Review Animado: O Hobbit de 1977

Uma saga com menos de NOVE FODENDO HORAS, viu, senhor Peter Jackson!?

Quando Peter Jackson anunciou que dirigiria a adaptação de O Hobbit, livro de Peter Jackson que é, tecnicamente, um prequel da trilogia O Senhor dos Anéis, os fãs tanto de J. R. R. Tolkien quanto da trilogia cinematográfica que foi sucesso no inicio dos anos 2000 também dirigida por Jackson, ficaram em polvorosa! O diretor já havia mostrado que entendia o universo de Tolkien e voltar aquele universo 10 anos depois da estreia do primeiro filme, seria uma jornada inesperada (TUM DUM TSS). Seria apenas um filme, pois o livro fonte era um volume único, mas ainda assim, seria ótimo voltar a Terra Média. O problema é que a Warner cresceu o olho… e queria uma TRILOGIA nova! E assim, um livro de 298 páginas foi esticado em 3 filmes de mais de duas horas e meia cada! Obviamente que a coisa desandou, pois pra encher linguiça muitos plots foram tirados do rabo e ainda arrumavam desculpas pra trazer gente do elenco de O Senhor Dos Anéis de volta, mesmo que seus personagens nunca sequer tivesse sido citados no livro. Claro, há quem tenha adorado a nova trilogia, mas a coisa que você mais encontra online são pessoas fazendo versões “redux”, transformando os 3 filmes em um único e o mais fiel possível ao livro. Isso inclui gente famosa, como Topher Grace, o Eric Forman de That’ 70s Show e o Venom de Homem-Aranha 3; e o diretor Wes Anderson!

E o filme ainda ganhou VERSÃO ESTENDIDA! Ah, Peter Jackson, pelo amor de Deus…

Lembro que só assisti o primeiro filme da trilogia…e dormi por boa parte dele! Adoro o Martin Freeman desde que o conheci em O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas seu Bilbo me parecia um Arthur Dent medieval e isso não ajudou a me manter interessado. Nunca mais voltei a trilogia, uma olhada em outros trechos dos demais filmes com efeitos que pareciam mais precários que a trilogia O Senhor dos Anéis lançados 10 anos antes, também não ajudaram a me fazer voltar.

Porém, sou um grande fã de animação e sempre ouvi e até vi alguns trechos da adaptação de O Senhor dos Anéis de Ralph Bakshi de 1978, mas seu uso de rotoscopia me incomoda demais naquele filme, sobretudo nos momentos em que Bakshi nem finge mais animar só joga um filtro bizarro sobre as filmagens e parece que estamos vendo um stories bizarro de instagram de uma hora e meia. Só que eu achava que Bakshi também era responsável pela adaptação de O Hobbit lançada um ano antes e isso havia me afastado de dar uma olhada nela. Errei feio, errei feio, errei rude…

Batalha final do filme de Bakshi. Ele claramente já tinha parado de tentar…

Após dar uma olhadela no trailer, vi que a animação de O Hobbit era 100% tradicional. Mas, mesmo assim, deixei de lado por anos. Até essa semana, quando bateu a vontade de ver após uma conversa em que o tema O Hobbit de Peter Jackson ser desnecessariamente logo vir a pauta. Então busquei o filme, vi, e agora darei minhas impressões.

Mas, antes, uma sinopse básica:

Bilbo Bolseiro é um hobbit comum que vive uma vida comum de um hobbit. Pelo menos até que Gandalf, o velho mago cinzento, aparece em sua porta junto a 13 anões e diz que Bilbo vai sair em uma jornada, mesmo a contragosto. O plano: Subir a Montanha Solitária e recuperar o tesouro roubado pelo temível dragão Smaug que lá habita. Para ajudar na jornada do grupo, Gandalf entrega um mapa que mostra uma passagem secreta e, pra ferrar com a vida do pobre Bilbo, diz aos anões que ele é um exímio ladrão e que irá guiar o grupo até lá. Porém, se o destino já é difícil, a jornada não fica atrás, com Bilbo e o grupo de anões, liderados por Thorin Escudo de Carvalho, enfrentando orcs, elfos da Floresta das Trevas, um certo enlouquecido pequeno ser obcecado por um certo anel e uma cacetada de outros desafios.

Eu nunca li o livro O Hobbit, mas pelo que sempre ouço falar, ele não é tão denso e sombrio quanto a trilogia O Senhor dos Anéis, tendo um tom mais aventuresco e, dizem alguns, mais juvenil. E o filme segue esse mesmo esquema. De acordo com Athur Rankin Jr., que dirigiu o filme ao lado de Jule Bass, nada que não estivesse no livro seria colocado na trama, ao contrário do que aconteceu na trilogia de Jackson. A ideia era que o roteiro escrito por Romeo Muller fosse o mais fiel possível a fonte original. Claro que algumas coisas tiveram que ser cortadas ou comprimidas por causa da curta duração de 1:18hr do longa, mas o resultado final ficou satisfatório, segundo os planos do diretor.

