Quadrinhos (baratos) que li recentemente: Parte 1
Uma breve viagem pelo mundo da leitura baixa renda!
Como todos sabem, os preços das HQs e mangás adam tão ridiculamente altos que a expressão “formato econômico” ao qual muitas pessoas ainda chamam os capa cartonada da Panini passou a ter um tom de piada, já que um capa cartonada custa R$30,00 agora e isso não me parece NADA econômico. E foram esses aumentos ridiculos, como mensais de 34 páginas por R$9,90 com imprestáveis capa cartão, que me afastaram de vez de qualquer lançamento em banca. Minhas idas a este estabelecimento se resumem a comprar encalhes, sobretudo da Nova Sampa e seu catálogo de mangás bosta escolhidos a dedo de leproso por um certo editor aí, e algumas coisas da Panini que uma banca daqui as vezes mete um adesivinho pela metade do preço.
Minha alegria de leitor só foi restaurada tempos atrás quando passeava pelo shopping e vi um stand (não, isso não é uma fodendo referência a Jojo, seu “Jojofag”) onde todos os livros custavam R$10,00 e, no meio deles, haviam vários encadernados da Panini em capa cartão pelo mesmo preço e alguns em capa dura variando entre R$15,00 e R$20,00. Comprei algumas dessas edições, li um monte delas, não fiz post sobre nenhuma, então resolvi fazer uma série de posts com algumas delas. E, pra começar, vamos de Lendas do Universo DC: Mulher-Maravilha de George Pérez.
Taí uma série que eu confesso que nunca tive vontade de ler por puro preconceito. Apesar de extremamente elogiada, a série nunca me despertou interesse porque era uma reformulação pós-Crise Nas Infinitas Terras e eu tinha lido o Superman do John Byrne, que eu até gosto mas é bem bobinho e meio cansativo em vários momentos, e Lendas, que essa sim eu acho bobinha e meia. Não me entendam mal, eu gosto de ambas, inclusive resenhei Lendas tempos atrás e falei de como era bobinha e divertida, mas eu esperava que Mulher-Maravilha fosse cair na repetição, com o mesmo plot de “Steve Trevor cai na Ilha Paraíso, Diana fica intrigada e posteriormente apaixonada por ele e blá,blá,blá”. E, amiches e amichas…como fico feliz em dizer que errei feio, errei feio, errei rude!
A trama da reformulação da Mulher Maravilha idealizada por George Peréz, o qual chamou os escritores Greg Potter e Len Wein para transformar seus argumentos em roteiro (sendo que Potter só escreveu as duas primeiras edições e Wein seguiu até a edição 16), é um épico maravilhoso com uma pegada meio “Deus da Guerra soft”. E a coisa já começa com saldo positivo quando resolve contar primeiro a origem das Amazonas calmamente antes da Mulher-Maravilha dar as caras completamente uniformizada lá pela terceira edição. E, acredite, isso não deixa a história lenta ou chata, apenas enriquece ainda mais esse novo universo da Mulher-Maravilha!
Outro ponto positivo está no fato de Steve Trevor não aparecer como interesse romântico. Aqui ele é um sujeito bem mais velho e muito menos “galã” do que normalmente é representado em outras histórias da Princesa Amazona e acaba desenvolvendo uma relação de amizade e respeito com tons quase paternais com Diana.
Outro ponto a se destacar está na representação dos Deuses, muito fieis tal qual aparecem na Mitologia. Zeus, por exemplo, aparece como um “putanheiro” prepotente e machista pra caralho que protagoniza uma situação revoltante pra porra que é o gatilho para o segundo arco da saga o qual corresponde ao volume 2 da coleção. Além disso, é sensacional a maneira que a Mulher-Maravilha derrota Ares no final do volume 1 e te faz pensar “Mas por que não fizeram esse final no maldito filme? Por que preferiram dar o poder dos Ursinhos Carinhosos a ela ao invés do poder da argumentação lógica, tal qual nos quadrinhos?”. Eu até gosto do filme mas, acreditem, se tivessem usado esse final, seria MUITO melhor. Ah, e se tivessem usado esse Ares também, ao invés do senhorzinho de bigode dos filmes do Harry Potter, seria melhor ainda…
Obviamente existe uma mensagem de empoderamento feminino que, devo dizer, parece ter sido bem a frente de seu tempo em relação a época em que a HQ foi lançada! Em nenhum momento a história assume um tom de militância extremista tentando diminuir os homens ou algo do tipo. George Pérez tem tato para mostrar o feminismo como ele realmente o é, a busca por igualdade e respeito e não “um movimento de mulheres doidas e extremistas que querem exterminar os homens da face da Terra” como muita gente erroneamente acredita por aí (e de ambos os sexos, devo frisar). Há também uma belíssima mensagem de aceitação quanto a si mesmo na forma da personagem Etta Candy que se torna amiga de Diana e é apaixonada por Steve Trevor mas se sente diminuída por não estar dentro dos “padrões de beleza”, sobretudo quando está perto da Amazona, que é quase um símbolo de perfeição. Ela tenta perder peso e ter um corpo minimamente próximo ao da Mulher-Maravilha, até que em dado momento da história ela percebe que o que torna Diana um “mulherão da porra” não é seu corpo perfeito, mas seus valores e que ela também os tem e, portanto, também é um “mulherão da porra”. Esse quadrinho continua atualíssimo!
Comprei as 4 edições, cada uma por R$10,00, e li apenas as duas primeiras e o metade da terceira, que foi quando Geroge Peréz se sentiu seguro o suficiente para assumir o roteiro sozinho. E é justamente aí que a saga da Amazona sofre um pequeno baque de qualidade no que tange ao roteiro. Não que fique horrível, mas todo o tom épico que Len Wein empregou é substituída por histórias mais “comuns” de super-heróis e você sente falta de ver mais batalhas grandiosas contra seres mitológicos. Bem, de bônus na terceira edição temos a arte de John Byrne finalizada por Peréz numa história publicada originalmente na Action Comics 600 e que mostra o romance entre a Mulher-Maravilha e o Superman MUUUUUUITO antes dos Novos 52. CHUPA, DC! Não, pera…
Enfim, fica a recomendação! Se achar Lendas do Universo DC: Mulher-Maravilha em um desses stands em algum shopping, pegue sem medo! É sempre mais comum achar as edições 2 e 4, mas se você tiver a sorte que eu tive e achar as 4, não hesite! Ah, e se você quiser pegar só as “edições boas de verdade”, peguem a 1 e a 2. Apesar de todas terem continuidade, todas as edições podem ser lidas separadamente tranquilamente pois os arcos se fecham em cada volume, sendo que a primeira e a segunda edições tem os melhores arcos que vão te prender do inicio ao fim.
Nota: 9,0