Review Coisado: O Corvo (2024)

Dizem que quando uma franquia morre, as vezes, só as vezes, Hollywood não sabe quando parar de tentar…

Antes de mais nada, deixo claro que O Corvo de 1994 é um de meus filmes favoritos de todos os tempos. De tempos em tempos eu o revejo e continuo o adorando da mesma maneira. Acho um filme que consegue ser extremamente fiel ao material fonte ainda que adapte algumas coisas e até melhore muitas delas. Aliás, gosto muito da HQ também, da qual já falei AQUI.

Screenshot

Obviamente, pelo amor que tenho ao personagem, vi as três “sequências” lançadas entre 1996 e 2005, sendo que obviamente NENHUM arranhou a superfície de tudo que o original tem de bom além do fato que eles foram ficando gradativamente piores, sendo o ultimo, de 2005 e estrelado por Edward Furlong e David Boreanaz, quase uma ofensa audio visual. A série de TV confesso que não via. Nunca fui muito fã de séries baseadas em filmes dos anos 90 que recontavam mal e porcamente a história do filme em seus 2 primeiros episódios e seguiam uma cronologia completamente contraditória com histórias repetitivas a partir daí.

Isto posto, eu não esperava NADA desse remake…perdão…dessa “reinterpretação”, como os responsáveis preferem chamar, de O Corvo. Porém ela conseguiu me entregar bem menos.

SINOPSE

Eric e Shelly são 2 jovens sem sobrenome pra não ofender ainda mais os fãs do original, que vivem de comer drogas com feijão e tomar péssimas decisões de vida, vide o corte de cabelo de Eric e as amizades extremamente questionáveis de Shelly. Os dois se conhecem numa clinica de reabilitação para dependentes químicos que mais parece um presídio com direito a bullyng sem motivo algum dos demais internos em cima de Eric, e acabam se apaixonando. Um dia, percebendo que Shelly fica perturbada ao receber uma visita pois ninguém deveria saber que ela estava lá, Eric a ajuda a fugir e ambos se escondem na casa de uma amiga de Shelly e começam a viver um tórrido romance relâmpago que desafia toda a lógica e o bom senso.

Porém Shelly segue sendo perseguida por um perigoso grupo criminoso por testemunhar algo que o seus clichezento chefe mafioso com poderes misticos fez e ambos acabam sendo assassinados. Só que Eric acaba recebendo a oportunidade de não apenas vingar as mortes sua e de Shelly como de consertar as injustiças envolvidas nisso. Para isso ele ganhará poderes místicos e a companhia de um corvo meramente ilustrativo.

IMPRESSÕES

Desde que foi liberada a primeira imagem de Bill Skarsgard, eu sabia que esse filme não seria pra mim. A ideia dos produtores era atingir o público mais jovem que acha o visual “trapper tatuado até nas bolas dos zóio e corta o cabelo com tesourinha sem ponta do Mickey” bacana e pra gente que consome draminhas adolescentes românticos vagabundos que a Netflix faz as toneladas. Porém, fui de coração aberto…pelo menos uma frestinha…pra ver essa nova adaptação. E tudo que o original tinha de respeitoso ao material de origem, toda a mística do personagem, toda a poesia e todas a frases íconicas foram jogadas no lixo em prol de um filme raso feito um pires.

A ideia de explorar mais o romance de Eric e Shelly seria válida se o relacionamento dos dois não fosse tão “miojo”, três minutos e está pronto! Sério, eles já falam em almas gêmeas 10 minutos depois de se conhecerem , eles não sabem nem os hábitos vespertinos um do outro! O quadrinho bem como o filme explica a força do amor entre os dois a partir não apenas de rápidos flashbacks como a partir da angustia do personagem título. Ele está sempre melancolico e amargurado pela falta da mulher que ama, você não precisa me mostrar TRINTA E CINCO FODENDO MINUTOS de dois malucos se pegando enquanto se entopem de drogas e mostram como são “xovens e dexcolados”.

