Leia esta merda! – Queda de Murdock
Quando você cai no escuro ou com os olhos vendados, a curta distância entre você e o chão parece um precipício. Dessa vez a queda foi a mais alta que se pode imaginar.
Lá pro meio da década de 80, quando Frank Miller ainda não tinha pirado, os quadrinhos viviam seu auge criativo, e o hoje velho gagá era um dos principais responsáveis por isso. Depois de escangalhar com a narrativa tradicional de quadrinhos em Ronin e produzir o clássico absoluto Cavaleiro das Trevas ele retornou à Marvel para escrever na humilde opinião deste que vos escreve a sua melhor obra: A Queda de Murdock.
A sinopse todo mundo já conhece: Karen Page, agora uma viciada em heroína, vende a um traficante a identidade do Demolidor, algo que logo chega aos ouvidos do Rei do Crime. O bolota então usa de seus recursos para quebrar o herói, tanto física quanto psicologicamente. Sua casa é destruída, sua licença de advogado é caçada, é quase morto pelo Rei enquanto quem leva a culpa é sua outra identidade, toma um chifre da namorada com o bosta do Foggy e ainda consegue ser esfaqueado pelo Tucão, sim, aquele bosta que usou a roupa do Metalóide.
Por que eu gosto tanto dessa obra? Simples, nunca algo tão impactante foi feito com um herói. A Queda do Ceguinho é exatamente o contrário do Dark Knight (uma das poucas coisas do Batman que gosto). Enquanto a morcega se mostra como o fodão que bate em tudo e todos e sempre está certo, o morcego da editora que vale descobre no decorrer da história que o fundo do poço tem estacionamento no subsolo. Frank Miller usou o conceito básico de Marvel de humanização dos personagens e o levou ao extremo. Não é simplesmente uma história de super heróis, é a jornada de uma pessoa que foi até o inferno e deu a volta por cima. Durante boa parte você esquece do Demolidor e se fixa em Matt Murdock.
Outro ponto muito importante: David Mazzucchelli. Esse feladaputa desenha pra cacete, e se não fosse o bastante a narrativa também é do caramba. Lembrando novamente que essa era uma época em que a narrativa e distribuição de quadros nas páginas estavam mudando, graças a isso fomos brindados com cenas como essa.
Frank Miller criou um modus operandi e um nível de qualidade pro personagem a ser seguido até hoje (menos a fase do Demolidor de armadura, malditos anos 90), mesmo não sendo um líder de vendas , observa-se sempre um certo carinho e preciosismo em relação as pessoas envolvidas nas histórias do personagem.
Enfim, se você nunca leu eu sugiro que vá se ferrar, e depois confira, afinal, é leitura obrigatória pra qualquer fã de quadrinhos. E se não quiser comprar tudo bem, se a coleção de Salvat não for cancelada o encadernado vai sair na metade do preço do da Panini.