Review Cambaleante: Loving Dead

Um mundo cheio de zumbis, romance, ação, erros de português e MUITO google translator!

Tudo começou no dia em que fui ao shopping e havia um stand com livros e algumas HQs por R$10. Entre quadrinizações de Game of Thrones  outras adaptações em quadrinhos das obras menos conhecidas de George R. Martin, nada me chamava a atenção até que vi um pacotinho com uma mini-série em duas edições de uma editora chamada “Astral Comics”. A mini-série em questão se chamava Loving Dead e eu já havia visto ambas as edições nas bancas separadamente, cada uma custando R$14,90. Na época não comprei porque além de achar caro algo em papel jornal vagabundo com apenas 100 páginas por R$14,90, eu não tinha mais saco pro tema zumbi, que tinha filmes, séries e quadrinhos saindo de tudo que é buraco na mídia. Mas a questão do romance zumbi me pareceu até interessante. Como a mini estava completa e custava só R$10, resolvi juntar as moedas dos bolsos com as notas de R$2,00 amassadas que tinha na carteira ( e falo isso não de forma figurativa, confesso com tristeza…) e levei o pacotinho. E, olha…essa mini-série da Astral Comics é um poço de erros pra tudo que é lado! Mas vamos por partes:

SINOPSE

 

A coisa toda dá errada, com já dito antes, e o cientista chefe por trás dos experimentos acaba soltando o vírus que estava isolado no laboratório por toda a cidade. Agora as pessoas não precisavam necessariamente serem mordidas para se tornarem um zumbi, bastaria morrer e, em minutos, estariam de volta a vida como mortos-vivos. E é o que acontece alguns anos depois com nosso protagonista, o jovem eletricista Alan, que está fazendo reparos em uma casa com seu amigo, Marcus, até que sofre um acidente, caí de um escada, quebra o pescoço e tem a mão esquerda decepada por outra escada que caiu sobre seu braço.

Sabendo o que aconteceria, Alan resolve fugir do local levando sua mão. Alan também sabe que apesar de manter a consciência, seu corpo não está com as funções normais e que, como todo morto, ele irá se decompor com o tempo. Seu plano agora é ir até a cidade de Albertville onde há um rumor de que um vírus que estaciona a putrefação dos corpos dos zumbis por um tempo foi solto no ar. No caminho ele conhece a jovem Lynn, uma bela morta-viva sem o braço esquerdo e sem o olho direito, que já é zumbi há algumas semanas e está em estado de decomposição pouco mais avançado. Ambos se apaixonam e resolvem ir a Albertville para tentar impedir que Lynn se decomponha por completo, coisa que aconteceria em poucas semanas. Só que ambos começam a ser caçados pelos Descontaminadores, zumbis a serviço do governo (mais ou menos como os Agentes da Matrix) que, por alguma razão, querem Lynn a todo custo.

 

A HISTÓRIA

A história não é ruim, muito longe disso! Tem sacadas interessantes, como os zumbis conscientes, os agentes zumbis que caçam outros zumbis e até uma personagem transexual que acaba traçando um paralelo com o preconceito que os zumbis sofrem e como ele se aplica exatamente da mesma forma no mundo real. O problema está na velocidade em que algumas coisas acontecem, como fato de Alan e Lynn se apaixonarem em umas duas ou três páginas, o que tira toda credibilidade da coisa toda. Outro problema está num ROMBO na trama que fica entre o volume 1 e 2. Acontece que Lynn é sequestrada pelos vilões mas  isso NÃO É MOSTRADO EM MOMENTO NENHUM!  Sério, eu tava lendo o começo do volume 2 e precisei parar pra pegar o volume 1 e ver quando exatamente conseguiram pegar ela. Só que isso NÃO É MOSTRADO!

O volume 2  começa com um “No Capitulo Anterior” que nada mais é que a reimpressão das ultimas 4 páginas do volume 1 e já pula pra uma narração em off do Alan dizendo que vai pegar a Lynn de volta custe o que custar e coisa e tal e a coisa toda fica muito confusa, pois não tem flashback pra mostrar como Lynn foi pega e nenhum personagem sequer cita como aconteceu nem que seja por alto. Outro problema que não ajuda na compreensão da história fica no próximo tópico.

O volume 2 começa repetindo as ultimas 4 páginas do volume mas não explica NADA sobre como Lynn foi pega. Aliás, percebam a diferença de tons entre as edições pois isso será explicado mais adiante.

