Quadrinhos (baratos) que li recentemente: Parte 18
Tá procurando post sobre os últimos lançamentos em banca?
PROCUROU NO LUGAR ERRADO, OTÁRIO! Já que tá tudo caro e eu não tô roubando pra comprar mensal de 30 páginas a 10 réau. Só compro coisa véia e barata! Mas até aí, se você é leitor desta sessão sabe disso muito bem! Se não é, seja bem vindo ao maravilhoso mundo da leitura de encalhes e achados pechinchosos! Ah, e você pode ler as outras partes clicandoi AQUI.
Bem, e hoje é dia de gerar treta, polêmica e baderna já que se no ultimo post eu falei de um quadrinho da dupla Stan Lee e Jack Kirby onde o senhor Lee não deixava a história travada com seus textos redundantes, aqui eu vou fazer justamente o contrário. E o pior: Em uma fase de um dos títulos considerado um dos grandes clássicos da Casa das Idéias. Falo de Quarteto Fantástico: A Vinda de Galáctus que foi publicado na expansão da coleção de capa preta da Salvat dedicada aos clássicos da editora.
O encadernado começa com a famosa história publicada em Fantastic Four Annual 3 que mostra o casamento do Reed Richard e Susan Storm onde o Dr. Destino, usando uma máquina chamada “Manipulador Emocional de Alta Frequência” consegue fazer duas coisas: 1- Fazer todos os vilões das proximidades sentirem uma subita vontade de atacar TÃO SOMENTE o Quarteto Fantástico e 2- Me fazer sentir vergonha alheia dos nomes que o Stan Lee inventava pra maquinário e pras explicações cientificas com base em PORRA NENHUMA que ele usava pra justificar eventos cósmicos e golpes energéticos de alguns personagens.
Após muita quizumba com a participação de praticamente toda a galeria de heróis da Marvel da época e muitos de seus vilões (e a arte do Kirby prejudicada pela arte final de Vince Colletta, mas pretendo me aprofundar nisso em um post especifico), o Sr. Fantástico e a Mulher Invisivel finalmente se casam! Só para Sue Richards descobrir mais adiante que teria sido melhor continuar como Sue Storm mesmo…
Vamos, então, pra Fantastic Four 44 onde nos é introduzido (ui) o personagem Gorgon que, por alguma razão, estava caçando Medusa, na época membro do grupo de vilões chamado Quarteto Fatal. Hoje todo mundo sabe que Medusa e Gorgon são Inumanos, mas na época a revelação do grupo que gerou uma das PIORES SÉRIES DE TV DA MARVEL ainda não havia sido introduzida e sua introdução começava aqui. No meio da quizumba tambémn aparece o androide humanoide Homem Dragão que, por motivos de “porque sim”, confunde a Medusa com a Mulher Invisivel e resolve protege-la. Mais adiante descobrimos que Medusa também estava sendo procurada por um sujeito chamado Perseguidor, que caça Inumanos pra levá-los de volta a seu habitat.
Mais adiante, depois de muita correria, dedo no c* e gritaria, descobrimos que Gorgon queria levar Medusa de volta para seu líder e rei dos Inumanos, Raio Negro, enquanto o Perseguidor queria levá-la de volta para o irmão maligno de Raio Negro, Máximus, que havia usurpado a coroa e queria Medusa como sua rainha. Eu gostaria de dizer que a história segue pra um climax apoteótico e que Raio Negro recupera sua coroa após um combate mortal com seu irmão mas…não. Ele simplesmente chega na frente de Máximus, puxa a coroa, coloca na cabeça e…pronto! Raio Negro é rei dos Inumanos de novo e Máximus larga um “Eu só tava esquentando a coroa pra você” em uma das cenas mais anticlimáticas da história dos quadrinhos.
