Baby, we were born to run!

Música tem o poder de mudar a nossa vida. Não importa que tipo de música. QUALQUER música, contanto que fale conosco. Às vezes a gente ouve algo que fala tão alto conosco que parece que foi escrito pra nós, não é? Esse é o poder da música. Pegar a nossa cabeça e virá-la em uma outra direção. E com isso mudar nossos hábitos, nosso jeito de vestir, nosso jeito de encarar o mundo e até definir o tipo de pessoa com quem vamos andar.

E é sobre esse poder da música esse novo trabalho da diretora Gurinder Chadha, de Bend it like Beckham. Sobre o poder lírico de um cara aí, chamado Bruce Springsteen. O “boss”, o working-class hero.

Baseado em uma história real, Música da minha vida (cujo título original é Blinded By The Light, nome de uma canção de Springsteen) se passa em uma cidadezinha suburbana da Inglaterra, próxima a Londres, mas sem nem um décimo de sua pompa. O ano é 1987 e o governo Tatcher deixou a Inglaterra em frangalhos. O desemprego e a falta de perspectiva de futuro torna a cidade de Luton, onde o protagonista Javed (Viveik Kalra) vive, uma verdadeira prisão. Javed é um garoto inglês filho de imigrantes paquistaneses, o que significa que sofre tanto fora de casa quanto dentro dela. Na rua, sofre o preconceito por sua descendência, e, em casa, sofre com as expectativas de seu pai, que quer apenas que o garoto estude economia para ter um emprego “desses que dão dinheiro”, e não pense em garotas e diversão. Afinal, é obrigação do pai decidir com quem o filho vai casar. Tudo isso aos 16 anos, idade em que garotas e diversão são basicamente o que está na cabeça de um adolescente.

Javed nada na contracorrente do desejo de seu pai e se matricula em uma aula de literatura, pois seu sonho é ser escritor e sair de Luton. E é indo para a aula da professora Clay (Hayley Atwell, nossa eterna Agente Carter) que ele esbarra em outro garoto paquistanês, Roops (Aaron Phagura), que deixa cair uma fita K-7 de um cara chamado “The Boss”. Quando pede que Roops conte pra ele mais sobre esse cara, Javed oferece resistência em acreditar que um cantor americano seria capaz de entender as mazelas que ele vive ali, no interior da Inglaterra. Mas tudo muda quando Javed dá play e escuta as letras e vê todos os seus anseios e frustrações representados, como se Springsteen tivesse escrito para ele. Nesse ponto, a vida de Javed muda.

O garoto, que escrevia diários e poesias desde os 10 anos, também fazia letras de músicas para a banda de seu melhor amigo Matt (Dean Charles Chapman), que sempre as criticava e dizia que faltava paixão. “Falta uma garota na sua vida pra você escrever sobre”. A garota em questão, Eliza (Nell Williams, a Cersei jovem em Game Of Thrones), é conquistada só depois que Bruce conquista de vez Javed, contribuindo com a coragem de usar sua própria voz, colocar para fora o que está preso dentro dele em poemas que, como a própria professora Clay diz, “podem até não ser incríveis, mas são seus”.

Música da minha vida é sobre como a música consegue ir muito além dos anseios do artista que a compôs, mas também sobre ter a coragem para se expressar e achar sua própria voz. Estreia hoje e não precisa nem ser fã de Springsteen pra sair da sessão com os olhos cheios de lágrimas.