QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 24
Essa parte vai ser meio incomum.
Por razões óbvias envolvendo um vírus filho da puta, eu nunca mais havia ido a comic shop aqui da cidade. Muitas vezes vou lá só pra olhar e jogar conversa fora com o dono por alguns minutos ao invés de comprar,de fato,, sobretudo com o preço absurdo do gibizinho atualmente e que a Panini, mesmo em meio a uma crise financeira fodida no Brasil, parece não ter planos pra amenizar mas pra fazer justamente o oposto ela está a todo vapor.
Bem, a loja reabriu e eu acabei passando por lá quando fui resolver algumas coisas no centro. Cheguei a uma gôndola com alguns títulos antigos lá no fundo da loja, e o dono da comic shop disse “Qualquer uma é R$3,00”. Peguei duas edições mensais de X-Men pois elas traziam um arco fechado. Li e trago minhas impressões sobre a que é considerada por muitos fãs dos X-Men como uma das PIORES histórias da equipe em uma das suas PIORES fases. Senhoras e senhores, lhes apresento X-Men 53 e 54 da Panini com o arco “Gólgota”.
Antes de entrar no arco principal, a edição 53 traz uma história de Natal escrita por Chris Claremont e desenhada pelo “melhor-pior desenhista” dos X-Men nos anos 2000, Salvador Larroca. A história não tem nada de mais e mostra os X-Men salvando uma família de um acidente de carro, tentando fazer a X-23 socializar com as outras garotas da equipe, Gambit se recuperando da cegueira (que eu não sei como ele obteve,espero que não tenha sido furando os olhos durante um combate) depois de receber um beijo da Sábia, o Fera vestido de Papai Noel e Salvador Larroca tentando desenhar Scott Summers gargalhando mas acabando por fazer parecer que ele sentou em um prego enferrujado.
Na história seguinte é onde tem inicio a saga principal, Gólgota. Tudo começa quando os X-Men, nessa época liderados por Destrutor e tendo Wolverine, Vampira, Gambit, Homem de Gelo, Polaris e Emma Frost como equipe, vão até uma base que servia de refugio para mutantes no circulo ártico após receberem um pedido de ajuda. Lá encontram todos mortos e o nome Gólgota escrito em sangue na parede. Prestando mais atenção aos corpos, a equipe percebe que alguns na verdade se mataram, chegando até a arrancarem o coração do próprio peito. Ao mesmo tempo, em Los Angeles, um súbito frenesi de violência começa a tomar conta dos mutantes que começam a atacar humanos, sobretudo os ricos.
Os X-Men acabam descobrindo que Gólgota é um tipo de verme gigante Lovcraftiano, pegam o bichão e levam pra Mansão X. Lá, eles começam a sentir os efeitos do bicho, ficando violentos, criando conflitos entre si e até tendo alucinações. O grupo acaba descobrindo que o Gólgota original é uma versão menor e os vermes maiores são uma espécie de apêndices. Até que Peter Milligan desiste, deixa ele grande e novo por motivos de “porque sim”. Os X-Men derrotam o bicho mas descobrem que tem um grupo deles se dirigindo pra Terra. A Nasa concorda em mandar os X-Men pra resolver a treta porque achavam que eles iam morrer tentando e seriam menos mutantes na Terra mas eles triunfam e voltam vitoriosos. E fim. Agora…por onde eu começo…
A história é COALHADA de incoerências, situações jogadas no ar e foda-se e tem um dos finais mais confusos que eu li em muito tempo em uma história dos X-Men. Não acompanhava os X-Men nessa época então fiquei confuso a história inteira sobre a situação psicológica de Lorna Dane, a Polaris. Durante toda a história dá-se a entender que ela estaria enlouquecendo, só não fica muito claro se é por influência do Gólgota ou se era algo prévio. Em uma cena com ela, parece que o Destrutor está enlouquecendo também, mas aí eu já acho que foi vacilo do Salvador Larroca. Na cena em questão, o grupo está no subsolo da instalação no Ártico e Lorna grita que quer sair jogando uma rajada de…sei lá…poderes magnéticos, acho…no teto de gelo e Destrutor grita pra ela não fazer isso enquanto…LANÇA UMA RAJADA DE ENERGIA NO TETO TAMBÉM! Isso ficou mais confuso que ver o livro Os 10 Mandamentos da Record sendo vendido do lado da Bíblia.
Outro problema no roteiro de Milligan está nos mutantes que começam a sofrer a influência de Gólgota fora do Ártico. Mas, por alguma razão, a influência do bicho SÓ CHEGA A LOS ANGELES E A UM GRUPO ESPECIFICO DE MUTANTES! A lógica seria uma influência mundial mas…vai entender a cabeça do Milligan, considerado como um dos piores roteiristas no título dos X-Men até hoje.
