Review Retrô: X-Men Gigante 1 (ed. Abril)
A Canção do Barraco.
Amiches e amichas, recentemente adquiri três formatinhos da Abril por motivos de “por que sim” e resolvi matar saudades da época que me tornou um leitor de quadrinhos, os anos 90. Tais formatinhos foram X-Men Anual Nº02 e X-Men Gigante 1 e 2. Li X-Men Anual Nº02 e achei a história tão confusa e medonha que nem me animei a fazer um post sobre. Foi então que li X-Men Gigante 1, que traz a saga “A Canção do Carrasco” e…que HQ, meus amigos!
Com roteiros de Scott Lobdell, Peter David e Fabian Nicieza (credo…), desenhos de Brandon Peterson, Jae Lee, Andy Kubert e Greg Capullo seguidos das artes finalizações de Terry Austin, Al Migrom, Mark Pennignton e Harry Candelario (quem???), X-Men Gigante 1, ou melhor, “A Canção do Carrasco” é a apoteose do “samba do mutante doido” que foi os anos 90 nas revistas dos títulos “X” e em muitas outras contemporâneas. Um roteiro mixuruca seguido de desenhos desnecessariamente exagerados e que, muitas vezes, não casavam com o que era dito no texto. Além da falta de continuidade ABSURDA quando a história trocava de desenhista e um vilão tão merda e com motivações tão imbecis que você ficava pensando “parem de dar atenção a esse idiota usando um triturador como capacete e vão fazer o que você fazem de melhor, X-Men dos anos 90: jogar uma partida de baseball ou de basquete na Mansão X”.
A quizumba toda começa quando o Professor Xavier (sim, pra mim “Professor” começa com letra maiúscula por que já virou nome próprio pra este infeliz careca) resolve que fazer um discurso de paz entre humanos e mutantes no meio de um show de rock no Central Park, onde grande parte do público intolerante à mutantes está bêbado e possivelmente drogado, é uma ótima ideia! Assim que estava pra ser linchado pelo publico, Xavier é alvejado com um tiro no centro da titela e cai desfalecido. O atirador é nada mais, nada menos que Cable, o mestre das pochetes. Xavier é levado as pressas para o hospital e lá Hank McCoy descobre que Chico Xavier, o espirita mutante da verdade, foi infectado com um vírus tecno-orgânico, o mesmo que vitimou Cable afim de justificar o fato de ele ser uma cópia descarada do Exterminador do Futuro By Rob Liefeld. Agora os X-Men vão caçar a X-Force afim de localizar Cable e tentar entender por que ele atacou o Professor X. Paralelo a esses acontecimentos, Scott Summers e Jean Grey são sequestrados por Conflyto, o vilão com a motivação mais idiota do universo Marvel. Agora os X-Men precisam correr contra o tempo para salvar Xavier, encontrar Scott e Jean e encher 260 páginas com “conflytos” totalmente desnecessários.
Quando comecei a ler esta HQ postei no Facebook que estava muito divertida, principalmente em comparação a quizumba que anda a Marvel hoje em dia. No entanto, eu havia lido apenas umas 30 ou 40 páginas e, logo após isso os anos 90 mostraram sua verdadeira face. A história é um fiapo usado como desculpa pra colocar dezenas de personagens se batendo enquanto falam a la Power Rangers. Ou seja, se o Wolverine dá uma porrada em um vilão em meio a uma batalha e a próxima cena é o Fera dando porrada em outro, OBRIGATORIAMENTE rolará um diálogo “passando a bola”. Segue o exemplo abaixo:
Wolverine ataca com ferocidade um soldado e diz :
-Cuida da retaguarda, peludão.
Fera dá um golpe em um soldado que atacava por trás e responde:
-Obrigado pelo aviso, Wolverine. As coisas estão ficando um tanto tempestuosas por aqui.
Nesse momento, Tempestade lança um raio em um grupo de soldados:
-E ficarão muito mais se depender de mim, Fera. Não temos muito tempo, precisamos ser rápidos ou Conflyto escapará.
Um vulto azulado cruza a sala com velocidade derrubando alguns soldados e se revela como Mércurio:
-Alguém falou em ser rápido?