Ah, mas não acaba aí! Máximus acaba largando um tipo de onda que mataria apenas humanos mas acaba descobrindo que eles não morrem pois…bem…humanos e Inumanos são a mesma coisa, só que uns tem poderes e os outros não, por isso sua onda não matou seu mané ninguém. Tomado pela loucura de uma descoberta tão “nhé”, Máximus toma uma ultima medida desesperada e cria um tipo de redoma inquebrável, separando os Inumanos do resto do mundo para sempre e separando Cristalys, uma jovem inumana, de Johnny Storm, o Tocha Humana, que mal se conhecia a menos de 24 horas, mal se tocaram mas, por alguma razão, decidiram que se amavam e não podiam viver um sem o outro tornando o Tocha Humana o personagem mais chato e com o plot mais sem pé nem cabeça das edições seguintes.
E finalmente vamos pra história que dá título ao encadernado. Estranhos fenômenos atmosféricos começam a acontecer na Terra. Primeiro os céus começam a pegar fogo gerando medo, horror e desespero nas ruas e fazendo todo mundo achar que era culpa do Tocha Humana (que é vergonhosamente derrotado por uma mangueira de bombeiro). Em seguida, o fogo é substituido por um porrilhão de pedras flutuantes e muito me surpreendeu ninguém ter culpado o Coisa por isso.
Nisso, o Vigia aparece dizendo ser o responsável pelos eventos afim de camuflar a Terra de uma entidade cósmica chamada Galactus, o devorador de mundos. E, convenhamos, apesar da cabeça de ancoreta, o Vigia não é lá muito inteligente, tendo em vista que seu plano de camuflar a Terra com fogo e pedras equivale a camuflar um esconderijo secreto com uma placa de neon escrito “Esconderijo Secreto”.
O Quarteto então descobre que tem um sujeito prateado convenientemente em cima do edificio Baxter enviando sinais pra que Galactus manobrasse e estacionasse na Terra, tal qual um flanelinha espacial. O Coisa dá uma muqueta no alienigena que cai do prédio, ao que o Vigia diz que bater nele não adiante pois ele mal sentiria, o que se mostra uma prosopopeia flácida para acalantar bovinos do caralho, já que páginas depois vemos que o Surfista está DES-MA-IA-DA igual a Juliana na lancha dentro do apartamente da namorada de Ben Grimm, a escultora cega Alicia Masters.
A quizumba se instaura com Galactus armando sua máquina de “papar planetas” bem em cima do Edifico Baxter, por ser o mais alto da cidade, e o Quarteto tentando pará-lo na base da porrada, sem muito sucesso. O vigia manda Johnny Storm ir até outra beirola do universo pegar uma máquina pra tanger Galactus e o Johnny Quest inflamável o faz, voltando e entregando um troço que parece um isqueirão a Reed Richards que, futulcando na maquininha, quase varre a humanidade da Terra não fosse um puxão de orelha do Vigia. Elem aponta o isqueirão, chamado de Nulificador Total, pra Galactus, que fica apavorado, pede pra cagar e sai, dizendo que não voltaria mais a Terra (o que se provou uma mentira do cacete anos depois). Ah, e o Surfista tinhas sido convencido por Alicia a acudir a Terra e por isso ele acaba condenado por Galactus a ficar preso no nosso planeta e acaba ganhando o eterno ciúmes de Ben Grimm, o que ainda vai render um quebra pau daqueles no futuro.
Uma coisa que não se pode negar é que as histórias do Quarteto tinham ação non-stop. A porrada comia solta, a correria era constante e sempre tinha algo acontecendo, tudo sempre brilhantemente desehado pelo eterno Rei ( e real criador de grande parte dos heróis Marvel) Jack Kirby. O problema todo, pra mim, eram os roteiros do senhor Stanley Martin Lieber…
Como eu já disse no post anterior (e em tantas outras vezes), o “Marvel Way” de se fazer roteiros (Stan entrega um plot básico pro Kirby que desenha 20 páginas com uma história na cabeça que Stan transforma em OUTRA metendo os diálogos na “pós-produção” baseado no que vê e entende dos desenhos) acaba fazendo com que todos os textos de Stan Lee se tornem redundantes, excessivos, travem o ritmo da história que deveria ser frenético e, como agravante, temos Stan Lee inventando plots do nada que não tiveram tempo minimo de desenvolvimento e acabam ficando piegas, forçados e até bocós em muitos momentos. E o pior de todos é o romance repentino e sem porqe entre Johnny Storm e Cristalys.
