QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 31

Hoje é o dia dos posts com o número 31 no título!

O quadrinho do qual falarei hoje não estava planejado pra agora, eu passei ele na frente da fila porque, já adiantando, ele me divertiu mais do que eu esperava. Hoje falarei de Lua do Lobo de Cullen Bunn e Jeremy Haun lançado pela Vertigo lá fora em 2015 e aqui no Brasil, claro, pela Panini em 2017.

A trama de Lua do Lobo se foca no tema lobisomem, que é uma das minhas criaturas sobrenaturais favoritas mas que, infelizmente, tem poucas boas produções representando a criatura da forma assustadora que realmente merece. Pra mim, o lobisomem humanoide coberto de pelo não tem muita graça. Eu prefiro quando a criatura é representada como uma espécie de “cão do inferno” gigante e ameaçador. Meu lobiomem favorito até hoje é o que aparece (infelizmente muito pouco) no filme Um Lobisomem Americano em Londres.

Mas existem raras excessões, como no caso do ótimo Wer (Sinistro: A Madição do Lobisomem, no Brasil) que me foi indicado pelo Godoka e que se afasta TOTALMENTE do apecto visual comum do bichão, trazendo a coisa um pouquinho mais pra realidade e, ainda assim, sendo extremamente assutador conceitualmente. Assistam!

E Lua do Lobo une um pouco dessas duas coisas. O lobisomem “cão do inferno”, tal qual em Um Lobisomem Americano em Londres, que eu tanto gosto e a mudança de mitologia presente em Wer, trazendo um elemento novo a trama. E por falar em trama, vamos a uma pequena sinopse:

Após perder sua mulher e filhos em uma ataque de um lobisomem, Dillon Chase resolve que irá caçar a criatura e fazê-la pagar, tirando-a de vez de nosso mundo e impedindo que o mesmo aconteça com outros. Pra isso, ele conta com a ajuda de outras vitimas da criatura e acaba descobrindo que não é o único no encalço da besta, pois existe uma rede secreta de caçadores atrás da cabeça da crituara assassina.

O problema é que as lendas sobre o lobisomem não eram totalmente verdadeiras. A criatura existe mas não é UMA pessoa que se transforma durante a lua cheia. A cratura é um espirito que escolhe um hospedeiro aleatória e toma seu corpo espalhando uma trilha de carnificia por onde passa enquanto a pessoa possuída está completamente consciente e nada pode fazer pra detê-la pois não tem mais poder sobre seu corpo. Então…como caçar algo que pode surgir em qualquer lugar? Como descobrir o hospedeiro se nem o/a escolhido(a) sabe até o ultimo momento? Esses são só alguns dos problemas que Dillon vai ter que resolver se quiser ter sua vingança.

Antes de mais nada é preciso dizer que o plot do lobo ser um espirito que pula de uma pessoa pra outra não é um spoiler porque está na sinopse da contra-capa da HQ e também já é dito no inicio da história. Se a história fosse contada de outro modo poderia render um bom plot twist? Sim! Mas o risco de soar como um plot twist escroto também era bem grande. Isto posto, claro que a HQ guarda outras surpresas. Nenhuma realmente que te faça dizer “Nossa, sehor Supresa, mas que beleza de Barriga!” mas tem seus plot twists de lei.

A ideia ocorreu graças a um pesadelo que Cullen Bunn teve por volta dos 6 anos de idade e que jamais esqueceu. No pesadelo, ele estava fora da casa na fazenda onde morava quando criança em uma noite de lua cheia, a lua estava gigante e assustadoramente próxima a Terra. Quando o pequeno Cullen olhou pra sua casa pensando em entrar, viu silhuetas enormes nas janelas. Eram grandes lobos bipedes que ele sabia, eram seus familiares transformados. Se entrasse em casa, tinha certeza de que eles o matariam e o devorariam. Esse pesadelo marcou Cullen que, adulto e escrevendo quadrinhos, decidiu pegar os conceitos que tanto o perturbaram e transformar em uma história. E se um ente querido seu se transformasse num lobisomem? Pior, e se VOCÊ se transformasse num lobisomem e matasse seus entes queridos sem poder fazer nada pra se deter já que não estava mais no comando de seu corpo? E se isso fosse algo aleatório que poderia acontecer a qualquer um e a pessoa precisasse viver com essa terrível lembraça pelo resto da vida?

