Marvel Teens: Gwen Aranha.
A história de origem sem a história de origem.
Gwen Stacy era uma adolescente comum até o dia em que foi picada por uma aranha radioativa que lhe conferiu incríveis poderes aracnídeos. Enquanto Gwen se torna a heroína Mulher-Aranha em segredo, publicamente precisa sempre sair em defesa de seu melhor amigo, o timido e extrovertido Peter Parker, o qual simplesmente idolatra a Mulher-Aranha e sonha em ser tão grande quanto ela é. Para isso, acaba utilizando um soro criado pelo professor Curt Connors produzido a partir de células de répteis, afim de ganhar poderes e defender a si mesmo. Porém as coisas saem do controle e Peter acaba se tornando a criatura conhecida como o Lagarto. Sem saber que Peter se tornou o calangão do mal, a Mulher-Aranha o enfrenta diversas vezes e em seu ultimo confronto, o réptil gigante acaba morrendo nos braços de Gwen e voltando a sua forma humana. A Mulher-Aranha acaba sendo acusada pelo assassinato de Peter Parker, já que ninguém sabia que ele era o Lagarto e Gwen precisará carregar o peso da culpa, do poder e da responsabilidade.
“Poxa, Hellbolha….tu contou a história da HQ inteira! E com spoilers importantes, inclusive!” muitos de vocês podem estar protestando nesse momento. Mas eu digo para terem calma, pois esse é o primeiro problema desse encadernado da linha Marvel Teens dedicado a Mulher-Aranha, ou a Gwen-Aranha como ficou mais conhecida: Essa história de origem NÃO ESTÁ NESSA EDIÇÃO! E, aparentemente, em NENHUMA OUTRA!
A personagem debutou na mega-saga Aranhaverso, que deu origem ao filme que todos amamos mas não tem praticamente NADA a ver com ele. E lá, a história de origem da personagem é contada em DUAS PÁGINAS e já somos jogados no bonde andando. Depois ela ganhou uma mini-série e uma mensal com histórias solo…e nada de origem DE NOVO! As histórias se passavam após a saga Aranhaverso e essas são justamente as histórias que estão nesse encadernado. E pra falar das aventuras da Gwen eu vou precisar dar uma comparada com Marvel Teens- Miles Morales: Homem Aranha, da qual já falei AQUI.
Se você leu o post deve lembrar que eu falei que as 10 edições compiladas no encadernado estrelado por Miles Morales não tinham um grande vilão principal. Tínhamos uma rápida aparição do Electro e o Escorpião ensaiando pra ser o grande vilão do próximo encadernado (se é que vai sair). Em Marvel Teens: Gwen Aranha, também não temos um grande vilão…mas temos MUITOS vilões, o problema é que nenhum deles é bem desenvolvido bem como nenhum arco engata. O que temos são um amontoado de arcos que começam…e morrem pra pular prematuramente pra outro.
Apesar de a HQ conter a segunda edição de Edge of Spider-Verse de 2014, a mini-série em 5 edições de 2015 e o primeiro arco nas 6 primeiras edições da mensal de 2016, todas elas são sequencias diretas, o que seria ótimo não fosse o probleminha dessa sequencia evidenciar ainda mais a questão dos plots largados no meio. Um exemplo disso está no núcleo que envolve a Gwen enquanto adolescente comum. Ela faz parte de uma banda chamada As Mary Janes lideradas por…bem…Mary Jane Watson, claro, e sua vida de super-heroína sempre acaba causando problemas com a banda que está começando a ganhar fama graças a internet. Só que isso é explorado por uns 2 ou 3 capítulos e é deixado pra lá.
