Review de Tanga- Superman: O Mundo de Krypton.
Em um mundo dominado pela moda a la Ney Matogrosso, uma história de coragem começa…Acreditem vocês ou não, houve uma época em que ler quadrinhos Marvel e DC não ofendiam a honra dos nossos ancestrais e nem o forro surrado de nossas carteiras holográficas, de veludo ou em alto relevo fechadas à velcro. Um tempo esquecido nos tuneis empoeirado da memória dos mais velhacos: O tempo dos formatinhos!
E foi nesta época longínqua, onde peitinhos e sangue e tripa faziam parte de Sessão da Tarde e cinema em Casa, que os leitores de quadrinhos tiveram seu primeiro contanto com a reinvenção da cultura kryptoniana pelas mãos do homem que deu ao Superman o que muitos consideram como “a origem definitiva”. Senhoras, senhores e “senhoretes”, lhes apresento Super-Homem: O Mundo de Krypton de John Byrne.
Lançado no Brasil em agosto de 1988 para comemorar os cinquenta anos do azulão, a edição especial reúne as quatro edições americanas com o roteiro do supracitado John Byrne mas, ao contrário do feito em O Homem de Aço, aqui ele terceirizou os desenhos. E o trabalho de ilustrar a história ficou nas mãos de um tal Mike Mignola.
Ao contrário do que se espera ao se ler o título da história, não começamos vendo como era a vida dos pais de Kal-El anos antes de Krypton ir pras cucuias. Na verdade, somos jogados mil séculos antes de Jor-El pensar em catapultar seu filho pra Terra, onde a passagem de ônibus custa mais caro que um misto quente. Conhecemos uma Krypton onde todos os habitantes parecem formar um fã clube dos Secos e Molhados, onde homens andando com tangas atochadas no rabo e mulheres vestirem-se como a Satanico Pandemonium parece ser a coisa mais plausível do mundo e onde toda a tecnologia parecer ter saído de uma história do Namor.
Lá, conhecemos Van-L, jovem mamiludo e que só quer saber de viver “la vida loka” ao lado de sua amada Bara. Pelo menos até aquela fatídica noite, quando o ritual de passagem para a vida adulta tornará Van-L um homem (mas que não o fará parar de usar as malditas tangas atochadas no rabo…). É quando Bara sofre um acidente e fica só a paçoca, porém nem Van-L nem a própria Bara parecem se preocupar tanto assim, e descobrimos que este “caguei para estas 18 fraturas expostas” se deve ao fato de existir uma cultura de clones que são utilizados para tratamento médico nas matrizes. Ou seja: se uma pessoa sofre um acidente onde perde um braço, é só ir até o banco de clones, retirar um braço de um dos seus vários clones que estão em animação suspensa, e reimplantar em você, sem o menor risco de rejeição, já que o DNA é o seu!
É claro que existem os grupos que são contra esta prática pois defendem que os clones também são seres vivos e, portanto, tem os mesmos direitos que qualquer um. O conflito se agrava e chega ao extremo quando um homem chamado Kan-Z revela uma terrível acontecimento envolvendo sua noiva, Nyra, e sua mãe. A guerra, enfim, explode.
Damos um salto de mil anos e nos deparamos com um Jaeger Kryptoniano andando por entre escombros e florestas. Dentro dele temos um Van-L amargurado porém com o Renew em dia, já que o homem não envelheceu nadica de nada. Temos um não-tão-breve flashback que mostra quando a guerra estourou e as todas perdas de vidas inocentes resultante dela. Dentre elas estava Bara. Depois de muito caminhar dentro de sua armadura Warhammer 4000, Van-L descobre uma pequena facção rebelde comandada por uma misteriosa mulher que parece conhecê-lo.
Mil séculos depois (menos tempo que sua mulher leva pra se arrumar pra sair…), vemos um jovem Jor-El estudando a história da velha Krypton e de seu antepassado, Van-L. Enquanto acompanhamos o desfecho da saga de Van-L através dos estudos históricos de Jor-El, temos, em paralelo, a história NADA ROMÂNTICA de como Jor -El e Lara, pais de Kal-el (vulgo “Supérômi”), se conheceram e como o conceberam sem NUNCA se tocarem. Aqui, conhecemos um Jor-El apaixonado e cheio de sentimentos incondizentes com sua cultura racionalista. O que me causou um certo incomodo, sobre o qual me aprofundarei mais tarde…
Por fim, chegamos aos dias “atuais”, onde encontramos o nosso velho e querido Super-Homem (nada de Superman aqui! É formatinho oitentista e Super-Homem é Super-Homem e ACABOU!) salvando Metrópolis de mais uma presepada de algum maluco. Depois disso ele volta a ser o pacato Clark Kent e dá de cara com uma enfurecida Lois Lane que quer os gurgumilhos dele por ter chegado antes e feito a cobertura do ultimo feito do Super-Homem. Para acalma-la, Clark diz que Super-Homem tem uma matéria só para Lois (hmmmm,safadenho…). Vamos a velha cena clichê de Super-Homem e Lois no terraço do apartamento da repórter maluca, e Kal-El começa a abrir seu coração e contar tudo que sabe sobre os últimos dias de Krypton. O amor platônico de seu pai pela sua mãe, a luta de Van-L contra um grupo chamado Zero Negro, e como está guerra de cem mil anos atrás fez com que Jor-El descobrisse sobre a iminente destruição de Krypton.
