O Planeta dos Macacos
O livro, não o filme.
E o susto foi realmente grande quando descobri que o livro é de 1963, cinco anos antes do filme clássico com Chalrton Heston. Na trama, o jovem jornalista Ulysse Mérou aceita o convite de um cientista para fazer parte de uma missão espacial até outra galáxia a qual seria possível a existência de vida, um sistema iluminado pela gigante vermelha Betelgeuse. O que, na velocidade em que estão, para eles seria uma viajem de 2 anos, para o planeta Terra seria um período de aproximadamente 700 anos.
Sua chegada ao sistema se torna mais empolgante ainda com a descoberta do planeta batizado por eles de Soror, que possui atmosfera, água e vegetação semelhantes à terra. Mas não apenas isso, a superfície de Soror é habitada por humanos, ou seres muito semelhantes, que andam nus e possuem hábitos primitivos. A grande surpresa de Soror não são seus humanos, mas a verdadeira raça dominante: os macacos.
Ulysse é capturado durante uma caçada e levado para um centro de experiência, onde humanos são estudados e observados, além de serem alvos de lobotomias, dissecções e outras experiências que parecem desumanas, mas acontecem com frequência em nossos laboratórios,tendo macacos como cobaias.
E essa é a grande pegada do livro, a troca de papéis, quando um humano racional (diferente dos habitantes de Soror) está a par das experiências às quais é submetido e como o mesmo encara com naturalidade as mesmas experiências realizadas com outras cobaias em seu planeta. Claro que o livro é muito mais rico que isso, a crítica não é direcionada apenas à maneira com a qual tratamos cobaias, existe muita crítica social voltada para a elite intelectual que não consegue aceitar novas ideias, o papel da mulher na sociedade, o sistema educacional que induz os jovens a não pensar por si próprios e assim vai.
Mesmo sendo um fã do clássico de 1968, devo admitir que o filme fica abaixo da história do livro. Muitos elementos permaneceram na obra de Hollywood, e claro que não dá pra se abordar tantos assuntos variados assim em um filme, principalmente na época em que foi lançado, quando ficções científicas eram filmes de divertimento raso e pouca ou nenhuma mensagem. A principal mudança é o final, muito mais desesperador no livro.
Em relação à edição lançada recentemente no Brasil pela Aleph, o trabalho está de encher os olhos. Além da história, o livro conta com um curto prefácio, uma entrevista com o autor Pierre Boule após o estrondoso sucesso que foi o filme e o anúncio de uma sequência, na qual Pierre trabalhou em um roteiro inicial que não chegou a ser usado por Hollywood, um belo artigo da BBC sobre ficção científica e o livro em si e um posfácio. O acabamento do livro também é maravilhoso, com bordas arredondadas, carpa cartonada e papel de excelente qualidade. Eu ainda não acredito que paguei só 9,90 nesse livro em uma promoção da Submarino.
Em relação à Aleph, acho que ela merece um parágrafo à parte. Eu não conhecia a editora, acabei comprado este livro e adição simples de Laranja Mecânica, e mesmo não sendo a edição bonitona de capa dura, ela está maravilhosa. Outro livro lançado por eles que eu pude conferir de perto mas acabei não comprando é O Parque dos Dinossauros, de Michael Crichton e está realmente lindo. os caras estão fazendo um trabalho maravilhoso com as obras de ficção que o povo em geral não está familiarizado, e sinceramente espero que esse trabalho dê um bom retorno.
Em uma análise final, Planeta dos Macacos é uma obra incrível, do tipo que te leva a pensar mesmo depois da última página, algo difícil hoje em dia. Além disso a edição brasileira é algo que enfeita qualquer prateleira.