Apesar de contar com uma equipe majoritariamente americana em sua produção, o longa teve a participação de um estúdio japonês a cargo de sua animação, e isso fica claro na movimentação fluída e até no visual de alguns personagens, com destaque para os humanos, que tinham o visual tipico dos animes e mangás seinen (para um publico mais adulto) dos anos 70, como Sawamu: O Demolidor e Golgo 13. O tal estúdio japonês responsável pela animação se chamava Topcraft. Claro que muita gente pode não reconhecer o nome, já que o estúdio teve uma vida relativamente curta, sendo fundado em 1971 e falido em 1985. Porém muitos fãs de anime e animação em geral talvez conheçam um certo filme produzido pelo estúdio chamado Nausicaa do Vale dos Ventos e certamente conhecem outro estúdio que surgiu unindo alguns ex-funcionários do Topcraft, conhecido hoje em dia como Studio Ghibli pertencente a um certo Hayao Miazaki.

O visual do longa é muito bonito e muitas vezes a impressão que se tem é de ter um livro ilustrado animado diante de seus olhos. Parafraseando o velho e bom Renver ao se referir a Saintia Shô após ver seu primeiro capítulo (com a diferença que ele se arrependeu MUITO depois de ver o resto) “Dá pra fazer um papel de parede com cada frame”. As cores suaves, os cenários belíssimos, o desenhos dos personagens com linhas finas e delicadas…. o filme é um balsamo visual em uma era onde as animações estão ficando cada vez mais toscas, salvo raras e bem vindas exceções.

Vale-se destacar o character design feito a quatro mãos. O trabalho ficou a cargo de Lester Abrams, que tem um traço de você CHORAR em cima de tão bonito e que acabou ficando responsável por ilustrações para livros, discos e outros materiais baseados no filme. Olhem pra essas ilustrações e chorem:

O segundo responsável pelo character design e provavelmente o responsável por fazer os humanos com cara de personagens de animes adultos dos anos 70, foi Tsuguyuki Kubo, que alguns anos mais tarde trabalharia no character design de uns certos gatos do trovão…

O filme, como muitos longas animados da época, tem muitos momentos musicais! Mas os personagens não para a trama pra cantar, como em um filme da Disney! As canções são retiradas diretamente do livro e elas servem pra narrar a trama. E são muito boas, diga-se de passagem!

O longa ganhou alguns prêmios e perdeu alguns outros pra Star Wars. Não, não chegou a ser indicado ao Oscar, falo de prêmios “menores”. Mas, graças ao sucesso e as criticas majoritariamente positivas, uma sequencia já estava engatilhada. O filme se chamaria “Frodo: O Hobbit 2” e englobaria os eventos ocorridos em O Senhor dos Anéis. Porém o plano foi abortado quando Ralph Bakshi conseguiu aprovação para sua versão animada produzida pela United Artists. No entanto, um desentendimento entre Bakshi e a United Artists, que achou que ele resumiria os 3 livros em um único filme enquanto que Bakshi adaptou A Sociedade do Anel e o inicio de As Duas Torres e esqueceu de avisar que faria outro pra terminar a história, fez com que o projeto da sequência tomasse novo folego. Só que como o filme de Bakshi ainda estava fresco na memória das pessoas, os diretores Jule Bass, Arthur Rankin Jr. e o roteirista Romeo Muller pegaram tudo que Bakshi havia deixado de fora de sua versão e uniram aos acontecimentos do nunca adaptado até então, O Retorno do Rei. O resultado foi um roteiro MUITO divergente do livro e que se preocupou mais em estabelecer uma conexão com O Hobbit, além de uma confusão na cabeça da galera que viu o filme achando que era uma sequência do longa dirigido por Bakshi, o que não era o caso. Não vi essa versão ainda, só fiquei sabendo da existência recentemente , mas irei atrás, apesar de ter reviews bem inferiores com relação a O Hobbit.

O Hobbit é um longa animado divertido, com um tom leve e que possivelmente agrade ao fã fervoroso do livro que não tenha gostado da trilogia de Peter Jackson. Mas certamente agradará ao fã de animação em geral. E também é um ótimo filme pra assistir com a criançada! Isso se a criançada já souber ler uma legenda de boas, já que o filme nunca foi lançado no Brasil…

Nota: 8,0