Philip K. Dick – Ubik
(Originalmente escrito em 02/06/2019, tem mais coisa enterrada por aqui)
Uma viagem pelo futuro do pretérito.
Não importa o tempo no qual vivamos, sempre existirá segredo, sempre existirá necessidade de privacidade ou necessidade de se sentir senhor de seu próprio destino. A evolução da espécie humana acabou gerando telepatas, empatas ou até mesmo precogs, mas também deu um jeito de equilibrar a balança gerando pessoas capazes de anularem cada uma dessas habilidades gerando campos inerciais. E como sempre, existe gente interessada em gerar lucro com os dois lados da balança.
Glen Runciter se especializou em gerar lucro no ramo antipsi, sua agência é uma das maiores do ramo, mesmo com a atual crise do mercado. Outras crises vieram antes, e sempre que precisou Runciiter pode contar com os conselhos de sua esposa Ella, morta há mais de trinta anos. Bem, quase isso, visto que com o advento da descoberta da meia vida, ainda é possível congelar a consciência das pessoas em um período de transição, e se usado com parcimônia esse contato pode durar por anos.
Também descobriram no processo a existência de reencarnação, mas isso é pra outro momento.
Mas parece que aparentemente as coisas estão pra melhorar, além de um cliente misterioso ofertando um contrato polpudo por um trabalho na Lua (ah é, nessa época ela já foi colonizada), o caça talentos da agência, Joe Chip, acabou por trazer uma moça capaz de algo inédito: alterar o passado e consequentemente o futuro. Isso talvez seja mais um talento que um anti talento, mas ainda assim é uma mina de ouro, e todos estão precisando de dinheiro, principalmente Chip.
Joe Chip é um capítulo à parte, um prodígio tanto para descobrir anti talentos em potencial quanto pra estar totalmente falido a maior parte da sua vida, simplesmente não consegue manter um mísero centavo no bolso por mas de um minuto, o que não é exatamente fácil, visto que para o perfeito funcionamento do sistema econômico absolutamente tudo, até a porta que você abre cobra pelo serviço.
Porém algo acaba dando errado no trabalho relativamente fácil. Algo o quê? Não sei, simplesmente algo, é como se depois da fuga e do atentado nada mais fosse real, tudo parece deslocado no tempo, às vezes pra frente, às vezes pra trás…
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238 páginas de total loucura, alterações temporais, confusão, desespero, mais confusão e uma narrativa que não te dá um minuto de sossego ou a mais leve pista do que esteja acontecendo até a sua conclusão. Depois de três livros do autor eu pensei já estar preparado para qualquer coisa, mas provavelmente nada te prepara para o que está nas páginas de Ubik. Esse livro foi difícil de se começar (duas tentativas infrutíferas até a leitura me pegar), depois foi difícil de entender, e agora semanas após a conclusão da leitura (escrevo do dia 5 de março) está se provando também se provando um desafio para analisar.
Mas, afinal, eu gostei de Ubik?
Mesmo sendo um parto de leitura, Ubik é um livro sensacional. Com todo o estilo do autor, esse livro tem o que é provavelmente o maior charme dos escritos de Philip K Dick, que não é te entregar nada de bandeja. Ei aqui um autor que não entregava nada mastigado, mas que você começava a compreender toda a trama (muito bem escrita) ao seu devido tempo. Apesar de ser uma das principais obras do autor, essa estranheza e confusão inicial talvez façam de Ubik (mesmo apontado como uma das principais obras do autor) uma leitura não muito recomendada para um marinheiro de primeira viagem, talvez Realidades Adaptadas ou Ovelhas Elétricas sejam uma pedida mais apropriada.
Agora é hora de chover no molhado e falar do trabalho da Aleph. Bom, bonito, competente, entregando um livro sólido, sem firulas, sem extras, apenas a obra, no mesmo padrão de outros do autor, com aquele tipo de capa que dá dor de cabeça. Enfim, é uma boa pedida para qualquer fã de ficção científica, mas se você tá começando a se aventurar por essas sendas agora eu sugeriria um pouco mais de chão antes desse aqui, mas faz o que tu queres.