Post dos amiches – Ser leitor de quadrinhos é… por Hellbolha!
Olá, jovos e jovas Superamicheiros! Retorno aos computadores da Sala da Delicia para compartilhar um estudo sociológico (e cretinamente empírico) empreendido por mim mesmo afim de desvendar alguns dos aspectos mais marcantes que nos une em uma rara, estranha, inconsequente (por que não?) e cada vez mais crescente raça: Os leitores de quadrinhos.
Aqui irei enumerar alguns dos aspectos mais comuns e vergonhosos que nos caracterizam e que nos tornam estranhos aos olhos da sociedade “civil”. Mas nós não ligamos, pois somos o que somos e nos orgulhamos disso. Então, comecemos!
1 -Formatinhos são SAGRADOS!
A grande maioria de nós está na casa dos 30/40 e começamos a ler quadrinhos entre os anos 80/90. Nessa época a editora Abril reinava suprema nas bancas com seus formatinhos e suas histórias de cronologia confusa, mega sagas picotadas, capas escrotas e histórias muitas vezes bem meia boca (e extremante nojentas em grande parte dos anos 90). Mas, apesar de todos esses problemas, essa era nossa Era de Ouro!
Como éramos moleques, nem todos tinham grandes cuidados com suas revistinhas. As vezes nossas mães se encarregavam de dar um fim cruel à elas ( a minha jogou um monte das minhas por que um rato urinou na bolsa onde elas ficavam no quintal…). No entanto, as que sobreviveram bravamente a esse período são nossas verdadeiras relíquias, mesmo que seja aquela edição vagabunda da Saga do Clone do Homem-Aranha, ou aquele encadernado que já está soltando as folhas de tão grosso com a saga “completa” da Queda dos Mutantes. Guardamos, cuidamos bem melhor agora e sentimos orgulho delas. São nosso legado para…bem…quem sabe. Nossos filhos, talvez…sendo bem otimista…
2 – PRECISO TER ISSO ENCADERNADO!
Apesar de termos histórias que lemos e relemos milhares e milhares de vezes em nosso supracitados formatinhos, assim que a Panini anuncia um encadernado com essa ou aquela saga, o primeiro pensamento que lhe vem a cabeça é “EU PRECISO TER ISSO ENCADERNADO”. Mesmo que a história seja um caça-níquel vagabundo feito pra vender bonequinhos, tal qual Guerras Secretas.
O fato é que, por vezes, os encadernados da Panini trazem a história na integra, com muito do material que ficou de fora da triagem da Abril ou que foi simplesmente modificado por causa da cronologia, como o próprio Guerras Secretas, que teve personagens alterados e alguns simplesmente apagados da história.
No entanto, muitas vezes é o simples fato de amarmos tanto essa ou aquela história, seja por que eram realmente boas ou simplesmente por pura nostalgia, que fazemos questão de tê-las em seu formato original americano, onde podemos apreciar em um papel de melhor qualidade todos os pormenores da sensacional arte dos desenhistas em suas melhores fases. Porém, só a pura nostalgia justifica alguém comprar o encadernado “Homem-Aranha: Tormento” do McFarlane…afinal, não há muito o que se apreciar naquela “arte”…
3 – É CAPA DURA? EU PRECISO!!!
Ai você já tem o encadernado em capa cartonada que nem foi tão caro. E, as vezes, nem foi tão barato também. Mas eis que você vislumbra na banca uma nova edição do mesmíssimo encadernado em capa dura, numa edição “de luxo”. É ÓBVIO que você precisa dela! Mas…por que? Pra mostrar para os seus pais? Não! Para impressionar as gatinhas? Não! Para fazer inveja aos seus amigos? Talvez… mas nem sempre…
A grande verdade é que você NÃO SABE exatamente o por que! Esse é o vicio falando mais alto! Afinal, é uma capa dura, bonita, reluzente e como bônus, as últimas páginas trazem as artes originais do desenhista e o roteiro todo escrito a mão do autor que você nem se dignará a ler… mas É FODA ASSIM MESMO! A vontade de ler esse roteiro escrito à mão cai em 200% quando ele vem sem tradução alguma, no meu caso…
4 – Capas duras tornam histórias merdas em ótimas obras instantaneamente.
