QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 15.

J.M. DeMatteis, Kevin Maguire e Keith Giffen entram em um bar…

Pra quem é leitor de quadrinhos das antigas, é praticamente IMPOSSÍVEL não ter ouvido falar desse trio. Eles foram os responsáveis por uma das mais loucas, engraçadas e sensacionais fase da Liga da Justiça, a famosa Liga da Justiça Internacional ou, para os fãs, Liga Cômica (ou “Liguinha”, como é carinhosamente chamada). No run do trio, eles subverteram a coisa toda tirando a seriedade das histórias e enfiando diálogos hilários, cenas icônicas (e igualmente hilárias) e tudo isso com uma formação da Liga que em outras mãos jamais teria dado certo. Aliás, o próprio trio NÃO ACRERDITAVA que fosse dar certo! Se não conhece essa fase e ficou interessado em saber mais, eu escrevi uma resenha sobre a primeira edição da série Lendas do Universo DC que a Panini está lançando focado na Liguinha e você pode ler clicando AQUI.

Obviamente que muitos anos depois o trio revisitaria sua Liga uma ou outra vez, mas eis que a Marvel pensou “Tá…e se a gente chamasse eles pra escrever algo similar pra nós? E que grupo poderíamos entregar a eles sem que mude o status quo de nossa cronologia?”. A resposta veio na forma da equipe que não se chama de equipe, os Defensores!

Pra quem não conhece os Defensores, uma sinopse muito breve: Quando alguma treta mística está para tomar a Terra de assalto, Dr. Estranho acaba buscando a ajuda de dois aliados que se odeiam, Hulk e Namor. Os 3 resolvem a treta e se separam e DETESTAM ser chamados de time. Mas, vez ou outra uma nova treta aparece e o time acaba se reunindo novamente a contragosto e com o tempo novos integrantes vão fazendo parte dessa equipe temporária, sendo o Surfista Prateado o mais constante.

Tem gente aí que eu nunca vi mais gorda…

Pois bem, eis que o título é deixado nas mãos de J.M. DeMatteis e Keith Giffen nos roteiros e Kevin Maguire nos desenhos tal qual era na Liga.  A história é lançada em 5 partes nos EUA em 2005 e chega ao Brasil na integra em 2008 na edição 26 da falecida Marvel Apresenta da Panini. Esse foi um número que busquei por muito tempo, mas sempre o achava sendo vendido caro demais. Até que a Salvat a relançou na edição 23 da coleção Os Heróis Mais Poderosos da Marvel, vulgo “Coleção vermelha”, sob o título de “Defensores: Indefensáveis” e aí é que ficou caro de verdade. Foi então que há mais ou menos uma semana da publicação desse post, eu vi a edição da Salvat em meio a outros números numa prateleira de uma comic shopping aqui da cidade e resolvi perguntar o preço. “R$25,00” foi a resposta, então não pestanejei e peguei-a! Ao chegar em casa dei uma folheada nas páginas e constatei que os desenhos do Kevin Maguire estavam melhores do que nos tempos da Liguinha (onde já eram ÓTIMOS, diga-se de passagem), mas ler mesmo só fui conseguir alguns dias depois. E aí é que tá o problema…

Antes de mais nada, sinopse breve: Pesadelo, a entidade que mais parece uma cruza do Charada com o personagem do Mark Hammill na série dos Flash dos anos 90 (esqueci o nome dele agora), procura o Dr. Estranho para avisar que Dormammu e sua irmã, Umar, se uniram para invadir nosso plano…de novo. Para impedi-lo, Dr. Estranho busca a ajuda de Namor e do Hulk que recusam de inicio, mas acabam aceitando no final, mas sem parar de reclamar por um minuto. Agora o trio de Defensores terá que lidar com a dupla e impedir que Dormammu remodele o mundo segundo sua vontade.