É nesses conceitos que reside toda a graça de Lua do Lobo porque a trama base (um sujeito caçando uma criatura assassina e sendo procurado pela lei por não saberem o que ele realmente está fazendo) é bem básica. Como eu disse, a história tem seus plot twists mas eles são bem previsiveis. De realmente bacana em termos de revelação vem a origem do espirito do lobo, que mistura alguns folclores e lendas e acaba dando uma boa e bem temperada salada.

A arte de Jeremy Haun é competente. Não tem nada de espetacular, inclusive o gestual de seus personagens é bem engessado em muitos momentos, mas no que tange a violência, e a HQ é BEEEEEM violenta, ele manda muito bem. A única coisa que eu tenho pra protestar com veemência, e não apenas com relação ao Jeremy Haun mas a MUITOS quadrinistas que desenham histórias de lobisomem é que eles desenham os bichos bípedes, e até aí tudo bem, mas…90% DO TEMPO ELE É DESENHADO COM OS BRAÇOS ABERTOS PARECENDO UM LUCHADOR DE LUCHA LIBRE!

O bicho parece que toda hora tá querendo dizer “QUAL É? VAI ENCARAR?” pronto pra dar uma peitada nas vitimas! Sério, variem nas poses dos lobisomens e caso ele seja bípede, deem uma variadazinha e façam umas ou duas cenas dele correndo nas quatro patas! Não mata ninguém (que está lendo, claro) e ainda fica mais dinâmico e bacana!

A colorização de Lee Loghridge também merece destaque. Trabalhando sempre com tons frios, ela ajuda a dar o clima soturno que a trama precisa. Colorista tem que ser mais valorizado nessa porra! VIVA OS/AS COLORISTAS! Falou o cara que escreveu só um paragrafo pra falar do colorista. Mas é sério, valorizem os/as coloristas que são os/as baixistas do mundo dos quadrinhos, muita gente não dá a devida atenção a eles/elas até que eles/elas param de “tocar na banda”.

Lee Loughrige só errou ao não colocar uma luz VERMELHA no cabaré!

A edição da Panini é aquele encadernado básico, capa cartonada com 164 páginas em papel couché, preço de capa de R$23,90. Eu não lembro dessa HQ sendo anunciada ou fazendo qualque barulho em 2017. Pra ser honesto em não sabia nem que ela existia até ver na prateleira de encalhes com descontos de 50% na comic shop aqui da cidade. Inclusive, quando vi a capa, achei até que era a edição da HQ do Rodney Buchemi, A Ordem de Licaão. Mas aí eu peguei, vi o selo vertigo e li a sinopse. Não comprei de imediato porque tenho um pé atrás com HQs de terror das quais não sei nada. Terror é algo muito dificil de se plasmar nos quadrinhos, é preciso saber o que se está fazendo e tenho trauma com criaturas mitólogicas em quadrinhos obscuros desde que li o HORROROSO Crimson de Brian Augustyn e Humberto Ramos anos atrás. Mas aí dei uma pesquisada online, descobri que a edição era fechada com a série completa (apesar de o final deixar um gancho pra continuação mas o Cullen Bunn deixa meio claro que dificilmente vá acontecer pois quase que ele não conseguia quem a publicasse) e como custava só R$12,00 resolvi arriscar. Não me arrependo!

Enfim, Lua do Lobo trouxe uma nova e interessante visão a lenda do Lobisomem que, apesar de estar embrulhada em uma história com clichês e plot twists prevísiveis, me divertiu demais. E diversão é do que a gente anda precisando nesse país cada vez mais louco.

Nota: 7,8

Sim, nota quebrada porque achei 7,5 muito poco mas achei 8,0 um pouco demais.