O dia em que resolvi escrever sobre Cowboy Bebop
Faz tanto tempo que eu deveria ter escrito sobre, que eu nem sei mais o que vou falar direito.
Cowboy Bebop é um anime de 1998, mas que eu só vi em 2014. E nem me sinto um bosta por causa disso, já que ele é extremamente atemporal, pode ser visto em qualquer época (jura?). Na realidade, ele DEVE ser visto em todas as épocas, isso pois é um desenho magistral, lotado de referências, reflexões filosóficas/existencialistas e, é claro, executado com perfeição técnica.
Bom, começando do começo, CB é um anime fechado que contém 26 episódios, uma adaptação em 2 mangás e um filme. Sim, ele saiu primeiro em anime para depois ser adaptado pra mangá. Eu não tenho certeza se a história é a mesma, se é algum tipo de spin-off, ou se eles passam detalhes extras, já que eu não li. O mesmo vale pro filme, que eu também não vi, mas sei que provê informações úteis para a história… se não me engano é bom assistir todos os episódios antes de vê-lo.
No universo de CB (que atualmente encontra-se por volta do ano 2070), vemos que a humanidade colonizou uma grande parte do sistema solar, isso devido a dois acontecimentos: a criação e aperfeiçoamento de enormes portais, que podiam transportar recursos (como se fosse um jumpgate, não sei exatamente o termo em português, mas é uma espécie de portal que permite cobrir distâncias intergaláticas monstruosas em um curtíssimo espaço de tempo, se você jogou Mass Effect, vai se lembrar do Mass Relay…. que, inclusive, apresenta o mesmo tipo de conceito, já que foi o responsável pelo grande avanço da humanidade daquele universo também) e um incidente ocorrido na Terra (não lembro o ano ao certo), tornando-a praticamente inabitável. Com isso os humanos passaram a explorar o espaço de uma forma mais ampla e, assim, estabelecendo-se em outros planetas. Com isso, diversas coisas precisaram ser adaptadas, criadas ou esquecidas… e não poderia ser diferente com a criminalidade, que foi adaptada à nova situação, juntamente com as forças policiais, o sistema de altas recompensas e, para aplicá-las, a criação de uma categoria oficial de caçadores de recompensas, os cowboys.
E é nesse meio social que está incluso o protagonista Spike Spiegel . Detalhe que Spike é um dos melhores protagonistas que já vi em qualquer mídia…. na realidade, CB possui os melhores personagens que já vi em qualquer mídia, mas isso fica pra depois. Spike é um caçador de recompensa que atua junto com Jet Black, um ex-policial que pretende fazer a diferença como freelancer. Ambos possuem personalidades bem contrastantes, que eu evitarei falar, já que não deixa o mesmo tipo de experiência pro desenho, lembrando que os personagens não são apresentados pra gente, nós vamos descobrindo-os com o passar do tempo. O ponto é que eles vivem com pouco dinheiro e precisam se virar pra tentar sobreviver naquela realidade.
Junto com os dois, outros personagens também se juntam pra equipe: Faye Valentine (mercenária, a melhor jogadora de poker daquele universo e com uma história extremamente triste), Ed (uma menina que parece menino, ruiva e a maior hacker da Terra) e Ein (um cão da raça Corgi, que tem seu nome inspirado em Albert Einstein). As situações que os colocam junto dos protagonistas principais são bem inusitadas e garantem um tipo de convivência única com cada um. Essas relações pessoais são muito bem trabalhadas, especialmente na triste reta final do anime.
Conforme falei ali no começo, Cowboy Bebop apresenta diversos tipos de referências à cultura pop, especialmente americana. Ao meu ver, essa “americanização” tornou o anime muito mais épico do que ele seria se fosse “puramente” japonês, o que também explica o motivo dele ter feito TANTO sucesso mundo afora, especialmente nos EUA. Enfim, o cenário musical é uma das coisas mais exploradas no desenho, começando pela palavra Bebop, que é um estilo bem característico do jazz, que consiste em trabalhar com tempos mais rápidos e abusar de muita improvisação, basicamente a base do chamado “jazz moderno”. Continuando no título, acho que nem preciso mencionar a palavra Cowboy, né?! O fato é que o título casa muito bem com a proposta dos cowboys desse universo (em especial Spike e companhia), que precisam improvisar de diversas maneiras pra conseguir cumprir seu objetivo.
