Review Aleatório: Agente X Nº05
Sim, um review de um número solto de uma revista que pouca gente leu!
Se você não leu o meu post anterior sobre a HQ da Mulher-Hulk, não vai ler e tem raiva de quem leu, aqui vai um resumo de quem é o Agente X e porque diabos eu vou falar sobre a edição 5 de sua revista lançada pela Panini em 2003.
Em 2002 Gail Simone assumiu o roteiro da revista do Deadpool que vinha trazendo histórias cada vez piores depois que Joe Kelly deixou o título (e a finaleira da fase do Kelly também é bem horrorosinha). E essa fase da Simone é muito boa, tanto que ela foi lançada em uma mini-série em 3 edições aqui no Brasil em 2003 e depois em um encadernado em 2004 (e na edição 12 de Deadpool clássico que traz as histórias medonhas que vieram antes também). Só que, por melhor que a fase fosse, o título já estava com as vendas lá embaixo. E qual foi a genial ideia da Marvel pra resolver isso? Contratar todo um novo e conceituado time de escritores e desenhistas pra tentar dar um “up” no personagem? Não! Eles tinham uma ideia “muito melhor”! Matar o personagem e colocar um novo no lugar que era basicamente a mesma coisa só que com uma identidade desconhecida, problema de memória a la Jason Bourne, e com um “X” no nome pra tentar pegar carona no sucesso dos X-Men como fizeram com o Cable ao mudarem o nome de sua revista pra “Soldado X”. E assim nasceu o Agente X, o Deadpool que não era o Deadpool mas agia exatamente igual ao Deadpool e que durou só 15 edições até trazerem o Deadpool de volta (curiosamente a popularidade do personagem só voltou a subir quando a Marvel resolveu juntar ele e o Cable, que também tava com a popularidade em baixa, numa revista só).
Agora, porque eu vou falar só da edição número 5? Porque ela é, de longe, a MAIS DIVERTIDA de TODO o run do personagem! Acontece que Gail Simone deixou o título na edição 7 e voltou apenas na 13 pra fechar a trama que ela tinha planejado desde o começo. Nesse espaço de tempo, outros escritores sentaram em sua cadeira. Um deles é foi um certo senhor chamado Evan Dorkin, que creio ter se tornado um nome mais conhecido no Brasil hoje em dia graças a uma certa HQ chamada Beasts of Burden que já conta com 3 volumes lançados pela Pipoca e Nanquim.
Dorkin trabalhou muito na revista MAD e suas HQs autorais nos anos 90 eram sempre focadas em tirar sarro dos fãs de quadrinhos, sendo que ele mesmo era um (ou seja, o sujeito sabia rir de si mesmo, ao contrário dos fãs “adultões” e adoradores do Zack Snyder de hoje em dia). Em 1993 ele lançou pela Marvel uma história em uma única edição de um personagem criado por ele, o Fight Man. O sujeito é uma paródia do Superman, tem praticamente os mesmos poderes do azulão com o diferencial de que é desastrado, sempre causa mais destruição do que ajuda, seus parceiros mirins sempre morrem e, mesmo assim, ainda se acha o máximo e se julga a criatura mais heroica de todas! As coisas dão uma guinada quando ele descobre que sua esposa, Bervely Lacoco, o está traindo com o seu único ex-parceiro mirim que sobreviveu e ficou todo deformado se tornando o vilão conhecido como O Olho Encapuzado. Agora uma guerra está pra começar em Delta City, cidade que o estúpido herói defende. E na edição 5 de Agente X, ele resolve trazer todos esses personagens de volta!
Mas pra entender melhor a trama é bom também entender um pouco do universo do Agente X. Em 2002 o estúdio Udon (Transformers, Robotech, X4, Wolverine com garras de ossos e Justiceiro Anjo numa história PODRE) recebeu sinal verde pra uma minissérie estrelada pelo Treinador com liberdade pra lhe dar um novo visual. Na trama, o Treinador era contratado pra invadir e sabotar as industrias Stark. As coisas não saem como ele esperava e, obviamente, ele acaba traído pelos seus contratantes. No meio dessa quizumba toda ele conhece a dançaria Sandi Brandenberg por quem acaba nutrindo sentimentos que são correspondidos. O problema é que Sandi acaba sendo envolvida nas tretas do Treinador, é baleada e quase morta e isso abala a relação entre os dois.
Tempos depois, Sandi acaba trabalhando como secretária do Deadpool, após este ganhar fama e notoriedade por matar Os 4 Ventos, os chefões mais perigosos da máfia japonesa. O problema é que foi tudo acidental, mas Deadpool jamais admite. Nessa época, Deadpool e o Treinador viraram “parceiros que se odeiam” graças a insistência do Treinador em ficar por perto pra proteger Sandi. Em certo ponto da trama, Deadpool acaba descobrindo que era alvo do Cisne Negro, um criminoso com poderes mentais e que estava ferrando a mente de Wade Wilson aos poucos, como se tivesse lhe dando doses homeopáticas de demência. Wade derrotar o sujeito a muito custo mas acaba morrendo numa explosão e Sandi volta a ficar desempregada.
