Review Duplo: Eu Mato Gigantes.

HQ x Filme.

Olá, jovos e jovas, hoje farei um review dois em um. Falarei da HQ escrita por Joe Kelly e desenhada por J. M. Ken Nimura e lançada em 2009 e de sua recente adaptação para o cinema, também escrita por Joe Kelly e lançada em abril.

Então vamos por partes.

 

A HQ

Somo apresentados a pequena Bárbara, uma garota que vive com seu irmão, Dave, e sua irmã mais velha e que faz o papel de mãe, Karen. Bárbara é apaixonada por RPG e tem fama de ser uma mestra severa, levando praticamente todos que se aventuram em suas campanhas á morte certa. Até aí Bárbara parece uma garota normal. No entanto, Bárbara é uma garota de poucos amigos, os poucos que tem são os amigos de seu irmão, que acabam sendo amigos dela por tabela mas pouco se relacionam com a garota fora das partidas. Outro fator que acaba afastando as outras crianças de sua idade de seu convívio é o comportamento “estranho” de Bárbara, já que ela se auto-proclama como uma…matadora de gigantes! E, não, ela não está se referindo aos RPGs mas, sim, ao mundo real!

Tudo começa a mudar na vida de Bárbara quando duas novas figuras entram em sua vida. A primeira delas é Sophia, sua nova vizinha e que não conhece ninguém da cidade mas se sente curiosa com relação a Bárbara e tenta, a todo custo, ser sua amiga, mesmo que a caçadora de gigantes não concorde muito. A segunda é a nova psicóloga da escola, a sra. Molle, a qual se interessa pelo caso de Bárbara já que desconfia que ela esconda um segredo muito maior do que aparenta.

Mas é claro que temos os vilões também! Além dos gigantes, Bárbara tem como inimiga mortal a valentona e “meio gigante”, Taylor. A garota que se acha literalmente a gostosona da escola anda com suas duas capangas e tem como missão de vida aporrinhar Bárbara simplesmente porque…a acha estranha! Sim, uma típica bully de cabeça oca. Mas se você pensa que Bárbara é a típica vítima indefesa, você está muito enganado(a)! Bárbara não leva desaforo pra casa e revida não apenas verbalmente, como também fisicamente quando é necessário. Com ela é “bateu, levou” e não se deixa intimidar pela desvantagem, afinal ela é uma matadora de gigantes, esqueceu?

A HQ é uma das coisas mais divertidas e emocionantes que tive o prazer de ler esse ano. E confesso que só o fiz porque vi que o filme tinha sido lançado. E, velho, que bom que fiz isso! O roteiro de Joe Kelly  (roteirista da fase do Deadpool que está saindo na coleção Deadpool Clássico e que foi/é usado como base para os filmes do personagem) é divertido e, ao final, emocionante como poucas vezes vi em uma HQ. E unido ao traço dinâmico e estilizado de J. M. Ken Nimura formam uma simbiose perfeita e deliciosa de se acompanhar. Sério, li os sete capítulos numa tacada só e nem senti o tempo passar. Ah, vale destacar também as tirinhas ao fim de cada capítulo que contam a saga que foi produzir a HQ, sempre hilárias e divertidíssimas! Agora vamos ao…

FILME

Também roteirizado por Joe Kelly, a adaptação de Eu Mato Gigantes pega toda a parte dramática da HQ…mas esquece a parte divertida e engraçada! Sim, ainda temos a Bárbara que ama RPG, que não leva desaforo pra casa e que diz ser uma matadora de gigantes com todo o orgulho, mas tudo em muito menor escala.