Além disso, os episódios não chamam episódios, mas sim sessões e, tal qual as sessões de jazz ou blues, tratam de temas distintos, possuem começo/meio/fim, com um ritmo e progressão completamente diferentes e independentes, embora seja altamente recomendado que seja visto na sequência proposta, tal qual os próprios estilos musicais. Quer mais um elemento que ajuda a comprovar isso? Todos os episódios possuem alguns momentos calmos e serenos , quase parados, simulando os tradicionais breakdowns realizados no estilo. E ainda falando dos episódios, todos os nomes possuem referência musicais, sejam referências claras a estilos musicais, nomes de músicas ou referências mais obscuras.
E ainda aproveitando o que falei lá no começo, as discussões filosóficas e existencialistas estão presentes o tempo todo….. e são uma parte importante pra entender todo o caminho realizado pelas personagens. Se eu pudesse escolher duas palavras pra representar o anime, de certo usaria solidão e redenção. O motivo da primeira é mais do claro, tanto pela temática de ficção científica, quanto pelo fator cowboy da coisa. A redenção refere-se ao quesito de tornar-se livre da forma mais plena possível (no quesito paz de espírito…. ou o mais próximo disso, como vocês vão entender ao assistir), mas que certamente necessita de sacrifícios, o que também já demonstra que temas como a religião estão presentes, sem contar homossexualismo, transexualismo, drogas, criminalidade, amizade pura, relacionamentos à base de interesses, traição, entre diversos outros. Acho que deu pra perceber um foco totalmente adulto aí, né?!
A sonoridade de CB é magnífica. A sonoplastia é ótima e a TRILHA SONORA (clique para ir ao post) não pode ser descrita em palavras. Falar que é simplesmente incrível não me parece uma forma muito justa de descrevê-la. O jeito é assistir (e re-assistir incontáveis vezes) os episódios e prestar atenção em cada som utilizado, cada detalhe. Entender o motivo daquela música em específico ter começado naquele momento em específico. Lembrando que nada é aleatório, TUDO tem explicação, mesmo que seja uma interpretação altamente pessoal… o que é importante, já que o íntimo é um conceito crucial pro desenho.Talvez esse seja o meu Cowboy Bebop: o fato de que sempre que assistir, vou perceber coisas novas e juntar com a interpretação que eu já tenho daquele universo.
Nessa altura do campeonato eu ainda não descobri o motivo de fazer esse post. Tomei o maior cuidado do mundo pra não estragar a experiência de ninguém, citei algumas coisas que tornam o desenho único, esqueci de mencionar que Spike luta Jeet Kune Do (o mesmo estilo do mestre Bruce Lee, com direito ao mesmo estilo de referências aquáticas ao falar sobre a luta :’D) e que a quinta sessão, “Ballad of Fallen Angels” (ou Balada dos Anjos Caídos), tem o nome inspirado em uma música (ruim) do Poison, Fallen Angel, e é a melhor coisa que já assisti. É o tipo de episódio que pode ser assistido de forma isolada, mas possui conceitos INCRÍVEIS sobre a personalidade de diversos personagens daquele universo.
https://www.youtube.com/watch?v=eiPj113eka0
Talvez se eu reler o post, devo entender essa razão, mas isso não é algo que eu pretendo fazer tão cedo, embora tenha uma leve desconfiança do que seja.
E não importa o que eu fale pra tentar acabar esse texto, só existe uma forma de fazer isso com coerência e respeitando o trabalho de Watanabe e cia:
TE VEJO POR AÍ, COWBOY DO ESPAÇO!
Obrigado Rapha por ter insistido para que eu assistisse o anime…. obrigado mesmo, :’)