Review do Ódio: Apóstolo
Mais um original Netflix…
A Netflix é um serviço de streaming que assina com algumas empresas afim de colocar as séries, filmes e animações produzidas por elas em seu catálogo por um certo período de tempo. Assim que o período termina, a Netflix tira os títulos de seu catálogo e as opções virtualmente diminuem. Tentando evitar esse “prazo de validade” nos títulos oferecidos, a Netflix tem investido em séries, aimações e filmes autorais para que esses permaneçam perpetuamente em sua grade. O problema é que muitos desses produtos são feitos as pressas e alguns deles dão a impressão de que alguém chegou nos executivos da Netflix e disse “Olha só esse roteiro que encontrei jogado na lixeira do banheiro de um posto de gasolina no meio do nada! Se tirar essas manchas marrons e brancas suspeitas dele, dá pra usar!”. E eu tenho tudo pra crer que foi assim que surgiu a ideia de Apóstolo, mais novo terror produzido pela toda poderosa empresa de streaming.
Antes de mais nada, vamos a sinopse: Um homem recebe uma carta dizendo que sua irmã se encontrava cativa em uma misteriosa ilha onde viviam os membros de um estranho culto. Para tê-la de volta, era exigido uma quantidade considerável de dinheiro. No entanto, para descobrir mais sobre o tal lugar afim de desmascarar suas práticas escusas, o homem se infiltra incógnito na tal comunidade e acaba por se deparar com coisas que vão além de sua imaginação.
Pela sinopse parece até interessante, apesar de não ser nenhuma novidade, não é? Pois é, essa sensação de interesse só se intensifica quando você vê o trailer:
E é aí que entra todo o problema! MAIS UMA VEZ temos um filme onde o trailer o vende de um jeito e nos entrega algo TOTALMENTE DIFERENTE!
Confesso que o filme me chamou a atenção inicialmente pelo trailer, mas o gatilho da minha curiosidade só foi disparado de vez quando vi quem era o diretor, um sujeito chamado Gareth Evans, nascido no Reino Unido mas que fez fama ao dirigir os filmes de ação indonésios The Raid 1 e 2 (Operação Invasão 1 e 2) e Merantal, todos estrelados por Iko Uwais. Em 2013 foi chamado para dirigir um segmento da antologia de terror found-footage VHS 2, onde se saiu assustadoramente bem, mostrando que manjava não apenas de ação mas de terror gore de primeira, sendo que seu segmento, em minha opinião fecal, é um dos melhores do longa. E foi justamente por isso que fui assistir Apóstolo com o “modo pé atrás” desligado. Pois é…quebrei a cara em mil pedaços!
Pelo trailer eu esperava uma trama estilo “Silent Hill encontra Resident Evil 4”, com o maluco descobrindo uma comunidade que havia invocado um demônio o adorava como a um deus, e o personagem principal descobriria isso e sairia distribuindo porrada em seres infernais do meio do filme em diante. Mas, não! O que nos é entregue em suas longas 2:10hr de uma trama incomodamente arrastada, com alguns elementos misteriosos sendo jogado em tela só para serem ignorados em prol de draminhas familiares, escassos momentos sobrenaturais que são prontamente ignorados após serem introduzidos na trama, e um final com vários momentos “Ô, PORRA, PARA DE SER BURRO” sendo jogados em sua cara é um A Vila com freio de mão puxado.
Daqui pra frente eu vou sentar o dedo no SPOILER, então estejam avisados!
O que acontece é que temos sim, um culto pagão em uma ilha, e temos um “pastor do mal” cuidando de tudo junto a mais dois fundadores da tal religião. Mas, não, eles não adoram uma entidade demoníaca, como o trailer leva a crer. Ao invés disso, eles veneram uma entidade que seria o “espirito da ilha”, uma criatura elemental, quase uma espécie de “mini-gaia”, que se manifesta na forma de uma senhora. Eles a escravizam e descobrem que se alimentá-la de sangue, a ilha floresce e dá frutos e, por consequência, garante o sustento de toda a comunidade. Sabendo disso, o trio cria a tal religião para tirar vantagem de pessoas inocentes, o que é uma baita critica a muitas religiões oportunistas que permeiam nosso mundo.