A história é básica, divertida, com diálogos engraçados mas…não anda! Das 5 edições que compõem a série, 4 são unicamente focadas em longuíssimos diálogos cheios de humor mas nada acontece, feijoada! Sério, parece os roteiros de Punho de Ferro, Jessica Jones e Luke Cage pra Netflix, onde a ação era substituída por longos e extenuante diálogos. Certo que nessas séries os diálogos causavam tédio e na HQ dos Defensores ela consegue fazer rir mas, ainda assim, em muitos momentos J.M. DeMatteis e Keith Giffen pesaram a mão nas conversações. Quem leu ou está lendo a Liguinha sabe que existem diálogos engraçados sim, mas eles intercalam com cenas de ação pra não deixar o ritmo cair. Em Defensores eles não só deixam a ação de lado como se tornam repetitivos em muitos momentos, batendo numa mesma tecla muitas e muitas vezes, como a Umar dizendo que vai usar e abusar do Hulk (e, de fato, ela o faz), Umar humilhando Dormammu que fica respondendo como o típico irmão mais novo e birrento e Namor reclamando de tudo, coisa que faz parte da personalidade do personagem, mas tem uma hora que dá vontade de gritar pro gibi “TÁ BOM, FILHO DA PUTA! A GENTE JÁ ENTENDEU, TU NÃO GOSTA DO HULK E NEM DO DR. ESTRANHO, AGORA FAZ ALGUMA COISA COM A PORRA DESSA SUPERFOÇA, SUPER-PUTO DO CARALHO!”.

As conversas entre Umar e Dormammu são muito…
…muito…
…mas MUUUUUITO LONGAS MESMO!
E as vezes eles nem precisam estar juntos pra um deles falar demais.

Mas se tem um personagem que, sim, tem um plot repetitivo mas esse NÃO CANSA, é o Surfista Prateado! Apesar de estampar a capa, o personagem não participa da aventura. Na verdade ele recusa o chamado do Dr. Estranho porque diz que encontrou seus iguais, “homens que cavalgam a prancha” como ele. E esses “homens que cavalgam a prancha” nada mais são que um grupo de surfistas chapadaços que acham toda a filosofagem do Oscar prateado de prancha uma baita de uma viagem mó daora. A coisa chega a seu ápice quando, ao final, o Surfista quer chamar a atenção de seu novo grupo afim de fazer um pronunciamento e diz “OUÇAM-ME, BRÓDERS E MINAS!”  entendendo que essas denominações são o “senhoras e senhores” daquele grupo. O que não deixa de ser verdade, mas fica hilário quando falado por um sujeito que filosofa sobre absolutamente TUDO com extrema seriedade. A coisa só fica mais hilária ainda graças ao modo como Kevin Maguire desenha o personagem, com grandes olhos de ET inocente e confuso.

E por falar em desenhos do Kevin Maguire…eis a MELHOR PARTE  da HQ! O sujeito, que é conhecido como o mestre das expressões faciais, está on fire! Arrisco-me a dizer que alguns diálogos só não ficam cansativos porque as expressões que ele põe nos personagens são de rachar de rir. Agora, não sei se foi acidental ou proposital, mas seu Dr. Estranho parece o ator Matthew Perry, o Chandler de Friends, assim que aparece descabelado no começo da história e seu Namor lembra demais o diretor Quentin Tarantino, com direito a boquinha murcha e tudo.E isso só me faz lamentar a edição da Salvat não trazer um extra com o estudo de personagens ou páginas originais do desenhista.

Olhem pra esse Namor e digam se não é a cara ( e a boca murcha) do Quentin Tarantino!
Ah, e o Dr. Estranho também acaba parecendo o Pedro Pascal.

“Mas, Hellbolha…quer dizer que você não gostou da história? COMO OUSA?” Alguns podem dizer partindo em defesas da equipe criativa. E é como eu disse, não é que eu não tenha gostado, só acho que pesaram a mão na quantidade de diálogo excessivo e deixaram a mão leve demais na hora da ação, sendo que só temos UMA grande batalha, no finalzinho da edição 5. Se eu recomendo? Claro! Mas não por preços absurdos como muita gente vende por aí! E não precisa ser em capa dura, como eu acabei por comprar. Comprei porque foi a que achei e porque o preço tava bacana, mas se eu tivesse achado a versão em capa mole, com aquele papel que parece um papel jornal mais forte e com a lombada no grampo da Marvel Apresenta por uns 5 contos, eu estaria duplamente satisfeito. Seria um clássico QBB: Quadrinho Bom e Barato! Então, ao final, entre mortos e feridos,todos se salvaram e a nota para Defensores: Indefensáveis é…

Nota: 7,5.

Nota exclusiva pra arte do Maguire: 10 (com louvor!)