Depois de quilômetros e quilômetros de texto resumindo a budega toda, vamos as minhas impressões!
Como eu não conhecia essa história, confesso que fui pego de surpresa ao conhecer uma Krypton meio “Pabllo Vittar Was Here”, com seus supracitados homens de tanga, com cintos de WWE e capas do doutor estranho, numa coisa meio “Conan encontra Buck Rogers”. Mas com o andamento da história, comecei a relevar esse visual maluco e fui sendo envolvido por ela. Não sei se a ideia do visual partiu do próprio Byrne ou se foi 100% criação do Mignola. Um Mignola BEEEEEEEM diferente, diga-se de passagem. Com um estilo mais “comum” de desenho, mas já demonstrando algumas das características pelas quais ficaria conhecido no futuro, Mignola dá um visual tecnorgânico à velha Krypton que muito se assemelha ao seu trabalho para a animação Atlantis, da Disney. O que reforça minha desconfiança que o visual foi totalmente criado por ele…
A ideia de contar a história em 4 linhas temporais diferentes, sendo que uma sempre “invadia” a outra, foi uma grande sacada de Byrne. Com algumas boas reviravoltas, mas nada que seja espantoso demais, Byrne criou uma boa história de origem para a destruição de Kypton. Porém, lembra da história do Jor-El apaixonado e destoante de seu povo que eu citei lá em cima e disse que me aprofundaria mais tarde? Então… a maioria de nós está acostumando a sempre imaginar os pais do Super como um casal apaixonado que abriram mão das próprias vidas para salvar a de seu amado filho, certo? Pois é…aqui temos uma sociedade Kryptoniana que não se toca mais e nem ama mais. Pelo menos não num nível carnal, homem e mulher e tals…
Jor-El passa quase todo momento que compreende a parte de sua história, roendo ao som de Gleyfy Brauly e correndo sozinho, pra lá e pra cá, pra tentar salvar o planeta e seu filho, o qual nasceu do cruzamento genético entre ele e sua amada. Mas só vai encontrar Lara quando o planeta já está indo à merda e NEM UMA BITOQUINHA ELE DÁ NESTA INFELIZ??? PORRA, JOR-EL!!!
Posso soar meio afrescalhado nesse mundão de ursões machões e que não choram nem por dor nem por amor…mas eu senti falta do romance real entre Jor-El e Lara! Em Man o Steel (este filme JÊNIAU), por exemplo, esse lance de filhos gerados sem contato físico existe, mas temos Jor –El e Lara como os únicos que geraram um filho pelos meios convencionais por que soaria seco demais se eles tivessem um filho de proveta. Isso não gera empatia no expectador. Não é de estranhar, porém, que Clark tenha tanta admiração pelo pai nessa HQ ( e em muitas outras mídias), já que sua mãe era um tijolo sem coração, como todo mundo em Krypton!
O único ponto positivo advindo dessa secura toda vem no fim da história, quando o Super-Homem vai as lágrimas e Lois pergunta o por que. Ele responde:
“Eu me sinto triste… e até frustrado por Jor-El e Lara. Há tantos sentimentos humanos que eles nem puderam imaginar. Agora eu percebo que está foi a herança de Jor-El. Não estes superpoderes… mas o dom de ser humano.”
É um argumento que até me faz digerir melhor essa situação…mas não me deixa aceitar 100%!
Em suma, meninos e meninas, eis uma boa história para quem quer conhecer uma das mais influentes visões de Krypton já criadas. Tanto é que a Krypton vista em Mano of Steel tem muito da vista aqui nos tempos de Van-L. É até estranho que está HQ não esteja na coleção DC da Eaglemoss, já que conta uma parte fundamental da mitologia do Homem de Aço. Bem que a Panini poderia republicar em um Lendas do Universo DC: Mike Mignola. Caberia muito bem! No entanto, caso você tenha interesse em ler, o jeito é procurar o formatinho da Abril em sebos reais ou virtuais. Uma leitura bacana, com altos e baixos, mas que vale a pena.
Nota:7,0 (sim, não dou mais que isso por que eu ainda estou puto com a porra da Lara “nem aí” e com o Jor-El “na sofrência”).