E esse tipo de diálogo se arrasta e se repete POR TODA A MALDITA HISTÓRIA!
Outro ponto negativo é a arte extremamente poluída em muitos momentos. São personagens destruindo coisas, com entulhos voando pelos ares enquanto os desenhos de um quadrinho sangram pra outro em uma confusão visual que deveria ser dinâmico e impactante mas resultam apenas em um amontoado de bagunça. Aliás, essa história foi produzida pouco depois que Jim Lee, a estrela máxima a frente dos X-Men, havia saído da Marvel pra ir fundar a Image junto com McFarlane e companhia, por isso a arte é pura emulação genérica e descarada de Jim Lee. O único sujeito que foge um pouco desse padrão é Jae Lee, que traz uma arte sombria e estilizada que lembra muito um mescla de Simon Bisley, Mark Texeira e Mike Mignola pré-Hellboy. Aliás, quando estava nos capítulos desenhados por ele eu ficava tão absorto nos desenhos que até ignorava a trama imbecil.
Por falar em “arte”, a falta de continuidade aqui é gritante! Na verdade, isso era bem comum nos anos 90 e não duvido que aconteça ainda hoje. Como “A Canção do Carrasco” foi publicado original e simultaneamente em 3 títulos mutantes diferentes (X-Men, X-Force e X-Factor) é óbvio que os desenhistas estavam fazendo cada parte da trama que lhe era de responsabilidade em seu canto. O grande problema é que não pareciam trocar informações pra manter o minimo de coesão visual entre suas histórias. Assim, personagens que usassem uma roupa “A” em uma edição dos X-Men apareciam usando uma roupa “B” na edição do X-Factor, mesmo que cronologicamente só houvessem passado uns 10 segundos de uma cena para a outra. No entanto, parece que nem os roteiristas concordavam uns com os outros ou os desenhistas pareciam ler o roteiro muito por alto (ou eles eram apenas mal escritos mesmo) e o Apocalipse é a prova viva disso. Assim que o personagem aparece na história, ele havia sido despertado de um sono onde estava recuperando suas forças. O mutante azulão diz que ainda está muito fraco mas levanta com o físico de um personagem de Hokuto No Ken. No entanto, quando aparece em outro capitulo desenhado por outra pessoa, ele aparece com o físico do seu Madruga, ainda reclamando da fraqueza só para, 20 páginas depois, continuar fraco mas aparecer mega-musculoso de novo. Um cabaré só!
Agora falemos do vilão Conflyto. A HQ não se preocupa em explicar quem diabos é este vilão de visual HORRENDO, talvez por que, na época, tivessem lançado alguma outra história que explicasse suas origens, mas em X-Men Gigante 1 ele é jogado na trama e você que se vire pra entender por que ele parece o Cable. Tive que pesquisar na internet após terminar a leitura pra descobrir que o sujeito é um clone do Cable feito pelo Apocalipse mas sem o vírus tecno-orgânico no corpo. Durante as 260 páginas, tudo que entendemos é que ele é uma versão do Cable e que ele quer acabar com Scott Summers e Jean Grey por que eles não o amaram e cuidaram dele como a um filho. Uma história que deveria ser dramática mas que soa imbecil pra caramba aqui.
Enfim, X-Men Giagante 1 é uma edição BEM RUIM por se apoiar em tudo de pior que as HQs dos anos 90 tinham a oferecer. Ainda assim, tem os personagens clássicos sendo eles mesmos e não tentam reinventar a roda, como muita HQ da Marvel nos últimos anos. Foi ruim mas me distraiu. Recomendo? Não! Só se te oferecerem como troco de pão! Agora é partir pra X-Men Gigante 2 e a saga “Atrações Fatais”. Pode ser ruim? Pode. Mas garanto que não vai ser pior que “A Canção do Carrasco” de jeito nenhum!
Nota: 4,0
PS: Ah, ia esquecendo! O Sr. Sinistro aparece por umas 4 páginas como se fosse ser o vilão da porra toda só pra depois…simplesmente sumir! O sujeito só me aparece no final pra dizer “Aí, vai ter outra saga e eu vou ser o vilão, tá ligado?”. Não, Sr. Sinistro. Obrigado, mas não!