda estão por vir, mas não precisam se preocupar, povos e povas que estão acompanhado a edição da Panini, não vou dar spoilers profundos, só citar o destino de um ou dois personagens pra contextualizar algumas opiniões (não, não vai ser nada do tipo “sicrano morre” ou “fulano mata beutrano”, podem ficar tranquilos).
Como supracitado, o mangá segue a vida de Charles Henri-Sanson…mas nem sempre ele permanece no posto de protagonista da trama, algo parecido com o que acontece em Blade: A Lâmina do Imortal, onde o Manji as vezes some pra dar espaço a outros personagens e tramas que, por fim, acabam se conectando a sua. No caso de Innocent, mais adiante teremos a irmã mais nova de Charles, a temperamental Marie -Joséphe Sanson, atraindo os holofotes pra si. E que personagem FANTÁSTICA! Com um passado cruel e revoltante, a menina resolveu deixar a pompa e delicadeza de lado pra se tornar uma garota “bad ass mothefucker” de primeira. Do visual ao comportamento, Marie é aquela personagem que te arrebata em segundos e, por isso, acabou sendo a minha favorita do mangá inteiro. CHUPA, CHARLES!
No entanto, enquanto Marie é uma personagem com um arco que dá gosto de se ler, o mesmo não pode ser dito do de outra personagem histórica que, quando aparece, é como se transformassem “Game of Thrones” em “Deus Salve o Rei”. Falo de Maria Antonieta, a menina austríaca que acabou virando princesa na França. Ele começa lá pelo volume 6 ou 7 e dá uma freada brusca no ritmo da trama. Deixamos Charles e Marie de lado para entender como Maria Antonieta foi mandada para França por sua mãe por questões de interesse. Sim, Maria Antonieta terá grande importância em acontecimentos futuros, sobretudo no que tange a saga de Marie. No entanto, passar por essa parte do mangá é como estar correndo a 200km numa auto estrada e ter que parar pra uma família de tartarugas tetraplégicas de ré atravessarem antes de poder seguir viagem…
Agora, falemos dos desenhos! Shin’ichi Sakamoto DESTRÓI! O cara tem um traço lindo, detalhando e faz os personagens com feições tão suaves que quando o clima pesa de vez o contraste acaba servindo como um “que” a mais no fator “perturbador”. Aliás, eu não conseguia parar de imaginar esse sujeito desenhando uma adaptação de Castlevania: Symphony of the Night em mangá. Seria perfeito!
Ah, e o sujeito tem umas sacadas geniais e outras um tanto…estranhas. Uma das geniais é traçar paralelos de cenas pesadas com momentos poéticos, como quando Charles está executando um sujeito que ele conhecia e começava a imaginar que ambos estavam dançando uma dança da morte em forma de um baile. Outro momento é quando charles começa a tocar “Jesus, Alegria dos Homens”, de Johann Senastian Bach, ao violino e a cena fica alternando com uma de suas execuções. É quase IMPOSSÍVEL não ouvir a música tocar em sua cabeça enquanto lê.
Já a parte estranha…bem…acontece que dois ou três capítulos são apresentados como pequenas operetas. Sim, os personagens não conversam, eles cantam e dançam! Achei um recurso até interessante e bem válido, mas é inegável que te tira um pouco da história, já que essas cenas acabam assumindo um tom cômico, mesmo que não tenha sido a intenção.
Como eu disse, li os 9 volumes quase que numa tacada só. No entanto, o final do volume 9 ia chegando e, ao invés de respostas e conclusões, ele ia entregando mais questionamentos, novos personagens e muitas pontas soltas. Foi então que descobri que Innocent terminava para dar lugar a sua sequencia direta, Inoccent: Rouge, esse mais focado em Marie e com Charles como coadjuvante. A sequência já conta com 7 volumes no Japão e, apesar de não ter lido, eu dei uma rápida olhada no primeiro volume. Devo dizer que, honestamente, muito me agrada a ideia de seguirem os passos de Marie a partir daqui mas, ao mesmo tempo, fico preocupado com o fato de jogarem Charles para o papel de coadjuvante. Quer dizer, isso meio que acontece já na primeira fase do mangá, mas , mais uma vez citando Blade, eu espero que o personagem volte ao seu papel de destaque pra dá-lhe fechamento digno, já que ele iniciou a coisa toda como principal e, mesmo Marie roubando a cena, você ainda o vê como protagonista.
Enfim, se você estava na dúvida ou se, assim como aconteceu comigo inicialmente, o mangá não te chamou a atenção, dê uma chance para Innocent. Principalmente se você é um fã assíduo de Berserk e não tem mais saco pra ler os capítulos novos de 23 em 23 primaveras, Innocent acaba sendo uma ótima opção pra segurar a ansiedade, já que une as tramas e conspirações da Era de Ouro com o clima pesado e violento do Arco da Convicção. Mas sem o elemento sobrenatural, claro!
Ah, e se você simplesmente não se sente mais atraído pelo tom “Final Fantasy” que Berserk tomou, assim como eu, eis uma nova obra a se descobrir. No entanto, em Innocent uma coisa é certa: o tom não vai mudar tão drasticamente! Então dê uma chance! Tenho certeza que não irá se arrepender!
Nota: 9,0
PS: Curiosidade inútil, na verdade. Bem, o mangá tem algumas cenas de nudez e sexo, até aí normal. Até por que não chega a ser explicito e tem aqueles ângulos que cobrem as “coisinhas” dos personagens. No entanto, parece que o Sakamoto não tem lá muito pudor em mostrar…bem…”bogas”. Sim! Por exemplo, em uma cena onde Charles flagra seu pai e sua mãe fazendo sexo estilo cachorrinho, não aparece nada de mais…até o momento em que o Charles pai resolve, de maneira impiedosa, empurrar o dedo no “feedback” da “senhora Charles”. Aí o Sakamoto mostra em close sem dó nem piedade. Alguém avise pra ele que mostrar os “forevis” dos personagens não é lá muito…Innocent (BA-DUM-TSS).