Review Perturbado: Verónica

Um terror como há muito não se via.

Há tempos que o cinema de terror americano vem entregando pouca qualidade e quilos de teor genérico. Apoiados em jump scares e computação gráfica fuleira embrulhados em roteiros previsíveis, os filmes mais entediam que assustam. E tudo só piorou quando James Wan praticamente monopolizou o gênero com seus filmes “mais do mesmo” como Sobrenatural 1,2,3 e 4, Invocação do Mal 1 e 2 e Annabelle 1 e 2. Filmes com nomes diferentes mas com estrutura narrativa extremamente similar e sustos baseados em jump scares previsíveis e fantasmas que parecem figurantes fugidos da Noite do Terror do Mirabilândia.  Logo, não é de se estranhar quando o cinema de fora do eixo volta as raízes do terror e nos entrega um filme onde os personagens movem a trama e a tensão e o medo são o real combustível. Esse é o caso de Verónica, filme que chegou recentemente a lista da Netflix e que PRECISA ser visto pelos fãs do terror.

A trama do filme é a seguinte: O ano é 1991 quando conhecemos a garota que dá título ao filme. Verónica é uma adolescente completamente normal que precisa cuidar de duas irmãs mais novas e de seu irmãozinho caçula, já que sua mãe trabalha como garçonete em um bar/restaurante e quase não para em casa. O pai de Verónica morreu anos atrás e a garota, bem como toda sua família, sente fortemente sua falta. E é movido por esse sentimento de perda que Verónica, junta a outras duas amigas de escola, resolvem usar o tabuleiro ouija para tentar comunicação com seu falecido pai. No entanto, estranhos acontecimentos fazem com que as duas colegas de Verónica abandonem o ritual no meio e apenas ela continua conectada ao copo sobre a ouija como que em transe. As garotas fogem e deixam Verónica para trás, que acorda na enfermaria do colégio. Aparentemente ela está bem, mas vai descobrir que algo permaneceu com ela após aquela experiência…

Baseado em uma história real, o filme dirigido por Paco Plaza (do igualmente ótimo [REC] ) te leva pela mão por uma história que começando soando como um “Ah, certo…mais um clichê…aff…” e, quando você se dá conta, sente sua mão sendo apertada e percebe que o passeio inicial se tornou uma viagem vertiginosa e perturbadora. O filme ameaça te entregar uma “Lá vamos nós pra mais uma produção a la James Wan de novo…” mas Paco Plaza sabe pegar o clichê e transformar a previsibilidade em angustia. Muito disso pelo simples fato de não focar a atenção em jump scares cretinos mas, sim, nos personagens e na crianção do vínculo com o expectador. E, acredite, no terceiro ato você vai estar se debatendo em desespero por não poder fazer nada pra ajudar cada um deles.

Outro ponto a se destacar é o maravilhoso elenco. Desde Sandra Escacena, que faz o papel título, até o pequenininho Iván Chavero, que faz o pequeno Antoñito, todos te passam veracidade e te fazem se apegar a eles em questão de segundos. Se debater pra ajudar, lembra?

Sério, fazia MUITO tempo que eu não via um filme que me dava calafrios ou me fazia olhar pros cantos escuros de minha casa com desconfiança. O filme consegue ser um drama familiar sem ser piegas, um terror sobre possessão sem se tornar um clichê chato e, de quebra, um filme que você sentirá gosto de indicar, como estou fazendo agora. Por isso, se não estiver fazendo nada neste momento, vá até a Netflix e veja Verónica.

Nota: 9,5