Só que o filme parece não se decidir bem até onde estende o caráter sobrenatural da coisa toda. No inicio do filme, quando o personagem principal, o ex- padre Thomas Richardson, se infiltra na comunidade e vai até a igreja, uma especie de aparição rodeia o local como se avisasse ao tal pastor que algo estava errado. Mais adiante, essa mesma aparição se manifesta atrás de Thomas em um corredor e…pronto! Nunca mais volta a aparecer no filme!
Outro coisa que o trailer mostra são o que parecem ser uma espécie de zumbis ou pessoas possuídas. Essa é outra coisa que só aparece em uma única cena de poucos segundos e ainda descobrimos que é uma única pessoa e não várias, e que se trata de um tipo de “sub-chefe” no final do filme, sem grande importância ou explicação pra trama como um todo.
Temos ainda um Thomas Richardson infiltrado na ilha e tentando parecer o mais discreto possível ENCARANDO TODO MUNDO COM UMA CARA DE PSICOPATA ASSASSINO O TEMPO TODO, além de sempre ficar encarando com cara de desconfiando alguém que diga “Estou procurando um intruso! Vocês viram?”. Isso sem falar que o ator que o interpreta, Dan Stevens da série Legion, fala em tons esquisitos em muitos momentos,que acabam soando como “não sei o que estou fazendo nesse filme de merda”.
Depois de 1:20hr de literalmente NADA acontecendo, o filme parece querer começar a engrenar…mas o troço já tá tão entediante que você só quer que o sofrimento acabe logo! Ao final, após uma treta entre os 3 membros fundadores porque o filho de um engravidou a filha do outro, Thomas acaba por descobrir o covil da “mini-gaia” que diz que o esperava para por fim a tudo. Ele confronta o tal “zumbi” que apareceu por 15 segundos no começo do filme, o mata, e depois bota fogo na véia, o que faz a ilha começar a explodir. No entanto, antes ele precisa confrontar um dos 3 fundadores da seita, que parece não morrer fácil, não por ter poderes sobrenaturais nem nada, mas só porque, aparentemente, o roteirista achou que ter uma faca cravada no centro da caixa torácica e revirada pra tudo que é lado não seria o suficiente para matar um ser humano normal. Ao final, Thomas salva sua irmã e, após milagrosamente sobreviver a enorme perda de sangue depois de ter 3 dedos arrancados, 8 perfurações a faca nos pulmões e uma luta corporal nomeio disso tudo, ele se torna o novo espirito da ilha por motivos de “porque sim”.
FIM DOS SPOILERS
De bom nesse filme está a direção de Gareth Evans, que sabe dirigir cenas de violência como poucos. Além disso, o sujeito parece encontrar mesmo seu lugar quando tem cenas de porradaria. O filme tem pouquissímas cenas de enfrentamento corporal, mas são tão bem dirigidas, com planos abertos e sequencias longas que você só consegue lamentar mais ainda o filme não se focar em Thomas derrotando demônios na porrada.
Enfim, Apóstolo é um filme lerdo, arrastado, chato e que se encaixa dentro do “selo de qualidade Netflix” de filmes de terror, que angaria “perolas” como Vende-se Essa Casa em sua vergonhosa lista. Espero mesmo que a Netflix pare de fazer filmes a esmo e comece a prestar atenção no que anda jogando na tela, pois tudo que senti com Apóstolo foi que perdi duas horas de minha vida.
NOTA: 4,0
PS: Pode ser que alguém venha a defender esse filme falando sobre “a simbologia do espirito da ilha ser atrelado ao mito tal com a crença tal e que é preciso entender isso pra absorver melhor o filme e blá,blá,blá”. Bem, eu já adianto uma coisa simples que funciona pra qualquer tipo de filme: Ele JAMAIS deve ser voltado pra um público especifico se seu caráter é comercial! Nem todo mundo que vai assistir vai ser um profundo conhecedor da Wicca ou coisa que o valha. Um ótimo exemplo de filme que fala de algo muito especifico mas consegue se conectar com toda a audiência é Hereditário. Quem entende de Goétia vai entender o filme muito mais profundamente, já quem não entende, vai entender todos os símbolos e signos de um ótimo filme de terror, pois o filme é feito para todos. Então se Apóstolo queria atingir um público especifico, ele quebrou a cara, pois está no serviço de streaming onde Adam Sandler é rei…