No filme, Bárbara é uma amante de RPG mas não tem com quem jogar, já que seu irmão prefere jogar vídeo-game com seus amigos e menospreza o jogo de mesa como algo arcaico e para idiotas. Essa mudança duplica ainda mais a sensação de isolamento e solidão de Bárbara, já que seus poucos amigos eram seus companheiros de RPG, mas também tira sua fama de “mestra má” que era um dos pontos de humor da HQ. Outra mudança está no inicio do filme, que gasta mais tempo mostrando Bárbara fazendo armadilhas para gigantes em cenas longas e demoradas…e até tediosas, em contraponto a HQ que começa na escola onde já confronta uma professora dizendo que é uma matadora de gigantes e é isso aí! Aliás, o ritmo da HQ é muito mais ágil e divertido e as interações com outros personagens são maiores, enquanto que o filme tem longos momentos de solidão de uma Bárbara mais soturna e menos “simpática”. Por “simpática”, leia-se “maluquinha gente fina pela qual você se apega instantaneamente”.

E isso nos leva a mais uma mudança na essência da HQ e da personagem. Enquanto que nas HQs a Bárbara é mais sarcástica e do tipo “bateu, levou”, no filme ela teve seu sarcasmo diminuído exponencialmente e a parte do “bateu, levou” foi jogado pra escanteio, já que quando enfrenta a Taylor (no filme transformada em uma menina alta e magrela) , ela só o faz verbalmente e nunca revida fisicamente. Aí pode ser aberta a questão do “pra evitar violência entre crianças no filme”, mas não! Em uma ceba Bárbara é ESPANCADA por Taylor e suas duas capangas e não revida em momento nenhum, então isso não se justifica. Na HQ ela sai no braço com Taylor umas duas ou três vezes e não deixa barato!

Eu não quero dar spoilers porque acho que vale a pena DEMAIS a conferida em ambas as produções, mas é cabível dizer mais uma vez que o final da HQ é triste e lindo ao mesmo tempo e a impressão que se tem é que Joe Kelly, talvez por ordem dos executivos, resolveu enveredar só pelo lado do drama e deixar o humor de lado, o que é uma pena. Quando fui ver o filme, obviamente após ler a HQ, eu esperava algo com o visual mais “pop” visto em Scott Pilgrim, por exemplo, já que a HQ tem muitos momentos de humor visual e alguns momentos “psicodélicos”, por assim dizer, onde a imaginação da Bárbara ganha vida. Na HQ ela costuma interagir com pequenos seres alado que parecem fadinhas e algumas tem um humor tão irônico quanto o dela. Isso foi completamente limado do filme. Na HQ, quando ela está feliz, ela vê algumas criaturas que parecem se divertir ao redor das pessoas normais. Isso também foi limado do filme. Ao invés disso, o filme introduz um gigante que toma boa parte do primeiro e segundo ato e dois “observadores”, criaturas sombrias que interagem com Bárbara em alguns momentos do filme, coisas que não estão na HQ.

O único ponto que segue com certa fidelidade a HQ é a cena final, que é originalmente dramática e, por isso, foi muito bem adaptada.

 

 

VEREDITO

Eu Mato Gigantes  é uma HQ divertida e emocionante que tem um final lindo, mas não se esforça muito em esconder o segredo por trás do mundo de fantasia criado por Bárbara. Na metade da HQ você já sacou o que está havendo mas isso não tira nem um pouco da graça, muito pelo contrário, só te faz sentir mais simpatia pela menina. Já o filme é um drama lento e pra baixo e se esforça ao máximo em esconder o segredo de Bárbara pra gerar um plot twist mais forte ao fim. Essa escolha por uma verve mais sóbria pode incomodar um pouco quem leu a HQ e esperava toda aquela energia no filme. Mas não chega a ser uma péssima adaptação, ficando alguns degraus abaixo da obra mas podendo funcionar muito bem como obra independente. Aliás, minhas notas abaixo são baseadas no fato de eu ter lido e me apaixonado pela HQ primeiro, talvez fosse diferente caso eu apenas tivesse visto apenas o filme.

 

NOTAS

HQ: 10

Filme: 7,0

PS: Acabei esquecendo de avisar que a HQ foi lançada no Brasil pela NewPop em 2013 e ainda pode ser encontrada para compra internet afora!