Um tempo depois, surge um sujeito misterioso sujeito ferido e desmemoriado com o corpo coberto de cicatrizes e com uma delas formando um X no meio do rosto a quem Sandi acaba dando abrigo. Ao descobrir que ele tem fator de cura e um humor meio doentio, ela começa a acreditar que se trata de Wade Wilson. No entanto, o misterioso sujeito não gosta muito dessa história e resolve adotar uma identidade própria criando o seu nome, Alex Hayden , a partir do nome de dois compositores que, por alguma razão, ele gostava muito, Alexander Grieve e Joseph Hayden. O Treinador começa a treinar Alex, que demonstra ter certas habilidades, mas passa a odiá-lo quando percebe que Sandi nutre sentimentos por ele. Alex adota Agente X como seu “nome de mercenário” e ao lado de Sandi e do Treinador resolve abrir a Agência X, onde passa a vender seus serviços.
E, AGORA SIM, vamos a edição 5 de Agente X, onde todos esses elementos se reúnem!
A história começa mostrando o Agente X voltando de uma missão onde um culto ao chupacabras estava realizando rituais de sacrifício. Só que ao invés de encontrar Sandi em casa, ele encontra o Treinador ultra-bêbado e assistindo a luta livre de favor já que estava sem TV a cabo em sua casa. Segundo ele, Sandi tinha saído pra cumprir um contrato muito bom que Alex não estava presente pra aceitar. Obviamente Alex fica puto e os dois quebram o pau! É quando a luta é interrompida por uma ligação. É Sandi, que diz estar com problemas. Mais que imediatamente Alex se prepara pro resgate e convoca o Treinador pra ir junto, o qual declina o “convite” pois havia quebrado a perna durante o quebra pau dos dois.
Chegando a um hotel de beira de estrada de onde Sandi ligou, Alex acaba descobrindo que a garota não estava em perigo como ele pensava, mas sim com problemas pra executar o serviço e eliminar seu alvo. Alex pergunta porque diabos ela estava tentando fazer o serviço se não era assassina e, já bêbada, Sandi revela que queria impressionar Alex, já que ele achava a Postoleira, uma mercenária amiga do grupo, sexy e ela queria que Alex olhasse pra ela assim também. O problema é que o alvo, Frank Bigelow, um homem que teve a morte encomendada pela ex-mulher que jura de pé junto que ele é um bandido perigoso, dorme com aqueles pijaminhas de toca e com um ursinho e a coisa é tão patética que Sandi ficou com pena. Alex tenta mas também falha, ficando com pena do alvo da mesma maneira. Ambos, então, decidem fazer o serviço junto pra dividirem a culpa depois. Tiros são dados, o alvo aparentemente morre e ambos comemoraram com uma noite de sexo tórrido.
Na manhã seguinte, Alex acorda e não encontra Sandi. que deixou um bilhete dizendo que tinha ido pegar a recompensa. O telefone toca e é Sandi alertando pro fato de que, ao contrário do que pensavam, seu alvo não está morto. Em seguida uma voz ao telefone se revela como a contratante e diz que se Alex não matar o seu alvo até a meia-noite, Sandi é quem morrer´´a.
Sem pensar duas vezes, Alex se arma até os dentes e ruma pra casa do seu alvo, que não estava. Pra sua sorte, o sujeito estava acabando de chegar do mercado e estava com as mãos cheias de compras. Pro seu azar, o sujeito é a prova de balas e todos os tiros que Alex dispara ricocheteiam nele e atingem o Agente X. Após ser imobilizado pelo seu alvo, Alex acaba descobrindo que o sujeito é um ex-super-herói chamado Lutaman, o qual foi forçado a se aposentar prematuramente após ser preso acusado de negligência, destruição de propriedade pública, pôr a vida de um menor em risco e levar QUATORZE parceiros mirins pra morte em suas missões. Ah, e voar bêbado! Solto mas em condicional, ele não pode usar seus poderes nem chegar perto de crianças. O sujeito agora vive de vender itens que pertenciam a sua galeria de vilões no E-Bay.
Quando Alex diz que estava ali pra matá-lo a pedido de sua ex-mulher, Bervely Lacoco,Lutaman simplesmente…concorda em morrer! Confessa que não tem mais razões pra viver e não se matou ainda porque tem um código de ética que o torna completamente avesso a matar, mesmo que a si próprio! Então ele não vai resistir a nada que Alex fizer! O problema é…como se mata alguém que é invulnerável? E é aí que as tretas dessa dupla começam!
