Review Noventista-Savage Dragon: Unidos
Preparem-se para uma viagem no tempo…
Quando surgiu em 1992, a Image Comics tinha, por objetivo, dar total liberdade aos criadores além de garantir o direito dos personagens por eles criados, ao contrário do que acontecia na Marvel e DC. Com a liberdade garantida e a possibilidade de inovar no ramo dos super-heróis…todos resolveram fazer MAIS DO MESMO! Tivemos Jim Lee criando os Wildcats, que era um X-Men genérico, tivemos Rob Liefeld criando Youngblood, Bloodstrike, Blood Blood, Sangue Blood, Blood Sangrento…TODOS cópias descaradas de personagens Marvel, tivemos o Spawn de Todd McFarlane que seria um Venom mesclado ao Batman, tivemos os pontos fora da curva com Marc Silvestri com Darkness e Witchblade, e tivemos Erick Larsen com seu Savage Dragon, um fortão verde com uma barbatana na cabeça, que desconhecia a própria origem e, por motivos de “por que sim”, era incorporado a força policial de Chicago.
Todos os personagens fizeram muito ou relativo sucesso, pois a Image chegou para “inovar” com suas cores digitais, coisa, até então, inédita, e nos brindou com uma gama de personagens e histórias totalmente esquecíveis a longo prazo (alguns a curto prazo…beijo, Liefeld). No entanto, apenas dois realmente se mantiveram longevamente sem interrupções. Foram eles Spawn e Savage Dragon. No entanto, Spawn sofreu mudanças de visual, de paradigma e até de conceito, enquanto Savage Dragon se manteve fiel ao espirito dos anos 90 mesmo depois da chegada dos anos 2000 e, com eles, as histórias mais “realistas” nas HQs de super-heróis.
Mas não me entenda mal quando digo que Savage Dragon se manteve “noventista”, tendo em vista que esse foi um período negro em termos de qualidade das HQs. Acontece que SD (Savage Dragon, sua anta) não queria reinventar a roda e tentar fazer algo novo e revolucionário embrulhado em papel velho, como muitas HQs da Image faziam com suas cópias “X-Treme” dos X-Men. Erick Larsen, criador do personagem, queria apenas fazer histórias divertidas e descompromissadas, sem apelar pra pseudo-filosofia. Era massavéio puro e, por se assumir assim, deu tão carto. Pelo menos lá fora, já que aqui só tivemos 16 números publicados…
Claro que o personagem manteve uma base de fãs órfãos no Brasil que conseguiram matar um pouco dessa orfandade com a chegada da internet e a possibilidade de ler o material inédito em terras brazucas via scans. SD só seria visto impresso novamente nas bancas e livrarias brasileiras quando seu encontro com Hellboy foi lançado em 2001 pela Mythos e quando a revelação de sua origem foi publicada pela HQM, em 2007. O verdão só voltaria a ser publicado no Brasil em 2012, quando a Mythos teve a “sensacional” ideia de lançar Savage Dragon: Unidos, um encadernado em capa cartonada, com 140 páginas que reuniam as edições 139 à 144 de Savage Dragon, lançados originalmente em 2008, ao “módico” valor de R$45,90! Isso mesmo: QUARENTA E CINCO E NOVENTA em um encadernado de capa cartonada! Depois eles dizem que não vendem nada em capa cartão por que ninguém compra…por que será, né?
OBVIAMENTE, encalhou com maestria! E, 5 anos após sua publicação, Savage Dragon: Unidos volta as bancas, agora pelo mais convidativo valor de R$14,90. Claro que olhar pra uma capa de uma HQ com o traço fedendo a anos 90 e que ainda tem o Spawn e a Witchblade saltitando na capa junto a um não tão conhecido Shadowhawk, não a torna a primeira escolha de ninguém ao entrar na banca. Talvez nem a última. No entanto, eu lembrava com carinho do personagem, mesmo tendo lido apenas um crossover com as Tartarugas Ninja, mas sempre ouvia falar muito bem de sua HQ solo até os dias de hoje, e sem falar que eu curtia o traço do Larsen no Homem-Aranha. Ainda a favor, só custava R$14,90, em uma época onde uma HQ do Batman de 35 paginetas custa R$9,90. Levei!
Após toda essa enrolação (praticamente uma história de origem que ninguém perguntou), finalmente falarei sobre esta publicação que não chama lá muito a atenção dos leitores mais novos e causa extrema desconfiança nos mais velhos quando à veem nas prateleiras das bancas. Em primeiro lugar, é bom ressaltar uma coisa: Lembrem-se que Savage Dragon AINDA é uma HQ dos anos 90! Ela não mudou! As histórias continuam sendo massavéio, Erick Larsen não transformou sua HQ de super-herói em uma novela cheia de tramas governamentais, intrigas internacionais e draminhas xexelentos que se arrastam por longas edições de conversa mole. O que impera aqui é a fórmula simples “temos um vilão…vamos acabar com ele na porrada!” e, sabem de uma coisa? ISSO É ÓTIMO!