A partir daí temos a parte mística da coisa. A começar pelo vilão pra lá de genérico que também tem poderes e deixa a trama com cara de filme vagabundo do Motoqueiro Fantasma (perdão, MAIS um filme vagabundo do Motoqueiro Fantasma). Na HQ não existe vilão místico, é só um grupo de bandidos filhos da puta, sem um líder nem nada do tipo. No filme de 1994, um desses bandidos chamado Top Dollar é alçado a líder do grupo e com conhecimentos de misticismo e magia mas é mais naquelas de seu amigo que, no inicio dos anos 2000, ouvia metal e usava sobretudo no calor de 40 graus e jurava que era um vampiro, sabe? Não havia poderes mágicos, só o poder aquisitivo, já que o cara era um traficante podre de rico. Além disso, Top Dollar ainda trava uma batalha final contra o Corvo em cima de uma igreja sob uma forte tempestade e tem uma dos fins mais legais de um vilão em filme noventista. O dessa nova versão tem poderes e, ainda assim, consegue protagonizar o final mais pau mole e anticlimático possível.

O Corvo do Skarsgard sofre do mesmo mal de todos os Corvos das sequencias do original que era algo que me incomodava demais. Enquanto no original Eric volta UM ANO DEPOIS de sua morte e isso aumenta ainda mais sua confusão além de dar um boost ao caráter mistico e a surpresa dos vilões a o verem “vivo”. No demais filmes os caras voltam minutos depois e já partem pra vingança. Aqui acontece o mesmo mas acho que foi um pouquinho melhor trabalhado. Só que esse Corvo fica indo e voltando pro mundo dos mortos onde tem aulas de “como viver depois de morto” com um personagem chmado Kronos, um senhor negro que lhe passa todas as informações que ele e o expectador precisa saber da maneira mais didática possível, incluindo a famosa fala da lenda do corvo, que no começo do filme original é narrada em off pela menina Sarah. Creio que esse personagem é uma substituição ao Skull Cowboy, personagem dos quadrinhos que tem a mesma função e que chegou a ter cenas gravadas pro filme mas foram deletadas, sendo possível ainda encontrá-las em péssima qualidade e sem áudio no YouTube. A principal diferença é que o visual do Skull Cowboy era MUITO MAIS LEGAL! Ah, aliás, o corvo que segue Eric na HQ também fala e mete umas broncas ferradas nele quando tá fazendo merda! É como se fosse um espírito do passado em forma animal ou algo assim.

Enquanto o Corvo das HQs e do filme de 1994 sempre tem uma poesia, uma piadinha ou uma frase literária, possivelmente pelo seu arcabouço artístico já que era um músico, o novo Corvo é só um cara comum e meio desengonçando. O sujeito não solta uma única frase memorável como, por exemplo, “não pode chover o tempo todo”. Além disso, a relação com a música do personagem original é fortíssima, tanto que nas HQs ele chega até a executar passos de balé. Aqui o maloqueiro tem visual de trapper e tudo que faz o filme INTEIRO é tocar um tecladinho em uma cena que deixaria Gleyfy Brauly orgulhoso mas a única pessoa que parece ter um background musical é a Shelly, só que pelo simples fato de sua interprete nessa versão ser a cantora britânica FKA Twigs e sempre que tem uma pessoa que canta num filme, os produtores parecem ter um treco se não fizerem essa pessoa cantar nem que seja em uma cena.

De ponto positivos temos o fato desse novo Corvo não voltar já sabendo distribuir porrada e ir se ferrando MUITO enquanto vai aprendendo na prática. E quando ele se machuca ele sente toda a dor, ao contrário do original que se regenerava instantaneamente e não sentia dor a não ser que o corvo que o acompanha fosse atingido (lore apenas do filme, nos quadrinhos não havia essa ligação com o corvo). Eu gosto mais desse aspecto do que do original? Não, ainda prefiro o original e seu deboche sempre que o pessoal acha que ele tá ferido ou morto e ele volta rindo. Porém é interessante e poderia passar de boas se, mais uma vez, não estivessem tentando empurrar que essa é uma nova adaptação do original. Se tivessem resolvido contar a história de OUTRO Corvo, como o próprio James O’Barr já fez nos quadrinhos, teria soado bem melhor. Aliás, isso se aplica a TODOS os aspectos do filme.

