Você come a coxinha por que lado?

O desenho começa com praticamente esta pergunta. Ou quase.

Duas estudantes de ensino médio, a miúda Konata e sua amiga de óculos, Miyuki, estão almoçando na classe. Konata está comendo um doce, um cone com recheio de doce de leite, e a cada mordida, uma parte do recheio fica prestes a cair, um problema comum. Isso gera uma  pergunta. Por qual ponta ela começa a comer o doce?

Elas vão apresentando suas formas de comer e teorias sobre o formato do doce. Depois chega outra amiga, Tsukasa, e elas continuam indo e voltando à esse assunto.

Isso é essencialmente Lucky Star. Já foi definido na época como o “Seinfeld japonês”. É, da mesma forma, um show sobre nada.

A comédia está nas interações entre elas e em suas atitudes perante algumas coisas simples, como quando Tsukasa ouve a palavra “vinagre balsâmico” na TV, e fica repetindo ocasionalmente, só pela sonoridade.

Não há uma historia acompanhando, é um slice of life no sentido mais básico, seguindo as personagens nos três anos do ensino médio e acompanhando essa parte de suas vidas.

Konata parece a mais jovem entre elas, mas é apenas muito pequena. É uma viciada em games e animes, e embora tenha boa forma física, não tem interesse em competir pois os horários atrapalhariam suas maratonas de animes. Apesar de praticamente não estudar, tem notas razoáveis, devido a sua capacidade de decorar tudo na noite anterior à prova. Ela se orgulha disso e de ser capaz de recitar de cabeça o nome de todos os pokemons. Ela se orgulha também de seus peitos minúsculos, dizendo que isso a torna mais rara e valiosa. Tem a tendência a ser sarcástica e é a mais provável de falar algo absurdo.

Tsukasa foi a primeira com a qual Konata fez amizade. É ingênua e distraída, facilmente perdendo o fio da conversa ou se colocando em alguma situação difícil. Os problemas que ela tem para manter o celular são exemplos disso. Ela também é mostrada como sendo muito boa de cama. É capaz de dormir um dia inteiro sem esforço.

Kagami é a irmã gêmea de Tsukasa. Embora seja mais velha apenas por alguns minutos, age de modo bem mais maduro e é muito mais responsável. Normalmente. Por ter uma personalidade irritável, é o alvo mais frequente das provocações de Konata, e realmente aproveita cada chance que tem de revidar a zoeira. Ela tem um papel de ser a voz da razão entre elas, na maioria do tempo.

A verdadeira voz da razão é a calma e inteligente Miyuki. As outras normalmente se voltam para ela em qualquer duvida que surja. Ela realmente se aplica aos estudos e embora perceba as bobeiras de Konata e Tsukasa da mesma forma que Kagami, está mais disposta a esclarece-las do que critica-las.  Apesar de ter uma aura, e forma física, muito mais madura que as outras, tem uma certa dose de inseguranças.

O mais interessante é que a maioria dos personagens secundários tem um bom destaque e são interessantes o bastante para possuírem segmentos próprios, como o pai da Konata ou as amigas da prima da Konata, Yutaka. No final de cada episodio a quarta parede é massacrada com um segmento chamado Lucky Channel. Uma ex atriz infantil em decadencia (apesar de ainda ser jovem) Akira Kogami apresenta o segmento junto com o novato Minoru Shiraishi. A ideia é que eles falem sobre o show. O que acontece não é nada disso. Akira rapidamente abandona sua fachada simpática e alegre e se revela uma veterana cinica da TV. Ela frequentemente humilha e destrata Shiraishi, que é um personagem secundário no anime principal e foi modelado como uma imagem do dublador do personagem, o ator Minoru Shiraishi.

O estúdio é conhecido pelas suas ótimas trilhas sonoras, mesmo a trilha incidental, extremamente grudentas e Lucky Star compartilha uma dancinha na abertura com outra produção do estúdio, o famoso The Melancoly of Haruhi Suzumiya (apesar que neste, a dancinha está no encerramento). Na época da exibição desses animes essas danças se espalharam pelo globo. Até os famosos prisioneiros dançarinos fizeram uma apresentação.

Ao contrário de muitos animes que surgem de 4koma (as tirinhas verticais de 4 quadros) Lucky Star consegue fazer as transições de uma piada à outra de forma muito fluida, sem cortar bruscamente (K-on é outro que faz isso muito bem, melhor até).

Além das tirinhas e do anime, gerou um filme, que é basicamente um episodio longo da série, com o mesmo tipo de ritmo e piadas e alguns segmentos bem mais viajados, e até meio perturbadores. Cronologicamente o filme se passa durante o segundo ano do ensino médio.

É um dos meus animes favoritos, excelente para dar aquela desligada e curtir a comédia.

Nunca viveu quem nunca fez isso.