Os dois se encontram de repende, Cristalys, com sua inocência, acha que Johnny também é um Inumano e quer aprtesentá-lo aos outros. As tretas acabam separando os dois e Johnny fica sofrendo pela separação. Ok, podemos crer que o moleque tenha tido uma paixonite a primeira vista e realmente tenha ficado numa bad por não poder ver mais a minazinha. Mas a coisa despiroca de vez quando Cristalys, que claramente só via Johnny como um novo Inumano e ficou feliz por fazer um novo amigo, sem RAZÃO NENHUMA E SEM DEMONSTRAÇÃO PRÉVIA DE INTERESSE MINIMO,resolve que não pode viver um segundo sequer longe de Johnny Storm, o homem que ela decidiu ser o amor de sua vida 30 segundos atrás enquanto assistia a grama crescer despreocupadamente. E o pior: Johnny chama o Quarteto pra sair no pau com os Inumanos, ou seja, é como se você fosse conhecer a família de sua namorada e levasse a sua pra espancar a dela. E ela releva isso NUMA BOA!
Esses momentos de “sofrimento pela separação” forçados para um senhor caralho só não são maiores porque o plot de Galactus coloca Johnny pra sumir de cena por um tempinho. Mas no encadernado seguinte, que vai ser tema da próxima parte dessa série de posts, esse troço vai mover um plot inteiro e ficar ainda mais forçado…
Outro fator extremamente incomodo está na importância e no comportamento de Sue Richards. Segundo o próprio Stan Lee, ele criou a Mulher Invisivel pra ser diferente das outras mocinhas da época, que se resumiam a donzelas em perigo. O problema é que Sue muitas vezes É a donzela em perigo e, mesmo que seja pouco mais ativa que uma “donzela em perigo” comum, ela ainda carrega o estigma da subserviência a seu marido que, diga-se de passagem, é um baita de um pau no cu arrombadaço! O cara acaba de casar, não sai em lua de mel nem quando está tudo tranquilo e ainda dá altos coices na esposa se ela reclama por ele ser um marido ausente. Certo, aí vem o argumento de “é como a mulher era vista na época”, mas se Stan Lee queria fugir do esteriótipo, por que não ousar? Por que fazer de Sue uma mulher que baixa a cabeça, aceita e obedece? Por que não faze-la DIFERENTE DE VERDADE! Olha, se Stan Lee primasse pelo realismo, com toda certeza esse casamento já teria acabado antes de completar a primeira semana e Sue estaria morando com o Namor!
Ah, e temos o segundo personagem com o drama mais REPETITIVAMENTE CHATO DE TODOS! E só ganhou o segundo lugar porque Johnny Storm tomou o primeiro com seu “conheci ela há 5 minutos e já não posso viver sem ela”. Falo, claro, do Coisa.
Sim, se transformar em um gorila de pedra laranja não deve ser uma experiência agradável e deve mexer com o psicológico de qualquer um, isso é fato! Mas já estamos a 50 edições nessa quizumba e o homem ainda se lamenta a cada dois quadrinhos a troco de nada. E quando eu falo a troco de nada é tipo isso:
– Bom dia, Ben!
– Bom dia? Deve ser mesmo um ótimo dia pra você que não é um mosntro laranja de cara medonha!
– Hã…ok…vai levar pão hoje?
– Pão…o pão é que tem sorte de não ser uma abominação como eu.