O roteiro de Evan Dorkin é sensacional! Não, ele não é revolucionário! Não, ele não vai te fazer ver a paródia de super-heróis com novos olhos! Mas sem sombra de dúvida ele é genialmente hilário! Praticamente não há uma única página onde um absurdo não seja dito e algumas das frases desse gibi me seguiram durante toda a minha vida e eu as uso até hoje! Um de meus momentos favoritos é quando o Lutaman resolve sair da aposentadoria pra ajudar o Agente X a resgatar Sandi e sua vizinha ( que o ODEIA) o vê e liga pra CNN pra avisar. Assim que o telejornal dá a notícia, o pânico toma conta das ruas de Delta City e as pessoas começam a fugir como podem em uma cena apocaliptica com direito a placa escrita “Arrependam-se! O Lutaman Voltou!” segurada por um daqueles doidos que acham que o fim do mundo está próximo já há 30 anos! Só que dessa vez é sério! E em meio a esse desespero há um casal com um bebê, ao que o homem larga a perola ” Susie, largue o bebê! Ele só vai nos atrasar!”. Um herói nunca foi tão mal vindo em uma cidade desde que o Superman do Snyder chegou a Metropolis!
Mas esse é um daqueles roteiros que, apesar de ser ótimo, carece de um desenhista que consiga transmitir toda a comédia que ele transborda. E é aí que entra Juan Bobillo! Foi essa história que me fez virar fã desse argentino! Se Evan Dorkin esbanja humor em seu texto, Juan Bobillo não fica atrás em seus desenhos! SEMPRE tem uma piadinha correndo em paralelo quer serja no fundo da cena, que seja em paralelo a cena. Destaque pra o começo da HQ quando o Agente X e o Treinador estão conversando e acabam caindo na porrada. Enquanto o diálogo se desenrola, um gatinho branco ganha praticamente uma micro-aventura, primeiro reagindo a tudo que os dois personagens fazem, depois reagindo a um item particularmente nojento que Alex trouxe de sua missão contra os adoradores do Chupacabras.
Mas é na reta final da história que essa simbiose entre roteiro e desenho chega ao ápice! A chegada do Lutaman e do Agente X, que precisam encarar uma galeria de vilões, é um frenesi de destruição, mutilações e cenas hilárias! Pra deixar tudo ainda mais divertido, o Agente X é terminantemente proibido de matar qualquer um dos vilões, pois segundo o Lutaman, isso vai contra os seus princípios e ele diz isso em uma fala que poderia perfeitamente ter saído da boca do Batman se o morcegão fosse sincero e expressasse sentimentos em voz alta. A frase é “Eu já te disse, tenho um código contra assassinatos! E o sigo violentamente!” ao que o Agente X pergunta se pelo menos pode mutilar e o Lutaman responde com um “Claro, vai fundo! Seja criativo! Quer dizer…ninguém disse que a gente não pode se divertir!”. Sim, o “grande herói” manda um “Aleija, mas não mata!” e obviamente que a violência corre desenfreada a partir daí.
O fim da história não guarda grandes surpresas mas, como eu já disse, a inventividade não é a força motriz aqui. A zoeira é! E a história é zoeira do inicio ao fim! Se eu fosse editor da Marvel na época, teria insistido mais na dupla Dorkin e Bobillo, se não em Agente X, em outras histórias onde o humor fosse presente. Até mesmo numa retomada do Deadpool! Mas, infelizmente, esse foi o único trabalho da dupla juntos. Depois disso, Bobillo foi desenhar a Mulher-Hulk do Dan Slott e Dorkin foi se ocupar com Beasts of Burden ao lado de Jill Thompson. Agente X acabou, Deadpool voltou…e tudo isso e perdeu…como lágrimas na chuva.
A parte que eu mais gostava em Agente X é que em uma época em uma mensal de 100 páginas custava R$6,90, ela , com suas 50 páginas, custava míseros R$2,90. Era uma revista barata e que me divertia horrores. E deve ter sido UM BAITA DE UM FRACASSO de vendas, pois quase ninguém lembra até que alguém diga “Lembra daquele personagem com um X na cara que parecia o Deadpool?” e porque, escrevendo esse post, descobri que a Panini lançou um encadernado de 340 páginas com todas as 7 edições da série lançada no Brasil, provavelmente produzido a partir dos encalhes que devem ter sido numerosos (e agora eu queria ter esse encadernado…).
Ficou com vontade de dar uma olhada nessa edição número 5 mas não quer comprá-la? Bem, quem sabe se você der uma pesquisadinha na internet não encontra um scan online, hein? Afinal, Agente X NUNCA vai estar nos planos de uma republicação da Panini, sobretudo na era dos omnibus e gibis de luxo sem necessidade! Então, procurem direitinho!
Bem, era isso! Agora deu vontade de reler o Deadpool da Gail Simone e o Agente X também! Quer saber…é isso que vou fazer agora! Depois de terminar de revisar esse texto, colocar as imagens, escrever as TAGS, inserir as categorias, colocar a imagem da header e…bem…talvez não tão agora assim…