O primeiro grande vilão a aparecer é Aleksei Sytsevich, que só depois de MUITO TEMPO é que fui identificar como sendo o Rhino, já que nesse universo ele não é chamado assim, não usa roupa de rinoceronte e lembra mais o Lápide do universo 616. Ele briga com a Mulher-Aranha, é derrotado, preso…e some! Aí entra o Abutre e você pensa “AGORA SIM! ESSE VAI SER O GRANDE VILÃO DESSE ARCO!” mas ele luta com a Mulher-Aranha, é derrotado, vai preso…e some também! Ambos foram enviados pelo Rei do Crime que está preso e comanda tudo da cadeira através de seu advogado, Matt Murdock, que é ruim nesse universo. Aí você pensa “Ah, cacilda! O Rei do Crime vai ser o grande vilão!” só que ele mal aparece na história, ficando a cargo de Matt Murdock o seu papel. E então você pensa “Ah, então o Matt Murdock é que vai ser o grande vilão!” só que…não! Ele não enfrenta a Mulher-Aranha e apesar de aparecer até que um bocadinho na trama e trazer um conflito interessante em um certo momento, ele não chega a antagonizar diretamente a heroína. No bolo ainda entram a Gata Negra, que é uma que entra e some da trama de uma maneira mais brusca que os demais sendo mais uma rival pro Matt do que pra Gwen, temos a volta do Lagarto e você chega até a pensar que Peter Parker vai voltar, mas a coisa se resolve MUITO rapidamente e não tem nada a ver com Peter voltando a vida, e finalmente temos a chegada de Harry Osborn como o Duende Verde…que também não rende grandes coisas. Pelo menos o fim da luta dele com a Mulher-Aranha foge um bocadinho do clichê que se espera.
Sim, a história é inflada de vilões PRA NADA, lembrando muito a baguça no infame Homem-Aranha 3 e em O Espetacular Homem-Aranha 2 com esse lance do Duende Verde que só aparece aos 45 do segundo tempo! Isso sem falar nas aparições de outros personagens Marvel em roupagens completamente diferentes, como Ben Grimm, que aqui é só um policial de rua comum, Frank Castle, que nunca se tornou o Justiceiro pois sua família nunca foi assassinada e ele se tornou o capitão da policia de Nova Iorque (mas continua mal encarado e casca grossa e chega até a usar a caveira no peito em um momento), a Capitã América Samantha Wilson, que é a versão feminina do Sam Wilson do universo 616, entre outros. E apesar desse mundaréu de gente, a trama roda mesmo é em torno do que não vimos em lugar nenhum, que é a morte de Peter Parker. Sério, parece que o roteirista Jason Latour tinha muitas ideias e pouco espaço e decidiu amontoar todas e não deixar nenhuma rolar realmente. Com isso, a trama acaba sendo um ponto frustrante.
Em contraponto, se tem algo que não é frustrante DE JEITO NENHUM, é a arte dde Robbi Rodriguez. O sujeito manda absurdamente bem! Seu traço é estiloso, dinâmico e o sujeito ainda brinca com o uso das onomatopeias. Aliás, foi o traço de Robbi quem me convenceu de vez a ir atrás desse encadernado. A cores de Rico Renzi também merecem destaque, casando perfeitamente com a arte. Na penúltima edição do encadernado, Robbi Rodriguez é substituido por Chris Visions, que tem um traço cartunesco e meio grosseiro demais pro meu gosto. Ainda bem que foi só por uma edição.
As edições da Marvel Teens, como eu já havia falado no post da edição do Miles, tem tamanho 15 x 22, bem menor que um formato americano e pouco maior que um formatinho. A diferença é que essa edição da Gwen-Aranha vem com 276 páginas contra as 236 da edição do Miles. O formato continua não me incomodando, o preço de R$ 34,90 sim! Vamos dar um jeito nisso aí, dona Panini.
E por falar em cagadas da Panini, minha edição em especial veio com um problema um tanto absurdo. Algumas páginas estão amassadas e eu acabei descobrindo mais adiante o motivo. Acontece que durante a impressão da revista quatro páginas sairam com o corte da borda errado. E ao invés de cortar direito, alguém teve a brilhante ideia de DOBRÁ-LAS E POR PRA DENTRO DA REVISTA! O resultado foi essa “beleza” que vocês conferem nas fotos abaixo. Se não tiver cagada, não foi da Panini…
Enfim, Gwen-Aranha é um encadernado que promete apresentar uma origem mas não o faz diretamente, já que essa origem nunca foi de fato produzida pela Marvel. Ao invés disso temos uma história cheia de plots que acabam sendo abandonados e o foco em um drama que se estende demais. Não é horrível mas também não é indispensável.