A história é divertida, cheia de momentos engraçados e criticas ácidas e sem medo de citações as outras editoras e seus personagens, mesmo que Larsen utilize-se de clichês que já cansaram os leitores, como o “Superman que deu errado e virou vilão”, elemento já usado a exaustão em tantas outras histórias de tantas outras editoras e, recentemente, pela própria DC em sua franquia de games Injustice. Até a participação dos demais personagens que aparecem na capa da HQ são mais breves do que se esperava, tornado a capa meio “sensacionalista”, já que das 6 edições que compõem o encadernado, eles só participam de 3 (alguns só de 2), trazem sua parcelinha de diversão, apesar de bem subaproveitados em uma trama em que eles nem cabem direito (me refiro, especificamente, ao Spawn). Sim, o grande problema desse encadernado não é seu climão “revista descerebrada”. Esse, na verdade, é seu charme. O grande problema é, justamente, a falta de um panorama maior para o leitor, já que só tivemos 16 edições publicadas no Brasil e, a menos que você tenha acompanhado através de scans, você vai ficar COMPLETA E TOTALMENTE PERDIDO na trama que NÃO É UMA HISTÓRIA TOTALMENTE FECHADA e, muito menos, é uma história que vai te deixar 100% confortável apesar disso, como a introdução do encadernado quer te levar a crer.
Entenda, esse não é um encadernado que compila uma mini-série. Como eu já disse, está edição é uma compilação das edições 139 à 144, ou seja, vai ter MUITA coisa jogada e você vai ter que se virar pra entender com as poucas informações que lhe são passadas no decorrer da história. Se você conseguir ignorar isso, como eu fiz, talvez se divirta mais ainda. Mas, se você é daqueles que sente a necessidade de ligar os pontos de maneira clara e direta, vai se sentir completamente incomodado com o roteiro cheio de lacunas e situações sem prévia explicação.
Outro ponto não muito positivo a ressaltar: a arte de Erick Larsen. Se você, assim como eu, gostava do traço do cara nos anos 90, já que ele tinha um estilo próprio, meio geométrico, e que se distanciava da síndrome do “quero ser Jim Lee”, que assolou os quadrinhos o inicio daquela década, talvez se sinta um tanto decepcionado aqui. O traço do Larsen ainda é reconhecível, ainda está lá..o grande problema é que o cara escreve, desenha e arte-finaliza a coisa toda praticamente SOZINHO desde os primórdios e, com o volume de trabalho que isso acumula, o sujeito já não anda mais com o traço tão afiado, talvez afim de cumprir prazos, não sei. O caso é que seu desenho parece rápido demais, feito as pressas e com um acabamento pobre, sujo e diferente do que costumava ser. Traçando um comparativo mais claro, se você leu O Cavaleiro das Trevas 2, vai notar uma certa semelhança do traço do Larsen com o do Frank Miller na infame HQ do morcegão. São personagens com mãos e pés gigantes, personagens atarracados e traço inconstante. No entanto, o resultado final não chega a ofender tanto quanto o trabalho de Miller.
O capitulo final é uma espécie de prologo para um novo capítulo na vida do Dragon que…talvez a gente nunca veja! E foi com essa desculpa de “um novo começo para o personagem” que a Mythos vendeu a edição. No entanto, isso saiu em 2012, lembram? Ou seja…não creio que veremos esse “novo começo” a partir de um encalhe. E outra, caso saia pela Mythos, não creio que muita gente vá ver por causa dos famosos preços surreais da Mythos. Êêêêê, Mythos…
Bem, apesar dos pesares, o saldo final de Savage Dragon: Unidos, pra mim, foi até positivo. Eu me diverti e fiquei com vontade de acompanhar as aventuras do Dragão de Chicago. Então, se você é um leitor mais recente, habituado mais a Marvel e DC, esse certamente não é um material para você. Já se você é um leitor velhaco e está reticente quanto a comprar tal encadernado…bem, eu posso dizer que não será um risco total, dado que custa apenas R$14,90. Só tenha em mente tudo que falei acima e julgue se vale mesmo a pena. Pra mim, valeu. Mas não sou parâmetro pra muita coisa…
Nota: 7,0
PS: Esqueci até de dar a sinopse da bagaça. Seguinte: As 3 primeiras partes mostram Solar Man, um Superman que pirou de vez e acha que o jeito é matar tudo quanto é vilão, mesmo que inocentes morram no processo (quase o Superman do Snyder). Savage Dragon, Invencível, Witchblade e Shadowhawk se unem para detê-lo quando ele resolve exterminar o Spawn, já que Al Simons era um assassino no passado. Muita porradaria come solta daí por diante. As edições 4 à 6 se focam nos problemas pessoais do Dragon, revelando o destino de seus filhos em uma trama que te deixa boiando em muitos momentos, já que são reflexo de uma saga que nunca foi publicada no Brasil, e ainda revela o destino da esposa do Dragon, que eu nem sabia que ele tinha…enfim, tem seus momentos bizarramente engraçados, como a cena em que um tipo de menina-aranha lança teia em um inimigo pelo…bem por onde o Homem-Aranha cientificamente correto lançaria. E outro momento esquisito, onde o casal de filhos do Dragon se beijam…na boca! Essa eu acho que entendi mas, ao mesmo tempo não…foi esquisito, mesmo com a explicação dada durante a história (ela não era a “verdadeira ela”. Era uma ela de outra dimensão…ou algo assim! Ainda assim, tem a cara da irmão do moleque..que doentio…espero que eu tenha entendido errado…).
PS 2: Savage Dragon teve uma séria animada de 26 episódios divididos em duas temporadas e que foi exibida entre 1995 e 1996 no EUA. Não lembro se chegou a ser exibida no Brasil como a série dos Wildcats, que foi exibida pela Record, mas creio que não. Enfim, fiquem com a abertura da bagaça!
https://www.youtube.com/watch?v=uL6YEgFWJMI