Por que o Brasil precisa limitar a banda larga fixa.

 

Invertendo a lógica do poeta Fernando Pessoa, digo: “Navegar não é preciso. Viver é preciso”.

Certa vez, um conhecido de um amigo meu que morou por algum tempo na Inglaterra contou-me que, mesmo com uma condição financeira estável (e muito superior à nossa) o inglês médio busca sempre utilizar seus recursos de forma controlada. A causa disto reside no rigor enfrentado pelo povo inglês no período da Segunda Guerra Mundial. O hábito de racionar suas provisões no período do conflito ficou enraizado no DNA do trabalhador inglês mesmo quase oito décadas após a celeuma.

Trabalhadores ingleses do pós-guerra.

Trabalhadores ingleses do pós-guerra.

Ainda continuando seu raciocínio, tal conhecido afirmava que o brasileiro não tinha comportamento semelhante mesmo em um período de dificuldade financeira. Restava ao Brasil, em sua análise, passar experiência semelhante à inglesa para que o povo brasileiro “aprendesse a lição” – por assim dizer.

A instabilidade do momento atual no quadro socioeconômico brasileiro levou a população a repensar seus hábitos de consumo. Não só o brasileiro médio: o próprio Regime tem lançado planos controversos que pretendem sanar os problemas da economia ainda que a um custo elevado para os mais desfavorecidos. Ainda nesse sentido, o atual Regime também está preocupado com o uso racional dos bens da Nação, como a Internet.

Na última quinta (12/01/2017) o excelentíssimo Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab – grande expoente da intelectualidade brasileira – causou rebuliço nas redes sociais ao anunciar a possibilidade de se limitar o consumo de dados da banda larga no País. Pouco depois do anúncio, um sem número de críticas iracundas debruçou-se na fala do ministro. Como já esperado nesta era de pós-verdades, as manifestações revoltosas não levaram em conta fatores técnicos. As opiniões eram embasadas apenas em boatos, mensagens de whatsapp e notícias advindas de blogs obscuros. Bem, aqueles que me conhecem sabem de minha postura de repúdio ao novo Regime, mas, no que tange à limitação da banda larga, sou totalmente favorável e abaixo explico o motivo.

 

Kassab_Anatel

Sexy sem ser vulgar… ou… apenas não.

A internet, assim como a água e o petróleo, é um recurso natural finito. A internet é advinda do refinamento do mineral de internet que é extraído em jazidas distribuídas de forma heterogênea na crosta terrestre. Do refino, tem-se como produtos a internet (que você está usando agora ao ler este pÓstE deveras elucidativo) e a intranet (normalmente utilizada em empresas). Como sub-produto, tem-se a internet profunda (ou DeepWeb) assim chamada por ser um produto de fundo da torre de processamento. O processo de refino é complexo. Envolve adição de calor, produtos químicos, dinglebop, fleeb’s juice, chumbles e um sem número de processos de extração físico-química que permitirão a transformação da liga metálica de Índio, Nitrogênio, Telúrio, Érbio e Neônio (INTeErNeTe) em bits a serem utilizados nos computadores, tablets e smartphones em todo o mundo.

Mundial_Reserves

Jazidas de Internet no Mundo (2016)

O processo de extração e refino de minério de internet foi teorizado pouco antes da Segunda Guerra pelo físico teórico Hans Webb. Hans fugiu para os EUA dois meses após a invasão alemã ao Polônistão. Seus estudos, entretanto, acabaram sendo apreendidos pelo Reich, que encarregou a um pequeno número de físicos o desenvolvimento das ideias de Hans. Hitler só não obteve sucesso na prospecção de internet em virtude de seu insucesso em conquistar a Rússia, um país com grandes reservas do minério. Por outro lado, Hans obteve nos EUA sucessos relevantes, ainda que em escala de laboratório, no processamento do minério gerando alguns kilobits.

Apesar do sucesso incipiente, o processo de refino era caro e de uso restrito às forças armadas americanas. Com o desenvolvimento dos computadores e de novas tecnologias de extração e refino é que a produção de bits passou a ser viável economicamente. A popularização dos computadores bem como a descobertas de novas e volumosas jazidas levou a uma rápida queda nos custos de extração e refino de internet.

Custos de extração e refino de internet.

Custos de extração e refino de internet.

A partir de 2008, há uma inversão na tendência de queda nos custos de extração de minério de internet. Isto se deve à localização, cada vez mais distante da costa, das jazidas descobertas. Cerca de 30% da internet extraída atualmente concentra-se em águas ultraprofundas (lâminas d’água acima de 1.500 m). Estima-se que esse número será de 42% em 2020.

Além da dificuldade de extração, há um outro problema vigente: a finitude do recurso. Apesar da aparente abundância, a internet é um recurso finito. As descobertas de novas jazidas estão chegando a um processo de estagnação (apesar de se acreditar que as reservas encontradas em águas ultraprofundas tende a aumentar a partir de 2020) o que leva à preocupação quanto ao uso racional do recurso em face ao crescimento da demanda.

Production_Reserves

No Brasil, cabe à Anatel a logística de extração, refino, distribuição, fiscalização e regulamentação do minério de internet. A indigesta pauta a respeito da fixação de limites não é coisa nova. Ainda em 2015 o mesmo tema foi debatido pela sociedade. As discussões foram reacendidas em 2016 e não foram finalizadas, retornando à pauta de discussões em 2017. Em vista da pressão popular o órgão cede ao clamor público por ora de modo a evitar maiores desgastes. Contudo, a fixação de um limite parece algo inevitável (e necessário).

Desse modo, diante do exposto, fica claramente evidenciada a necessidade de se colocar limites no consumo mensal de bits não só no Brasil como nos demais países do Globo. O crescimento desenfreado da demanda e a escassez dos recursos poderá levar ao rápido esgotamento das jazidas de internet. Mesmo com as expectativas das futuras reservas ultraprofundas e as novas tecnologias de extração (como o fraturamento hidráulico de reservatórios de gás de internet) deve-se utilizar os recursos de modo sustentável sob pena de chegarmos, inevitavelmente, a um cenário caótico em que a internet será um privilégio de poucos e onde grande parte da Humanidade terá de abandonar seus tablets e retornar aos arcaicos livros e jornais em celulose.

Bem amiches… fica aí a reflexão deveras pertinente quanto ao tema. Espero que o texto lhe tenha sido útil para embasar suas opiniões.

Este artigo fora redigido pelo Dr. Manhattón Gonzales in Pantalones que está integrado na divisão de pesquisas do Instituto Pato de Papete onde realiza estudos teóricos na área de Filosofia Alanmuriana e Economia Nonsense.