A TRADUÇÃO

Rapaz…sério…eu já vi traduções ruins, mas a da Astral Comics se esforça pra superar TODAS ELAS! São erros de português, letras em locais errados, balões com falas repetidas…mas o pior e mais constante erro de todos está na porcaria da tradução! Existem momentos em que parece que alguém pegou os textos, jogou no google translator, pegou o resultado e saiu espalhando pelas páginas sem nenhuma revisão! Sério, tem momentos vergonhosos, sobretudo quando a história vai chegando ao final que parece que ligaram o foda-se e a série de frases sem nexo toma conta de cada página! Pra dar um exemplo que não está na HQ mas pra vocês entenderem o que eu quero dizer, digamos que o personagem fale “GOD DAMN IT!” no original, o que comumente é traduzido como “MALDIÇÃO!” ou mesmo “DROGA!” , “PORCARIA!” e afins. Mas caso a frase fosse dita em Loving Dead, a tradução seria “DEUS CONDENE ISSO!”pois o literalismo impera na tradução bostolenta! Ah, e procurando o nome do tradutor por toda a edição, tudo que eu consegui encontrar foi um box com letras minúsculos onde dizia “Tradução: Amor Zumbi”, seja lá o que isso queira dizer…

Quando olhei o nome da editora Astal Comics na capa, lembrei que o Godoka já havia feito uma resenha sobre outro”Box Edição de Colecionador” da editora, só que com as 3 edições encadernadas de Hellraiser. Lembrava também que o Godoka não tinha gostado mas lembrava que ele reclamava de um ponto muito especifico que a edição tinha de ruim, só não lembrava exatamente do que. Fui dar uma olhada no post e, ora, vejam só…era justamente dos erros e da tradução literal porca e mal feita. Caso você queira dar uma olhada no post, basta clicar AQUI.

 

ACABAMENTO GRÁFICO

Não é algo incomum achar edições em formatinho com capa cartonada em papel jornal. Esse é o padrão de muitos mangás até hoje. O problema é que Loving Dead é uma HQ FRANCESA que foi publicada primeiro no JAPÃO antes da própria França, e alguém achou que seria legal chamar essa “banda desenhada” de “mangá” só por causa disso. E é exatamente por isso que temos um aviso de “PARE! Você está lendo do lado errado!” muito comum nos mangás, no LADO ERRADO de um quadrinho Francês!

O aviso imbecil de “PARE!”.

E essa HQ em NENHUM MOMENTO quer se passar por mangá, já que o traço é claramente ocidental, com uma pegada mais puxada para os fumettis italianos, tem capa e contra capa muito bem definida e, o mais importante, foi publicada EM CORES! Só que a Astral Comics, por alguma razão, decidiu que era um mangá e pronto! E assim a edição foi publicada em formatinho, preto e branco e papel jornal. Agora, imaginem que maravilha a edição ficou quando simplesmente dessaturaram as cores todas e meteram num papel de baixa qualidade. Pois é, o resultado são cenas escuras para um senhor caralho, sobretudo nas cenas noturnas, e um constante pensamento de “Porque, meu Deus, por que…?” quando você começa a pensar que essa porcaria foi publicado nesse formato nojento e por um preço tão alto. “Ah, mas é uma editora pequena” poderia ser usado como argumento. Mas isso não justifica eles terem optado por esse formato quando poderia ter publicado no formato encadernado lançado na França e colocar o mesmo valor de Hellraiser, que é capa cartonada, formato americano, em cores com  112 páginas e custava R$22,90. Eu honestamente não entendi essa patacoada.

Página da edição “mangá” da Astral Comics.

Página da versão original em cores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como eu já disse, a história tem uma premissa interessante e alguns bons momentos, mas o rombo na história, as decisões editoriais da Astral Comics e, sobretudo, sua tradução preguiçosa acabaram tirando pontos demais desse “mangá que nunca foi mangá”. Juro que  fiquei me perguntando se o tal rombo não foi feito por páginas que a própria Astral Comics não tinha retirado pra caber no formato por não julgarem “importantes para a trama”, mas dei uma pesquisada e vi que a mini-série original, publicada pela Humanoids, foi dividida em 3 edições com uma média de 60  páginas cada, então provavelmente foi o próprio autor, o Stefano Raffaele quem julgou uma boa ideia dar um pulo gigante na trama.

Se me arrependo de ter comprado? Não, por R$10 não foi um negócio tão ruim. Se eu compraria sabendo tudo que sei agora? DE JEITO NENHUM! Talvez eu arriscasse numa edição da adaptação em quadrinhos de Game of Thrones. Se eu aconselho caso você encontre? Bem, acho que já ficou bem claro que NÃO, né!? Uma pena, pois com uma editora que cuidasse melhor do material, poderia render um quadrinho melhor afamado em sua pálida passagem pelo Brasil.

Nota como HQ em si: 7,5

Nota como produto Astral Comics: 4,5