Patrulha Estelar – Yamato – Star Blazers
Chame como quiser. É foda de toda forma.
Pessoalmente devo muito à Yamato. Foi o primeiro anime que vi (ou pelo menos já identifiquei como japonês na época) quando era novo. Foi também meu primeiro contato com a violência na TV e até mesmo com o conceito de morte. Se é possível traçar minha paixão pelo espaço e por naves espaciais, provavelmente Patrulha Estelar é o marco zero.
Nessa época antiga, passava junto com Pirata do Espaço (o filho esquecido de Go Nagai), na histórica Manchete, e era a razão do porque eu era um garoto magrelo, já que corria desabaladamente da escola pra casa, afim de chegar em tempo pra assistir.
Vamos a historia. E para facilitar, vou colocar entre parênteses os nomes da dublagem americana.
No futuro, o Imperio Gamilon, comandado por Deslock, busca expandir seu território e ataca a Terra. Para tanto, eles lançam uma intensa chuva de meteoros radioativos que vão aniquilando a superfície do planeta, obrigando os humanos a viverem no subterrâneo. Mas do distante planeta Iscandar vem uma transmissão, da misteriosa Starsha. Ela mostra um modelo de motor, o motor de ondas, que permitirá uma nave espacial humana chegar até Iscandar onde ela irá entregar uma maneira de limpar a superfície do planeta da radiação.
Os humanos então se empenham em chegar até lá. Felizmente (diante das circunstancias…), a destruição causada pelos meteoros mudou os oceanos, revelando os destroços, quase intactos, de um antigo navio de guerra, o encouraçado japonês Yamato (Argo, o navio de Jasão e os Argonautas), que foi afundado pelos americanos na Segunda Guerra. O Yamato era o maior navio de batalha já construído, superando até mesmo o Bismark (isso é controverso e o verdadeiro Yamato está muito destruido, de forma que não conseguiremos usa-lo para fazer uma nave foda), e seu casco foi utilizado para a construção da nave que iria até Iscandar.
Uma tripulação é escolhida. O veterano capitão Okita (Avatar), o alferes Susumu Kodai (Derek Wildstar), o engenheiro e oficial de ciências Sanada (Sandor), o oficial médico Sado que é assistido pela enfermeira Yuki (não lembro o nome dela, Lola no Brasil, acho,) e pelo robô Analyser (IQ 9) entre vários outros.
Como os gamilons não vão ficar apenas olhando, a nave é equipada com um armamento impressionante, baseado no verdadeiramente impressionante arsenal da Yamato original. Há também uma esquadrilha de caças Tigres Negros, de modo que a Yamato agora pode ser considerada um porta-aviões além de um encouraçado, como a Battlestar Galactica.
O que a Galactica não tem, e a Yamato foi a primeira a possuir, é o Canhão de Ondas. Tem poder de fogo o suficiente para estraçalhar um continente flutuante em Jupiter, onde testaram a arma.
Eles não tinham noção do poder que seria gerado. Esse tipo de arma se tornou um clássico na animação japonesa, desde o canhão da Macross e até mesmo canhões aniquiladores instalados em mechas.
A primeira temporada tem 26 episodios e aparentemente deveria ter mais, mas os custos de produção e a baixa audiência fizeram essa diminuição necessária. É relativamente perceptível que os últimos episódios foram acelerados em relação ao ritmo mais lento do começo da série. O tom do desenho também foi mudando, com as partes de comédia perdendo destaque e o drama se tornando mais presente. O esquema de muitos episódios é clássico da animação japonesa por muito tempo, toda a semana os vilões tentavam um esquema novo de destruir a Yamato, que falhava, mas a vitória as vezes era custosa à tripulação.
Yamato é de 1974 e certamente influenciou muita gente. Incluindo George Lucas que “homenageou” o anime em Star Wars, cena por cena. Ou você acha que a aparencia do R2D2 é coincidencia?