O ritmo do filme é lento. Como eu disse, os 35 minutos iniciais são focados no romance torto de Eric e Shelly, o meio é focado em explicar quem é o vilão genérico e em como o lore funciona pro próprio Eric além de tentativas de vingança fracassadas apenas os 20 minutos finais se focam na ação. Só que eu usei o termo “vingança”, que é o mote que move TODOS os Corvos. Aqui as coisas não funcionam bem assim., Não vou dar spoiler mas vou dizer o seguinte: Eric não parece muito interessado em se vingar de seu mané ninguém! Ele só entra na parada como o Corvo mesmo quando uma proposta nada condizente com a mitica de NENHUM dos Corvos já produzidos, e isso inclui a série de TV, é colocada na mesa. E essa proposta leva o filme a um final tão tosco que até o ator Bill Skarsgard deixou publicamente claro que era totalmente contra! Se você não for fã de O Corvo e adore os supracitados romances enlatados da Netflix, possivelmente adore esse final. Mas se você, assim como eu, é fã ou pelo menos conhecedor da lore das HQs e do filme original (eu tô usando muito a palavra “lore” hoje, né….?), você vai terminar o filme soltando um “Mas que porra foi essa…?”.

Ah, e essa tão falada cena de ação de 15 minutos que todo mundo diz ser a melhor coisa do filme…talvez até seja mesmo! Porém é como quando você pisa na bosta, esfrega o pé no meio-fio e tira todo o grosso do solado mas o cheiro continua lá. A cena não tem nada de inovador, inventivo ou mesmo dinâmico a ponto de ser comparado com John Wick como muita gente vem fazendo. O único ponto a se destacar é o gore, que tá caprichado. E intercalar com uma cena de ópera não depõe muito a favor do ritmo também.

Quanto ao visual do Corvo em si, a maquiagem. Eu sou MUITO apegado ao original, que inclusive recebe uma pequena referência em uma tatuagem do Eric já que ele é baseado nas máscaras do teatro grego, mas essa nova maquiagem não me ofendeu. O problema é TUDO que orbita essa maquiagem. Como eu já disse, eu sei que o público alvo é a molecada que acha o Coringa e a Arlequina do Jared Leto e da Margott Robbie os símbolos da rebeldia juvenil, mas eu acho que parece só um redneck gótico. Se o sobretudo preto fosse vermelho xadrez beiraria a perfeição!

Já o corvo, a ave mística que guia Eric na HQ e no filme original…aqui é só um animal meramente ilustrativo pra dar sentido ao título do filme. Sério, o passarinho é escanteado por 99% do filme! Isso é um absurdo! É como fazer um filme do Justiceiro e não colocar a caveira no peito! Ou fazer um filme do Demolidor e não chamá-lo de Atrevido! Sério, o bicho tá mais aleatório que eu em…qualquer lugar onde não conheço ninguém.

Enfim, essa nova “reinterpretação”, “reimaginação”, “releitura” ou “re qualquer merda” como os produtores preferirem chamar pra tentar evitar comparações com o original é só um filme com cara de filmes Marvel da Fox dos anos 2000 onde toda a mitologia e a fidelidade visual eram jogados no lixo. O filme não tem charme, não tem energia, frases chaves da HQ e do filme de 1994 são pobremente jogados na boca de personagens sem a menor importância pra trama em momentos completamente aleatórios e a importância do bicho que dá nome ao personagem a birosca toda é resumida a um pássaro passando aleatoriamente ao fundo duas ou três vezes. Como eu disse, se a proposta fosse de um novo Corvo com outro nome, tipo Josival e sua amado Valdirene ao invés de Eric e Shelly, essa poderia ser considerada a “sequencia” menos ruim. Mas como inventou de bater no peito e dizer “Dance, potranca, dance com emoção, eu sou o Corvo da nova geração” eles quiseram se medir com uma régua grande demais. Portanto, pra O Corvo de 2024…

NOTA: 4,0

PS1: Se você gostou do filme…beleza! Não faça das palavras desse velho careca lei! Estou apenas expondo MINHA opinião e dividindo com vocês. Então relaxe e seja feliz!

PS2: Como estou escrevendo isso do trabalho, vou postar sem revisão então me perdoem erros de digitação e nomes de pessoas escritos possivelmente errados (perdão, Margott Robbie…Margot Robie…Margô Robin Hood…sei lá…)