Na edição 167 original americana, que traz a segunda parte da história, dá-se a entender que Emma Frost vai ser possuída pelo bicho e que a porra toda vai pro saco agora. Na história, Emma tenta entrar na cabeça do bicho, que reage, ela desmaia e na edição seguinte…levanta como se nada tivesse acontecido apenas pra informar que Gólgota era mais perigoso do que eles pensavam sem nunca explicar o porque. E só! Nada de Emma possuída, nada de perigo maior…NADA! Só sensacionalismo de capa pra chamar a atenção!
Outra patacoada do Milligan é aproveitar a tensão entre Gambit e Vampira por causa do romance “olhe mas não toque” dos dois pra jogar a ideia de que sempre houve uma tensão sexual entre Vampira e Wolverine. Isso não faz SENTIDO NENHUM pra mim, particularmente! Se fosse com a Tempestade, tudo bem, isso já foi jogado na roda algumas vezes no decorrer da saga mutante, mas com a Vampira? Aí não, né, Milligan? Ela já tem outro véio pra formar o triangulo amoroso, que é o Magneto! Wolverine é só brother!
Assim que os X-Men descobrem que Gólgota estava no Pássaro Negro o tempo todo, vão até ele, sabendo do poder que a criatura tem e…o derrotam “off screen”! Sim, a cena deles derrotando o bicho NÃO É MOSTRADA! Eles simplesmente estão discutindo aos pés do bicho que deveria ser ultra perigoso e, na cena seguinte, estão vivendo suas vidas, com direito a Emma tomando uns “bons drink” enquanto diz que o bicho foi derrotado em uma narração em off.
Mas é aí que eles recebem a noticia de que uma “frota” de Gólgotas está vindo do espaço, vão até lá em cima brigar com os bichos e se desenrola a luta mais confusa já vista e um título mutante. Uma hora você não sabe quem é quem porque tá todo mundo com roupa de astronauta e de costas, depois Destrutor e Polaris somem, depois eles voltam a aparecer no meio de uma explosão espacial, a galera usa os poderes sem danificar os trajes…um cabaré só! A história termina com eles fazendo a clássica pose dos astronautas andando enfileirados que já vimos em tantos filmes. Que história bagunçada do caralho…
Quanto aos desenhos do Salvador Larroca, como eu disse, ela era o “melhor-pior desenhista” dos X-Men na época…pra mim, claro! Conheci a arte do Larroca no final dos anos 90, mais especificamente na edição X-Men Especial- Psylocke e Arcanjo da Abril que trazia a mini-série Aurora Rubra. Ali ele nada mais era que uma imitação do Carlos Pacheco, principal desenhista dos X-Men em 1997 e que tinha um estilo bem diferente sempre desenhando as mãos da galera como se tivessem algum tipo de atrofia nos dedos. Eu ADORAVA! Salvador Larroca não chegava a fazer os dedos atrofiados, mas arte era muito similar. Ambos, ao contrário da maioria dos artistas da Image, por exemplo, evoluíram como desenhistas e adaptaram seus traços as novas épocas. Você não consegue associar o Carlos Pacheco de hoje em dia com o dos anos 90, são dois traços completamente distintos.
O mesmo pode ser dito de Salvador Larroca. Mas, nesse caso, a mudança não foi lá muito positiva…
Em Gólgota mesmo, podemos encontrar um porrilhão de problemas que ele sempre repete em seus desenhos. Eles sempre tem uma pegada de “esboço que não foi terminado direito” com alguns personagens que não conseguem manter a mesma fisionomia ou o mesmo corte de cabelo por dois quadrinhos seguidos. Isso sem falar em erros de anatomia grotescos.
Porém, vez ou outra, ele bota um pouquinho de força na boa vontade e faz um desenho bonito,como um da Emma Frost que ficou sensacional, a personagem ficou muito bonita. Pena que não pareça ser a mesma personagem que aparece no resto da história…
As duas edições ainda trazem história dos Novos X-Men, que não são os X-Men da fase do Morrison mas, sim, uma nova equipe adolescente. Mas essas eu nem tive ânimo pra ler.
Enfim, X-Men 53 e 54 trazem uma saga chia de erros, incoerências, desenhos cagados mas…devido ao fato de estar passando por uma fase complicada que não me permite ter tempo ou paz pra ler quase nada, acabei me distraindo. Recomendo Gólgota como leitura pra galera? Não! Procurem coisas melhores! Me distraiu, mas não é algo que eu vá ler de novo!
Nota: 5,0