Esse caso eu notei com a quadrinização de Star Wars “Episódio 1: A Ameaça Fantasma”. No Facebook, dezenas de pessoas exibiam orgulhosos fotos do encadernado em capa dura de um dos mais ODIADOS filmes da saga do senhor George Lucas. No entanto, em reviews internet afora, a história ganhava notas 8,0/8,5. Ou seja, a capa dura se tornou um ótimo elemento de melhoria de roteiro. Afinal, se aquele filme já é parado pra cacete, em uma história com desenhos estáticos ela não iria se tornar Mad Max nas Estrelas…
5 –Se está barato, eu posso relevar esse defeitozinho…
Como bons leitores de quadrinhos que somos, sempre nos empolgamos quando achamos algo que queremos muito por um preço muito baixo. Isso aconteceu comigo duas vezes.
Como fã do Homem-Aranha e do Mike Mignola que sou, encontrei net afora os encadernados Homem-Aranha: Potestade (que um dono de uma loja de quadrinhos da cidade chamou de “potesteide” pois achou que a palavra era inglesa) e “Ironwolf: Chamas da Revolução” por R$7,00 e R$8,00 respectivamente. Comprei sem pestanejar, já que estavam bem abaixo do preço de capa (Homem-Aranha custava R$17,90 e Ironwolf R$34,00). Mesmo com o frete o preço ainda ficaria muito baixo.
O grande lance é que o Homem-Aranha eu comprei pelo Facebook e a pessoa que vendeu fez questão de mostrar que estava zoado, pois havia caído na água. Relutei por segundos… e disse “tudo bem”! Quando chegou aqui, o negócio estava pior do que parecia nas fotos…e eu nem podia reclamar, pois a pessoa que vendeu foi sincera. Eu fui uma anta. Mas ainda tem o caso do Ironwolf, que comprei em um famoso sebo virtual e que não tinha foto. Ao chegar em casa…pois não é que o danado também havia caído na água? Estava em melhor estado que a do Aranha por ser capa cartonada. Só que nesse caso eu nem lamentei tanto, pois esse era difícil de encontrar, sendo barata ou não.
Outro caso aconteceu com uma edição do Constantine em formatinho e preto e branco chamada “Passagens Sombrias”. Haviam duas encalhadas numa banca daqui e eu e um amigo sempre ficávamos urubuzando para ver se o dono da banca mudava o preço, como ele faz vez ou outra com os encalhes. Foram uns dois meses até que ele baixou o preço de R$17,90 para R$4,90. As capas estavam amassadas e cheias de marcas…mas quem ligava? A gente só queria ler uma história bacana mesmo. Ser pobre é uma merda…
6 – Essa fase é ruim… mas tenho que completar a coleção!
Quantas vezes você comprou essa ou aquela HQ, encadernada ou não, só pra terminar uma coleção mesmo que ela já estivesse ladeira abaixo? Esse é o nosso mal. Não aguentamos ver algo sem um final. E o mais trágico é quando um encadernado vem com uma fase sensacional e termina com uma história que continua no próximo onde só vai ter aquele final com aquele autor junto de outras 160 páginas de outro autor bosta com um desenhista merda. Os editores podem ser bem cruéis as vezes…e oportunistas pra caralho também…
7 – Não gostar de um “clássico” te torna alvo de criticas dos leitores “intelectuais”.
Não gostou de Os Invisíveis? Vocês só pode estar brincando! Não gostou de Cavaleiro das Trevas? Você só pode estar brincando! Não gostou de Watchmen? VOCÊ É LOUCO???
Gosto é algo muito subjetivo e os leitores de quadrinhos respeitam isso…em sua maioria. Mas sempre tem esse ou aquele radical que não aceita que você não venere Alan Moore, não entende como você não gosta de Grant Morrison, não admite que você não goste do Frank Miller e acha UM ULTRAJE você não gostar de Jack Kirby!
