Matadouro Cinco

É assim mesmo.

“Escuta só: Billy Pillgrim ficou solto no tempo.”

E assim se inicia a história de um homem azarado e afortunado. Veja bem, ficar solto no tempo não significa que você seja capaz de viajar no tempo. Tá, na verdade você consegue, mas não é algo que você seja capaz de controlar, além de que Billy só viajava no tempo em que esteve vivo, ele viajava para momentos, o que sejamos francos pode ser um porre dependendo da vida de quem estamos falando.

No caso de Billye era um porre.

Veja bem, o problema não era exatamente a vida de Billy que era um problema, o problema era Billy. Um homem azarado, pra dizer o mínimo, além de uma tanto lerdo, um tanto passivo, um tanto bobão, uma tanto Billy Pillgrim. Uma hora um optometrista com a vida ganha no pós guerra, uma horacomo prisioneiro de guerra e testemunha do bombardeio à cidade de Dresden, que terraplanou uma das mais belas cidades da europa, uma hora como atração de zoológico no planeta dos trafamaldorianos, seres inteligentes em formato de mãos verdes com um olho na palma que conseguem enxergar em 4D, vendo o tempo em sua totalidade.

Não dá pra dizer que não foi uma vida emocionante.

Exceto que o dono dessa vida era Billy Pilgrim

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Há um bom tempo atrás, quando li Cama de Gato (inclusive já resenhada aqui), Matadouro Cinco entrou na minha mira como um livro pra se ler e ter assim que possível, visto que era (justamente) vendido como a obra máxima do autor. Estou eu então aguardando ansiosamente a Aleph lançar tal volume quando a Intrínseca anuncia o relançamento do título (até então só encontrado em sebos no formato pocket, lançado pela LP&M). Não me incomoda nem um pouco, até porque a Aleph continuou o cronograma lançando Sereias de Titã (adquirido e ainda não lido).

Assim como em Cama, Matadouro Cinco se encaixaria perfeitamente numa tela de cinema sendo dirigido por Mel Brooks. Além de ser cronologicamente desconjuntada, a narrativa é tão  cheia de absurdos e humor nonsense que por vezes seguidas você se pega rindo e refletindo em relação a mensagem passada. Mesmo com o bom humor, alienígenas e viagem no tempo, esse livro continua sendo um livro sobre guerra. Assim como Billy Pilgrim, Kurt Vonnegut também foi prisioneiro dos alemães na Segunda Guerra, também presenciou o bombardeio de Dresden e foi obrigado a trabalhar resgatando os corpos entre os escombros.

Sobre o bombardeio em Dresden, esse é um dos pontos sensíveis da segunda Guerra. A cidade em questão era uma zona não militarizada, utilizada apenas como um ponto seguro para refugiados nas zonas próximas. Não havia nenhum motivo estratégico para  bombardear Dresden, conhecida como um polo turístico e por atrair artistas de toda Europa. Em uma noite ela foi arrasada.

Quanto ao livro, meus mais sinceros parabéns à Intrínseca pelo trabalho de arte. Ter esse livro em mãos é um verdadeiro desconforto, como se algo tivesse errado, anacrônico. A arte da capa lembra a estética de filmes de monstros e alienígenas da década de 50, e isso acaba sendo fantástico. Leitura recomendada, compra recomendada e os meus mais sinceros agradecimentos à Karina, minha companheira de podcast e amiga, que me surpreendeu com esse presente de aniversário.

Godoka
20/08/2019