Recentemente fiz uma jogada arriscada. Após 20 anos, resolvi reassistir. Me preparei para rever algo que eu tinha vagas e felizes lembranças, considerando principalmente que, de modo algum havia assistido todos os episódios, ou mesmo em ordem. Queria rever sem os óculos da nostalgia.
E no geral, foi positivo. Muito bom eu diria. Claro, a animação é precária em vários momentos, mas considerando a idade (e o fato de ser para TV) não é ruim. A historia é a parte mais interessante, mesmo com o velho esquema de “trama diabólica da semana”. Bem, era novo na época. Mas o diretor Leiji Matumoto sabia conduzir a trama e manter interessante.
A trilha sonora, merece uma menção à parte, seguindo uma vibe bastante adequada de marcha militar. E a versão americana é ainda melhor que a japonesa.
A segunda temporada mostra o confronto contra a Federação Bolar, que assumiu o controle do espaço após a derrota dos gamilons e a terceira temporada é a batalha contra o Cometa Império.
A série teve vários longas, alguns recontavam a série e outros eram historias inéditas, incluindo o infame Saraba Yamato. Resumindo, a tripulação TODA morre e a nave é destruída. Mortes de membros da tripulação não eram assim tão raras na série, mas o balde foi chutado tão longe que gerou protestos. O bastante para outro filme sair alterando a historia deste e trazendo um final mais ou menos feliz.
Falando em filme, em 2013 houve o live-action. Definitivamente é um bom filme. Os efeitos estão acima do normal para o cinema japonês e foi feita uma interessante releitura de alguns personagens e fatos. Yuki se tornou uma piloto, Analyser é um tipo de assistente eletronico, como a Siri e os alienígenas deixaram de ser humanos azuis.
Leiji Matsumoto, normalmente é creditado como criador da série, e definitivamente impôs sua marca, se tornando o “rosto” da franquia, mas entrou na produção posteriormente. Ele talvez seja responsável pelos vários reboots e continuações, O que a briga dele com Yoshinobu Nishizaki, o outro “pai” , produtor da série pode ter ajudado. Vira e mexe um dos dois tentava assumir o controle da franquia até resolverem suas diferenças. Matsumoto costuma ser frequentemente acusado de ficar requentando a série, e embora não sejam acusações totalmente infundadas, a iniciativa é manter a franquia na mente das pessoas e apresenta-las as novas gerações. O de sempre. Outra acusação é de ser um fanático nacionalista, por isso escolheu usar um navio que era o símbolo do poder do Japão Imperial. Não dá pra negar que ele seja um fanático pelo período, mas sempre me pareceram acusações exageradas. Mas realmente ele é um nacionalista e parece ter saudade do Japão da Segunda Guerra.
O filme animado Capitão Harlock e a Nave Arcádia (saiu dublado no Brasil, anos atrás) é uma metáfora muito mal disfarçada do Japão na época da ocupação americana. No caso, a Terra foi ocupada por alienígenas e é governada por um governo corrupto e subserviente e é contra a apatia da população que Harlock se revolta.
Mas voltemos à Yamato.
Os personagens são interessantes o bastante para acompanharmos seus dramas, e embora não tenham tanto destaque como os de Macross, alguns foram muito influentes nos animes, como o Capitão Okita/Avatar, que se tornou o protótipo do capitão e o engenheiro Sanada, que inventava as traquitanas e vinha com o blá blá blá cientifico para salvar o dia.
Em Patrulha Estelar o personagem principal era a própria Yamato. Minha primeira paixão em forma de nave. Eu buscava customizar qualquer navio de brinquedo que tivesse, e eu estava sempre procurando algum, para se tornar a Yamato, com resultados variados, mas e, alguns casos bons o bastante para me tornar o rei do playground. Afinal, como os outros garotos, com suas patéticas x-wings poderiam competir com meu navio espacial, dentro do qual eu coloquei vários outros aviões menores (os meus Tigres Negros) e tinha um canhão capaz de atingir até o estacionamento? Perdi muitos amiguinhos. Mas a vitória tinha um sabor doce.