– Tá…pois é…bom, o céu tá escuro, acho que vai cair uma chuva feia hoje, né?
– Feia? A chuva tem sorte de não ter uma cara feia como eu.
– Ben…
– O que? Vai dizer que eu sou um monstro horrível e disforme? Pode falar! Eu sei que é verdade!
– Não, não era isso não.
– E o que era então?
– Vai tomar no cu.
Sério, uma vez ou outra é bacana, mostra que o cara obviamente sofre pela sua condição e tals. Mas a cada duas páginas em toda maldita história? vai-te a merda, Stan! A única coisa boa advinda dessa choradeira sem fim do Ben Grimm é a história que fecha o encadernado publicada originalmente em Quarteto Fantástico 51 intitulada “Esse Homem…Esse Monstro!” que mostra o Coisa em sua tradicional Bad Vibe vagando pelas ruas após ser sumariamente ignorado por Alicia Master na edição anterior, a qual foi meio pau no cu mesmo pois estava conversando com o Surfista Prateado e ignorou completamente o Coisa quando esse se dirigiu a ela e depois ela largou um “Ah, ele falou comigo? Nem ouvi, ó!”.
Acontece que um cientista falido e que morria de inveja de Reed Richards inventou uma máquina que atraiu o coisa até sua casa de forma inconsciente (graças a ciência “mambo jambo” Stan Leenesca) e também tinha outra máquina capaz de roubar os poderes do Coisa, se tranformando no monstrão laranja e fazendo Ben Grimm voltar a forma humana.
Ben acorda, percebe que voltou ao normal e vai até a sede do Quarteto onde encontra o Coisa impostor e tenta alertar a galera sobre o ocorrido mas é devidamente ignorado e tratado como o impostor ali, sobretudo porque o cientista maluco aparentemente era um baita ator de método também e estudou Ben tão bem durante anos que conseguia falar, se mover e até pensar como ele. Chupa, Joaquim Phoenix! Ao final da história,o sujeito acaba percebendo que Reed Richards não era o escroto que ele imaginava (apesar de durante TODO O ENCADERNADO o Senhor Fantástico provar o contrário sem muito esforço) mas o mais bonito é que o sujeito além de absorver os poderes de Ben também absorveu parte de sua personalidade, mostrando que o pedregulhão apesar de turrão e reclamão, tinha um coração tão cheio de bondade que seria capaz de se sacrificar pelos amigos sem pensar duas vezes. Essa história me deu um nózinho na garganta, confesso…
De extra no encadernado temos a planta do edificio Baxter desenhada por Jack Kirby e um texto explicando como surgiu a ideia para a criação dos heróis.
Bem, Quarteto Fantástico: A Vinda de Galactus tem, sim, seu valor inestimável como clássico e coisa e tal…mas é como eu já disse, você tem que ter uma baita de uma paciência pras redundancias, breguiçes e sub-plots forçados que o Stan Lee metia na trama. Muita gente vai reclamar DE NOVO que era assim mesmo, que precisa ler com a cabeça da época e blá,blá.blá…mas, velho…eu já li muita coisa dessa época que conseguia ser mais ágil! E, mais uma vez, eu adoraria que Stan Lee escrevesse só o argumento e deixasse o roteiro nas mãos de Jack Kirby! Sério, vendo apenas os desenhos e tendo em mente o que ele fez no Quarto Mundo, sobretudo em Novos Deuses, certamente teríamos histórias MUITO MAIS AGEIS, pois as cenas de ação do cara ainda são de encher os olhos (quando o Raio Negro aparece quebrando o pau contra o Quarteto é coisa linda de Odin!).
Ainda assim, apesar de tudo do que eu reclamei, a HQ ainda me divertiu. Me deixou impaciente em muitos momentos…mas divertiu.
Nota: 7,5
PS: Pra arte do Kirby é sempre nota 10!