Lendas do Universo DC Super Powers: Como homenagear o Rei numa obra sem o Rei?
A Panini as vezes acerta, e as vezes erra…GROSSEIRAMENTE!
Caso vocês não saibam, jovos e jovas, em agosto se comemora o centenário de Jack Kirby, o homem que definiu a linguagem dos quadrinhos de super-heróis como a conhecemos e angariou o título de “O Rei”. A simples menção de seu nome causa reverência instantânea nos mais renomados artistas da indústria e seu traço único ainda gera influência até os dias de hoje. Logo, nada mais lógico do que a Panini homenagear o Rei com a publicação de alguns de seus principais trabalhos. Assim sendo, foi anunciado a publicação em duas partes de Lendas do Universo DC: Super Powers, HQ que trará o último trabalho de Kirby na DC . Ótimo, não!? NÃO!
Jack Kirby foi um dos sujeitos mais criativos da industria, sendo responsável por grande parte da criação visual da Marvel ( e até de muitos de seus conceitos, os quais muitos acham que foram ideias vindas 100% da cabeça sacana do senhor Stan Lee), além de criar todo um vasto universo dentro da DC conhecido como O Quarto Mundo, onde surgiram Os Novos Deuses, Senhor Milagre e daí por diante. A Panini já publicou muito de seu material da fase Marvel na linha Coleção Histórica Marvel, no entanto quando o cara completa 100 anos e a editora resolve homenagear o sujeito publicando seu material na linha similar mas voltada para as publicações DC da editora, os sujeitos me escolhem justamente o material que MENOS TEM JACK KIRBY???
Caso você não saiba, Super Powers foi uma linha de HQs produzidas para promover os bonecos que, no Brasil, foram lançados pela Estrela. No entanto, a mão de Jack Kirby pouco tocou tal material, já que seu único envolvimento com a publicação se resumia ao argumento e desenhos de capas, sendo que os roteiros ficavam a cargo de Joe Cavalieri e os desenhos advinham do lápis de Adrian Gonzales com arte final de Pablo marcos. Agora, eu não sei vocês, mas se eu vejo uma HQ sendo anunciada com o nome em letras garrafais de Jack Kirby na capa…EU ESPERO QUE ELA SEJA DESENHADA POR JACK KIRBY!!!
Jack Kirby foi, sem sombra de duvidas, uma das mentes mais inventivas de seu tempo, tanto visual quanto conceitualmente. Uma prova disso são seus trabalhos mais autorais, como o supracitado Quarto Mundo, onde ele criou tramas interessantes e visuais deslumbrantes, tanto para seus personagens quanto para o mundo onde eles transitavam. No entanto, ao escolher Super Powers como “publicação homenagem” ao Rei, a Panini decidiu por nos dar uma micro-fagulha da incandescente chama que era sua genialidade. Caso você não saiba o que é o “argumento” em uma HQ, pode ser resumido como a “ideia base” do roteiro. É como se o Jack Kirby chegasse para o roteirista Joe Cavalieri e dissesse “Nessa história, a Liga da Justiça se encontra com uma estranha criatura alienígena que tem testículos no lugar das bochechas e se chama Fofão. Aí eles brigam e, no final, eles vencem. O resto é contigo! SE VIRA!” e o senho Cavalieri tivesse que desenvolver a história, os textos e a lógica da coisa toda. Aliás, esse é o tal “Marvel Way” criado pelo Stan Lee, que dava o argumento aos desenhistas, os fazia desenhar 20 páginas em cima de 3 linhas de ideia base e, só depois, cretinamente ia escrevendo o roteiro por sobre o que estava desenhando. É por isso que muitas das HQs da Marvel dos anos 60/70 e inicio dos 80 tem tanta redundância com os personagens narrando o que estão fazendo.
E, mesmo em vista de suas geniais ideias enquanto roteirista, a característica mais marcante do Rei é, obviamente, seu traço único, suas cenas dinâmicas, seu maquinário detalhado e cenários grandiosos. Não conheço o trabalho do Adrian Gonzales e, pelas pesquisas que fiz, creio que quase ninguém conheça já que quando se joga seu nome no Google, tudo que se encontra é um jogador de baseball homônimo e, no quesito desenhos, uma história com sobre o nazismo e alguns poucos desenhos com a Liga da Justiça, sendo grande parte creditada ao próprio Kirby. Apenas um painel é devidamente creditado a ele nas imagens (este que está abaixo), e pode-se ver que ele tenta emular ao máximo o traço do Kirby, mas não tem o mesmo brilho e força. A sensação deve ser muito similar a quem comprou Terra X achando que Alex Ross também desenhava ao invés de apenas escrever e pensou que era tão bom quanto Reino do Amanhã.
Acho que eu já deixei claro o que quero dizer aqui, não!? Com tanto material pra publicar que carrega o nome e a importância de Jack Kirby, a Panini resolve escolher o material menos significativo na carreira do Rei, nos entregando histórias que se afastam da total genialidade do sujeito em prol de historietas genéricas e bobas que tinham como único intuito vender bonequinhos pra molecada, sem primar pelo minimo de profundidade e polimento. “Ain, mas esse foi o último trabalho do Kirby na DC! Tem valor histórico!”, algumas pessoas podem argumentar. Mas pra mim, e tantos outros fãs, incluindo os mais devotos (beijo, HDR), o valor histórico REAL está justamente no material que entrou em uma enquete no site da Panini afim de pesquisar quais publicações famosas do Kirby a galera queria ver efetivamente publicada. Uma pesquisa feita tardiamente e que mostra um ótimo material cujo o vencedor, infelizmente, muito provavelmente vá sair em um encadernado de luxo caríssimo que ficará fora do alcance de quem poderia pagar os R$21,90 cobrados no Lendas do Universo DC: Super Powers. Além de uma pena, uma baita de uma sacanagem pra quem não pode pagar caro em algo que sempre quis ler no formato original americano. Mas a Panini não parece muito preocupada com esse público faz é tempo, né…?
Pois é, jovos e jovas, HQ que tem o nome Jack Kirby na capa é como um Bem Amiches (podcast deste humilde site) sem o Vinnie com ódio de tudo e de todos, sem o Godoka com a internet falhando, sem o Hellbolha (esse sertanejo tão belo) chegando atrasado e sem o Evandro hosteando, ou um post onde eu não reclame dos preços das HQs , ou seja…não faz sentido algum! Assim sendo, a sensação que fica é a de que alguém te prometeu uma Ferrari e te deu um Fiat 147 que só pega no empurrão. Fica aqui meu protesto inútil. Abraço na boca de todos e até a próxima!
PS: