Marvel Teens: Miss Marvel.
Descobrindo que um maiô não é um uniforme muito funcional pra uma heroína…
Tá rolando Black Friday na Amazon? Tá! Mas nem tudo que você quer tá num preço bacana, né? Mas quer arriscar 40 mangos em duas revistinhas e na dica de um sertanejo morrendo de calor e comprando gibi parcelado em 3 vezes porque é um fodido? Então se liga nessa.
Quando Miles Morales foi lançado pela Marvel no universo Ultimate, foi, sem sombra de duvida, uma jogada ousada. Criar um novo personagem pra substituir um antigo e, sobretudo, um dos mais famosos da cultura pop INTERGALÁCTICA como o Homem-Aranha, foi um movimento arriscado do escrito Brian Michael Bendis…mas ele conseguiu! O novo aranha tinha um novo set de problemas, não apenas com os inimigos ou com a adolescência, mas também com o fato de ser um negro descendente de latinos em um país onde essa combinação pode gerar muitos problemas advindos do preconceito e da ignorância. Sucesso estabelecido com direito a filme no cinema e tudo o mais, era de se pensar que dificilmente a Marvel acertaria outra dessas. Mas, sim, acertou!
Assim como Miles Morales, Kamala Khan é de uma minoria que é olhada torta nos EUA, sobretudo após o 11 de setembro, e acaba adotando o nome e a identidade de uma super-heroína já estabelecida e muito maior que ela. Certo que a Miss Marvel, agora Capitã Marvel, não goza do mesmo status de um Homem-Aranha na cultura pop INTERGALÁTICA, mas, ainda assim, a intenção da Marvel era essencialmente a mesma que a com o Miles. E a roteirista G. Willow Wilson foi por um caminho mais “leve” que as histórias cheias de texto e reflexões do Bendis, mas acertou do mesmíssimo jeito.
A história começa quando a jovem Kamala Khan de 16 anos , filha de país paquistaneses rigorosíssimos que a proíbem de ir a uma festa, acaba indo a tal festa escondida. Após perceber que a festa não era tudo aquilo que imaginava, Kamala resolve voltar pra casa, mas é surpreendida por uma estranha névoa esverdeada que a faz desmaiar. Quando acorda, percebe que está dentro de um casulo e quando saí, percebe que se transformou na Miss Marvel, aquela dos tempos do maiô preto com a faixa vermelha na cintura. Acontece que Kamala é SUPER-ULTRA-MEGA-FÃ da heroína e desejava ser igual a ela, não apenas pelos superpoderes e o uniforme (que ela descobre não ser tão legal assim quando percebe que ele entra o tempo todo em lugares que não deveria), mas porque se ela fosse loira e, segundo ela mesma, perfeita, tudo seria melhor em sua vida.
Kamala acaba descobrindo que não se transformou mesmo na Miss Marvel, mas que agora tem estranhos poderes que a permitem mudar de forma, de tamanho, esticar e aumentar partes do corpo além de um fator de cura. E com esses poderes, Kamala decide que precisa fazer algo. E por “fazer algo” , leia-se “virar uma super-heroína”. Mas com grandes poderes, vem grandes tretas. E a menina vai se deparar com um cientista calopsita do mal (sim, você não leu errado), um certo deus nórdico da trapaça, um certo baixinho canadense, um certo povo que ganhou poderes graças a uma névoa também, e com o primeiro amor.
Como eu já disse, a pegada é mais leve que as histórias do Miles Morales (até porque elas já começam com a morte do Homem-Aranha), mas isso não quer dizer que elas sejam desprovidas de conteúdo. Muito pelo contrário! Apesar de muitos momentos de bom humor, G Willow Wilson consegue trazer a baila assuntos como a desvalorização dos jovens pelas gerações anteriores e relacionamento abusivo entre tantos outros nada leves, porém com muito tato pra não pesar tanto, pois ainda é uma heroína adolescente focada no publico adolescente.
Mas os momentos que pegam mesmo pelo pé são os emocionais, aqueles que envolvem os relacionamentos de Kamala com sua família, amigos e as descobertas de uma menina de 16 anos que descobre que nem com todos os poderes do mundo dá pra abraçar o mundo inteiro. G. Willow Wilson é a roteirista e co-criadora da personagem junto a editora Sana Amanat e ao editor Stephen Wacker, mas certamente foram as trocas de ideia entre Willow e Amanat que fizeram da personagem o que ela é, já que Willow se converteu ao Islamismo enquanto cursava a faculdade e Amanat…bem…ela É a Kamala Kahn!
Assim como a personagem, Amanat nasceu nos EUA mas sua fam´ilia veio do Paquistão e passaram a viver em New Jersey,assim como Kamala. E, assim como Kamala, na juventude ela lutava contra sua identidade, o que é mostrado mais visualmente na HQ quando ela toma a forma da Miss Marvel original de forma inconsciente. E, assim como Amanat, Kamala não apenas aceita suas raízes como a abraça com orgulho.
Os momentos de Kamala com o seus pais, rigorosos com a menina por…bem…ser uma menina na adolescência e estar rodeada de meninos, que são “instrumentos de Shaytan” (satã) nessa idade por trazerem pensamentos impuros, são engraçados ao mesmo tempo que são um retrato ridiculamente realista do extremo ao que algumas religiões podem levar. Porém, a superproteção e a rigidez escondem um sentimento de amor tão profundo que gera alguns momentos ternos que, confesso, me deixaram com os olhos marejados.
Os dois encadernados, que juntos totalizam 488 páginas de quadrinho, cobrem todos os 19 números da primeira série da personagem além de trazer histórias com participações dela em outros títulos. Porém, é importante dizer que os últimos números dessa primeira série estavam correndo em paralelo com Guerras Secretas, evento em que o universo 616 colidiu com o universo Ultimate. O detalhe é que como a Miss Marvel é uma heroína mais “local”, ficando sempre em New Jersey e sempre focada em problemas “menores”, ela não faz ideia do que está havendo e as 4 ultimas edições da sua primeira série e que estão no segundo volume desses encadernados, chamam-se “Últimos Dias” e meio que deixam a menina perdida em uma espécie de apocalipse real. A coisa só piora quando ela encontra a Capitã Marvel que diz a ela que talvez dessa vez não haja salvação pro mundo. Essa história em 4 partes tem alguns dos momentos mais tristes de toda a série e termina de um jeito meio “caraio, véio…fudeu mermo, ó…” mas a gente sabe que não foi bem assim, já que a personagem tá aí até hoje. Mesmo assim, o clima de melancolia fica…
Sobre os desenhistas, temos 3 na revista própria da heroína além de Humberto Ramos em uma one shoot da S.H.I.E.L.D com a participação da personagem e Giuseppe Camuncoli em uma aventura em duas partes da heroína na revista do Homem-Aranha. Mas o título de desenhista principal da personagem vai mesmo pra Adrian Alphona, que desenha a maioria das edições e tem um traço leve, meio cartunesco e que ADORA enfiar piadotas nos cenários e figurantes. A arte de Alphona é a minha favorita na resvista!
O segundo desenhista do título é Takeshi Miyazawa, que tem um traço que dá aquela puxadinha pro mangá, mas sem exageros e consegue manter o nível da publicação em alta. Além de desenhar a Kamala muito bonitinha.
O terceiro é Jacob Wyatt, que desenha a história em duas partes que é o crossover com o Wolverine da época sem fator de cura. Ele ´e bom, e tem uma página com os dois personagens subindo uns tuneis no esgoto que é sensacional.
Ah, ia esquecendo que existe um quarto desenhista, o Elmo Bondoc. Mas ele só desenha uma edição, que á a do encontro com o Loki. Ele é…ok.
Bem, deixo aqui a dica! Caso você tenha se interessado, não precisa correr pra ver promoção de Black Friday porque as edições sempre estão baratas na Amazon. Atualmente cada uma sai por 23 reais e uns centavinhos, um preço que vale muito a pena pra uma série tão divertida.
NOTA: 9,0
PS: Caso esteja interessado em saber mais sobre outros títulos da linha Marvel Teens, já resenhei 3 deles e você pode ler as resenhas clicando AQUI.
PS 2: Espero que a série da personagem que está pra sair pela Disney+ consiga captar todo o clima bacana da HQ.
PS 3: Achei bacana a escolha da atriz pra série, mas eu não consigo olhar pra protagonista da série ” Have Never I Ever” da Netflix sem enxergar a Kamala Khan perfeita pra uma versão live action.