Isso é chato? É! Todo mundo tem direito a ter uma opinião e ninguém é obrigado a gostar de nada. E é muito melhor ter uma opinião própria do que fazer como muitos leitores de 14/15/16 anos que entram em grupos de quadrinhos do Facebook e perguntam “por qual clássico devo começar a ler quadrinhos? Watchmen ou Cavaleiro das Trevas?”. Amiguinhos que pensam assim…comecem PELO QUE VOCÊS QUISEREM! Pode até ser uma das bombas que estão nas bancas em formato mensal ultimamente, contanto que você adquira um senso critico. Não é vergonha alguma ler algo que todo mundo considera ruim e gostar disso. Se for mesmo ruim, com o tempo seu senso critico avisa. Afinal, os leitores dos anos 90 começaram a ler em uma das piores fases da história dos quadrinhos.
O foda mesmo é quando esses moleques que pedem opinião no Facebook vem querer te dar lição de moral quando você critica esse ou aquele “clássico”…é muito leite com pera pra pouco Ovomaltine…
8 –Comprar algo pelo impulso mesmo sabendo que é uma merda.
Já fiz isso um porrilhão de vezes e quase faço de novo esses dias. E as vezes tudo que uma HQ dessas precisa pra te convencer é de uma edição bonita ou em capa dura, como já citado. Entre minha coleção de vergonhas está a “Edição Histórica Wolverine Nº02” que continua a ótima fase Hama/Silvestri vista na ótima primeira edição mas que aqui vai ladeira abaixo com histórias medonhas mexendo com o passado do Wolverine e com o lance das memórias implantadas que eu acho uma merda sem tamanho, passando por uma ventura interdimensional bem imbecil envolvendo o Mojo e culminando na única parte que realmente acho legalzinha que é a história da morte de Mariko Yashida. Mas BEEEEEM longe de ser um Frank Miller.
Nesse caso em especifico, eu só comprei pelo traço do Silvestri que, diga-se de passagem, já estava ficando incomodamente Jim Leenizado. Uma pena…
9 – Comprar algo pela capa e descobrir que é uma merda tarde demais…
Aí você compra aquela HQ com aquela capa dura, holográfica, 3D, metalizada e que pica, fatia, tritura e até escaneia desenhada pelo Mike Mignola. E, quando abre, descobre que o desenhista é o Lifeld com roteiros do Jeph Loeb, pois não haviam créditos na capa. Isso é muito comum naquelas mix mensais que vem embalados em sacos plásticos. Aí você compra uma edição dos X-Men pra ler uma saga em especifico que começa ali e descobre que são só as 25 primeiras páginas, o resto são os Novos Mutantes. Isso me lembra os formatinhos onde, por exemplo, a edição do hulk vinha com 20 páginas de histórias dele e o resto das 80 páginas eram histórias do Thor, Namor ou algo que o valha.
10 – Pagar caro em uma edição inteira por causa de uma história de 20/30 páginas.
Pax Americana. Essas palavras vão ficar gravadas em fogo no meu coração pra sempre. Paguei malditos R$16,20 por 35 páginas. Nem li as outras horrendas 113, pois aquela merda de multiverso não me interessava. Mas eram 35 páginas tão lindas…snif…maldito e talentoso Frank Quitely…snif…
11 – Se sentir um sábio em discussões sobre quadrinhos com os mais jovens.
É algo imbecil,admito, mas é o único momento em que esse monte de conhecimento inútil realmente te faz sentir orgulhoso. Nada como explicar por que esse ou aquele personagem do filme é assim ou assado. Nada como corrigir babaquinhas metidos a merda e que se acham os senhores fodões donos da verdade do universo dos quadrinhos. Nada como ver o olhar de admiração daquela jovem pessoa que busca seus conhecimentos quando você cita aquele quadrinho dos anos 60/70/80 pra tirar uma dúvida dela. É infantilóide? É! Mas é nosso pequeno super momento…
12 – Cagar para as pessoas que dizem “Você não está velho demais pra isso?”.
Crescemos lendo quadrinhos e, muitas vezes, nos alfabetizamos lendo quadrinhos. Fui orador da minha turma da alfabetização por que era o moleque de 6 anos que melhor lia na sala. Foram pelas aulas de português? Porra nenhuma! Foi tudo graças aos gibis da Turma da Mônica e do Urtigão (o Chico Bento velho da Disney).
Quadrinhos nunca fizeram mal pra mim e nunca farão. Muito pelo contrário! Divertem, distraem, aliviam o stress, ensinam lições valiosas e, o mais importante…UNE PESSOAS! Se não fosse por isso, você não estaria aqui lendo isso nesse exato momento. E tenho dito!
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