Mulher Maravilha: Terra Um
Eu gostando de uma história do Morrison, tá certo isso?
Sim, está certo. Na verdade a minha birrinha com ele vem diminuindo consideravelmente, graças a títulos como Patrulha do Destino, Terra 2, Homem Animal e, mais recentemente, Mulher Maravilha: Terra Um. (Allstar Superman não entra na lista pois é covardia com as outras). O meu ânimo com Terra Um desapareceu após perder a oportunidade de adquirir o primeiro volume do Superman, mas acabei sendo levado a conferir esse volume mais recente graças à influência de um amigo (que inclusive já devia estar escrevendo posts aqui faz um tempo!).
A história se inicia a antiguidade, com Hipólita sendo subjugada pelo semideus Hércules. Tanto a rainha das amazonas quanto suas súditas são prisioneiras, cujo destino reside em serem usadas pelos guerreiros de Hércules, porém graças à intercessão de Atena, Hipólita mata seu captor e liberta as mulheres, que em fúria acabam por massacrar os homens. Ao fim da batalha, a rainha roga para sua deusa protetora para elas sejam guiadas a um local onde sua sociedade possa florescer isolada da barbárie dos homens.
Três mil anos no futuro, a Ilha Paraíso é um local que faz jus ao seu nome. Diferente da visão de comunidade arcaica que estamos acostumados a ver nas hqs, a tecnologia do lugar floresceu ao seu modo, ultrapassando em muitos pontos o que existe no mundo além das praias daquele lugar. Hipólita é a eterna governante, e sua filha Diana é a única criança nascida na ilha, segundo a lenda, após Hipólita ter criado uma figura de criança com argila e rogado para que a deusa Atena lhe conferisse vida.
Diana representa o ápice daquela sociedade, uma guerreira mais forte e mais rápida que qualquer uma, além de dotada de uma inteligência acima do comum. Diana também possui uma curiosidade quase que incontrolável para com o mundo dos homens, e um dia, ao encontrar o moribundo Steve Trevor em uma das praias, a guerreira toma uma decisão que não vai mudar apenas a sua vida, mas a do mundo todo.
Apesar das boas histórias que tenho lido do escritor escocês, eu sempre encaro uma nova empreitada sua com uma boa dose de desconfiança,principalmente devido ao seu costume de viajar muitas vezes para distâncias além do recomendável para uma história comercial dar certo. Porém aqui temos uma bom exemplo de uma história mais pé no chão (na medida do possível), cuja condução acaba sendo bem leve apesar de mexer em pontos delicados para alguns fãs.
A abordagem tecnológica da Ilha Paraíso é realmente bem vinda, já que faz todo sentido que uma sociedade de três mil anos não ficar estagnada. Talvez ó ponto mais delicado tocado nessa história seja quanto a sexualidade de Diana, que aqui possui um relacionamento amoroso com uma das guerreiras de Hipólita. Como conversado no chat privado do site, era de se esperar que uma mulher com trezentos anos de idade que durante toda a sua vida foi cercada exclusivamente por mulheres se relacionasse com as mesmas. É até um pouco imbecil imaginar que ela permaneceria “pura e casta” até encontrar o “amor de um homem”.
Outro ponto a ser ressaltado é a arte de Yanick Paquette. Em uma personagem desenhada por nomes como George Pérez e Terry Dodson, não é exatamente fácil deixar o seu nome na história, mas na minha opinião Paquette será lembrado no futuro como um dos principais nomes a desenhar a maior personagem feminina da DC Comics. As cores de Nathan Fairbairn também são um show a parte.
Para os fãs da Amazona, os últimos meses tem sido generosos com a publicação de encadernados, visto que além desse tivemos também dois volumes da elogiada fase escrita por Azzarello nos Novos 52 (cuja resenha do segundo encadernado deve sair assim que a preguiça permitir) e o arco O Círculo e Paraíso Perdido, ambas saídas pela Coleção Eaglemoss (essa segunda ainda se encontra embalada aqui na estante, shame on me). Quem se interessa na aquisição, o preço de capa é 28 reais (justo), mas na Amazon ela está custando 18 (mais justo ainda), não digo que é leitura obrigatória, mas é uma história muito boa.