QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 26
Uma Morte Horrível.
Recentemente o local onde comprei muita coisinha boa e barata na feira em 2019 acabou voltando a aparecer com novidades. Passei lá semana passada e adquiri Aurora Nas Sombras, que ganhou post aqui recentemente e que esqueci de colocar na série “Quadrinhos Baratos Que Li Recentemente”, já que custou apenas 15 golpinhos. Essa semana voltei lá e adquiri um quadrinho francês, de autoria de Pénélope Bagieu, e que também custou apenas 15 golpinhos, chamado Uma Morte Horrível. E é dele que falarei agora!
Em Uma Morte Horrível, acompanhamos a jovem Zóe, com apenas 22 anos de idade e trabalhando como hostess em um salão de automóveis. Pra quem não sabe o que é uma hostess, é basicamente uma recepcionista! Nos salões de automóveis, em específico, são aquelas moças bonitas que ficam ao lado dos carros. Zóe ODEIA seu trabalho de todo coração, sobretudo porque precisa aguentar o assédio de um sem número de engraçadinhos todo santo dia. A coisa não é muito melhor em casa, onde seu namorado, um cara rabugento, mal educado e desempregado vive a suas custas e a trata feito lixo. Cansada de tudo, certo dia, durante o intervalo do almoço, ela percebe um sujeito olhando pra ela da janela de um prédio de luxo. Entediada e curiosa, resolve ir até lá e pedir pra usar o banheiro. É quando ela conhece Thomas Rocher, um famoso escritor extremamente recluso que…Zóe não conhece por não dar a mínima pra livros. A partir daí, uma amizade se desenvolve com Zóe sempre indo a casa de Thomas depois do trabalho e isso se desdobra em algo a mais. O problema é que Thomas guarda um segredo GIGANTE que apenas ele e sua bela e provocante editora, Agathe, conhecem e que pode mudar tudo entre ele e Zóe pra sempre.
Uma morte horrível é um quadrinho que, em contraponto a seu traço bonitinho, trás uma porrada de camadas e questões bem complexas, sobretudo pro universo feminino. Temos a garota jovem mas que acha que está velha demais pra tomar novos rumos na vida e que está condenada a viver eternamente daquele jeito, temos a garota que vive num relacionamento horrível mas não não move um dedo pra mudar, temos a mulher que sempre vem com o discurso “Ah, mas homem é assim mesmo!” pra tentar amenizar os problemas de relacionamento das amigas (e, possivelmente, seus) por achar que é melhor estar mal acompanhada do que só, temos a garota que sempre é vista como fútil mas, na vida pessoal dá duro pra mudar de vida e temos a mulher forte e independente capaz de abandonar um relacionamento egoísta pra cuidar de si. As vezes muitos desses aspectos estão em apenas uma personagem.
Já no caso do Thomas, ele é a representação das pessoas, sejam homens ou mulheres, que se preocupam mais com as opiniões de pessoas que mal ou nem conhece que com as opiniões e sentimentos daqueles que convivem em seu círculo pessoal. Infelizmente eu conheço muita gente assim, bem como com certeza vocês também.
No entanto, nem todos esses aspectos são trabalhados tão profundamente, claro, ou seria preciso mais que suas 128 páginas pra dar espaço pra tantas discussões. Algumas são rápidas mas pontuais e sem didatismo chato. Porém, a história tem alguns probleminhas, sim. Algumas coisas acontecem rápidas demais e algumas acontecem de maneira estranha demais. A mais notável é o jeito que a Zóe conhece o Thomas. Ela está comendo num banco de praça quando vê um sujeito estranho lhe espiando de um prédio enquanto se esgueira atrás da cortina e…acha uma ótima ideia pedir pra usar o banheiro justamente desse cara segundos depois. Pior ainda, ela usa o banheiro e deixa a porta aberta pra “deixar o cara mais a vontade pra conversar”. Certo que Pénéope Bagieu faz questão de deixar claro durante TODA A HISTÓRIA que a Zóe não é um poço de inteligência. Mas isso já beira o retardo suicida!
No entanto, tirando esses momento “estranhos”, a história é leve, divertida, com muitos bons momentos de humor e a Zóe, apesar de alguns momentos de retardo, é carismática e muitas vezes fica claro que ela, apesar dos 22 anos, ainda é uma menina que não sabe lidar muito com sentimentos, principalmente, com ciúmes, seja do trabalho do Thomas que “tomas” muito tempo dele (BAM DAM TSS), seja com outras mulheres perto de seu novo amor. Quem se diverte com tudo isso é Agathe que, assim como Thomas, é bem mais velha que Zóe e adorar ver a menina explodindo de ciúmes.
O traço de Pénélope Bagieu é simples na mesma medida que é expressivo. Seus personagens transbordam vida e expressividade e sua narrativa é maravilhosamente divertida. Destaque pra sua Paris desenhada com traço todo tremidinho que é a coisa mais fofa.
Ah, outra coisa que vale citar é o final. Ele pode entrar na categoria de “coisas que acontecem rápido demais”. Temos um plot twist que acontece de forma tão inesperada…que acaba sendo extremamente divertido e te faz dar um sorriso de satisfação, mesmo você pensando “pera…como isso aconteceu? QUANDO ISSO ACONTECEU?”. É um final que causa sentimentos dúbios mas pendem mais para a satisfação que para a frustração.
A edição da editora Nemo é a típica capa cartão com orelhas e papel couché, já visto antes em A Diferença Invisível e Desconstruindo Una , e é até bontinha.O que não é muito bonitinho é o preço de capa de R$ 54,90. Mas procurando direitinho, dá pra encontrar bem mais baratinho internet afora.
Uma Morte Horrível é uma história simples, divertida e despretensiosa que apesar de alguns problemas com coisa acontecendo um pouco rápido demais e personagens tomando algumas decisões estúpidas (leia-se “Zóe”), não te deixa sair da história. Uma boa leitura.
Nota: 8,0