Review Inocente: Jojo Rabbit
Um Jojo em uma Bizarre Adventure beeeem diferente…
Antes que você se pergunte, não! Essa não é mais uma saga do mangá Jojo’s Bizarre Adventure cujo o Stand do protagonista é Hitler! Jojo Rabbit é uma comédia/drama de guerra dirigido por Taika Waititi, o mesmo sujeito maluco por trás de coisas LINDAS como What We Do In The Shadows e Thor: Ragnarok.
A trama gira em torno do pequeno Johannes Betzler, conhecido pela alcunha de Jojo, um garoto de 10 anos que é OBCECADO por Hitler e pelo partido nazista. Tudo, claro, graças ao que lhe é ensinado nas escolas e nas ruas da Alemanha da Segunda Guerra Mundial. Para Jojo, judeus são demônios mutantes e disformes com poderes de controlar as mentes das pessoas e voar com suas grandes asas de morcego. Junto a Jojo vive sua mãe, Rosie Betzler, que está sempre bem humorada, otimista e que, obviamente, é LOUCA pelo filho. O pai de Jojo foi a guerra e há dois anos não se tem noticias dele. Ah, e claro, temos o MELHOR AMIGO de Jojo! Ninguém mais ninguém menos que…Hitler! Claro, uma versão imaginária e que age de acordo com a cabeça de um menino de 10 anos que o vê como uma figura heroica e quase lendária que come unicórnios na hora do jantar. Mas a vida de todos está pra mudar quando Jojo descobre que sua mãe esconde um segredo dos grandes! Uma jovem judia que mora em uma câmara secreta na parede do quarto de sua falecida irmã. Agora Jojo terá que decidir entre ajudar a mãe a esconder o segredo (mesmo que ela não saiba que ele descobriu tal segredo) ou honrar a amizade de seu herói, o “amado, destemido e bondoso” führer.
Jojo Rabbit não é apenas uma comédia com piadotas divertidas como o trailer e o histórico de Taika Waititi possam nos fazer crer. Jojo Rabbit é um FILMAÇO com “F” de “FODA”! O filme equilibra humor escrachado, drama pesado e sensibilidade quase como aqueles garçons que empilham 20 pratos numa bandeja de metal minuscula e você fica esperando cair mas o filho da mãe maneja aquilo com uma destreza tal que parece estar levando um único pires sujo no centro da bandeja. A analogia pode parecer bizarra mas eu vi uns garçons fazendo isso no casamento de minha cunhada e foi realmente impressionante…
Pra começar temos a inocência de Jojo, interpretado pelo nojentamente talentoso Roman Griffin Davis, que nos apresenta o mundo dos nazistas com uma inocência tal que você fica num estado de “ooown, que burrinho tão fofo” o filme todo. E é justamente essa sua inocência que produz o hilário Hitler interpretado pelo próprio Taika Waititi, que sempre está junto a Jojo quando ele mais precisa e sempre está bolando os planos mais absurdos para ajudá-lo. Ah, e sempre está oferecendo cigarros ao menino quando estão em uma situação de stress, o que rende uma cena hilária onde o próprio Jojo se irrita com o ato do führer maluco.
Então temos Rosie, interpretada por Scarlett Johansson de uma maneira que você quase acredita que a atriz nem se esforçou pra entrar no personagem, tamanha a naturalidade e o bom humor que ela passa. No entanto, assim como durante todo o filme, em alguns momentos o humor dar lugar a tons muito sérios e em um desses momentos, durante uma discussão com Jojo que diz que queria que o pai estivesse lá pra deixá-lo fazer algo que a mãe não deixa, Rosie resolve interpretar o pai em uma cena que é forte e poética ao mesmo tempo e serve pra ilustrar ainda mais o amor que a mãe tem pelo filho.
Pra fechar o grupo principal de protagonistas temos Elsa Korr, a menina judia interpretada por Thomasin McKenzie. Ao contrário do que se pensa quando ela aparece pela primeira vez em tela, acuada em um canto escuro, Elsa é extremamente corajosa e sagaz e se aproveita do medo que Jojo tem dos “monstros judeus” pra assustar o garoto e mantê-lo de boca fechada. Obviamente as coisas vão mudando entre os dois e Elsa acaba por ajudar a mostrar a Jojo o que sua mãe sempre quis mas não podia por medo do fanatismo do filho lhe causar problemas com o partido nazista: Jojo não é um nazista, é só um menino de 10 anos que acredita demais no que lhe dizem, mesmo que sejam coisas erradas.
De coadjuvantes temos Sam Rockwell como o hilário e metido a machão Capitão Klenzendorf, seu assistente Finkel, interpretado por Alfie Allen, que é meio “estranho” para os padrões nazistas e em uma ceninha rápida acaba denunciado que o Capitão Klenzendorf não é tão “machão” assim, e Rebel Wilson interpretando Fraulein Rahm, a oficial mais maluca do exército nazista e que leva tudo ao pé da letra. Destaque para uma cena onde Jojo diz que quer ir pra guerra e sua mãe ironicamente diz “Claro! Eu autorizo esse menino de 10 anos a ir pra guerra! Alguém dê uma arma pra ele!” e Fraulein Rahm automaticamente já está entregando um documento de admissão e uma pistola ao menino. A falta de noção dessa criatura só fica pior perto do fim do filme, acreditem…
Como eu já disse, o filme é hilário e Taika Waititi sabe falar de nazismo de uma maneira brilhantemente debochada. Mesmo mostrando personagens nazistas ferrenhos, suas ações são sempre mostradas de um modo onde se evidencia o fanatismo ridículo e cada cena onde esse fanatismo é mostrado recebe tons de sarcasmo tão pontuais que é impossível não cair na gargalhada. Mas são justamente esses momentos de humor unidos aos momentos de inocência e bondade de Jojo que fazem o filme ficar ainda mais pesado quando o fator “drama” entra em cena. E é aí que percebemos que o filme não é apenas uma comédia sobre como os nazistas eram imbecis. O filme é sobre a perda da inocência de um menino de 10 anos que começa a perceber que seu mundinho não corresponde ao mundo lá fora. Que tudo em que ele acreditava não corresponde a realidade, que nem todos os que julgavam bons eram, de fato, bons e nem todos que julgava maus eram, de fato, maus. E que alguns seguiam seus papéis do lado dos maus apenas para se manterem vivos. Mas, sobretudo, o filme é sobre aprender a ter fé e acreditar que tudo passa, que o importante é aguentar, seguir em frente e ter em quem confiar. Mesmo que sejam as pessoas mais inesperadas do mundo.
Enfim, Jojo Rabbit é um filme surpreendentemente lindo! Traçando um comparativo, ele é quase uma versão com mais humor de “A Vida é Bela”, só que mostrando o outro lado da moeda. Um filme que vai te fazer rir, chorar, suspirar e refletir. Então, vejam! Se deem esse presente!