He-Man de 2002: Ascenção e Queda da série que todo mundo esquece que existe.

Uma história de sangue, suor, lágrimas, cretinice da Mattel e safadeza da Cartoon Network.

Recentemente fizemos uma live falando da animação mais odiada pelos senhores de meia-idade que não podem ver mulher protagonizando nada. Obviamente me refiro a Masters of the Universe: Revelation. Durante a live, o Luis falou sobre o plot das espadas gêmeas que só existia nos brinquedos e que nunca foi usado na série original e na minha cabeça martelava o pensamento “Não, pera…isso foi usado na série de 2002! Não foi…?” e resolvi dar uma pesquisadinha. Foi então que descobri uma série de curiosidades e tretas envolvendo essa série injustiçada que foi um bom reboot da franquia MOTU ( sigla para “Masters of the Universe” caso você não conheça o termo) que irei dividir com vocês agora! Pra organizar essa bagaça, farei o post por tópicos. Comecemos com:

A IDEIA

Quatro sujeitos que trabalhavam na McFarlane |Toys, certo dia resolveram deixar a bem sucedida empresa do criador do Spawn. Mas os caras não saíram as cegas, eles tinham um plano que planejavam levar a toda poderosa Mattel. O plano consistia em reviver a linha de brinquedos MOTU, porém com novos e modernos visuais. A versão inicial do He-Man era bem mais selvagem, com um He-Man de cabelo mais comprido e um jeitão mais furioso.

O design original.

A Mattel considerou o desenho “diferente demais” do original e pediu para que vários desenhos fossem feitos e fariam testes entre um grupo de crianças para ver com qual preferiam brincar. O resultado todos conhecemos, a justificativa é que era um visual mais próximo a um anime, pois as animações japonesas estavam em alta nos EUA na época.

Obviamente, pra alcançar essa mesma molecada, não bastava apenas lançar os bonequinhos nas lojas e torcer pra eles morrerem de amores pelo misterioso loirão bronzeado de fraldão de pelúcia e sua turma de aberrações disformes. Era preciso produzir uma nova animação, e foi aí que tudo começou.

A HISTÓRIA

A história originalmente planejada para He-Man and the Masters of the Universe de 2002 guarda muitas…mas muitas… mas MUUUUUITAS semelhanças com Masters of the Universe: Revelations. A história seria uma sequência direta da série de 1983 e mostraria Esqueleto conseguindo as duas metades da Espada do Poder e deixando Adam sem poderes para se transformar em He-Man. Para evitar que Eternia ficasse sem seu protetor, Feiticeira se une a Mentor e ambos criam uma espada tecnológica que permitiria Adam invocar novamente os poderes do Castelo de Grayskull e se transformar novamente em He-Man. Inclusive a espada do Esqueleto é dupla na série justamente por essa ideia inicial.

Porém, a Mattel achou melhor rebootar a coisa toda e não deixar a molecada refém de uma série que seus pais assistiam ZILHARES de anos atrás pra poder compreender um novo produto. E foi assim que a espada tecnológica, que parece uma cruza de roteador com abridor de garrafas, acabou virando a Espada do Poder oficial nessa série.

A série começa com um episódio em três partes mostrando a origem do Esqueleto e do He-Man. Ela tem um tom muito mais “maduro” em comparação com a série clássica ( o que não é NADA difícil) com momentos até bem violentos para uma animação infanto juvenil americana, como a origem do Esqueleto mesmo, que é bem pesadinha. Outro diferencial além do tom está no formato dos episódios, que agora tinham continuidade direta ou indiretamente, e não eram apenas “aventuras da semana”. Agora os personagens tinham desenvolvimento real. A série tinha tudo pra ser um baita sucesso, mas esbarrou em dois problemas. O primeiro foi…

OS BRINQUEDOS

Quando a gente (com mais de 30 anos) era moleque, tudo que a gente mais queria era um boneco do He-Man. Quando a gente ganhava, tudo era lindo e maravilhosos e nada mais importava. O que a gente, em nossa felicidade juvenil, não percebia, era a safadeza/esperteza da Mattel na hora de produzir a linha de brinquedos do MOTU. Moldes eram reaproveitados a rodo! Era só pegar o corpo do He-Man, repintar aqui e ali, colocar uns acessórios e uma cabeça nova e…voilá! Tinham um novo personagem fresquinho saindo do forno!

O problema com a nova série era que os personagens eram tão violentamente distintos que era praticamente impossível reutilizar a forma de um em outro, o que acabou encarecendo DEMAIS a produção dos bonecos.

Pra tentar conter os danos, a Mattel começou a trabalhar forte na cretinice afim de reaproveitar os moldes como fizera outrora, e pra isso inventou TROCENTAS variantes dos personagens, que iam de He-Man e Esqueleto com novas armaduras até personagens como o Mentor apenas repintados com novas cores.

Essa estratégia safada chegou a um ponto em que era mais comum encontrar variantes das figuras que suas versões originais nas loja, o que deixava muitas crianças chateadas por não acharem o He-Man e o Esqueleto simples nas prateleiras e a fúria dos adultos colecionadores pelo mesmo motivo. Os próprios lojistas fizeram diversas reclamações, pois em suas encomendas a Mattel empurrava a maior quantidade possível de variantes e duas ou três figuras “originais” no meio. E as variantes foram acumulando nas prateleiras, acumulando, acumulando, acumulando…

No entanto, duas dessas variantes carregam até hoje a culpa máxima desses encalhes. Tratam-se de Smash Balde He-Man e Spin Blade Skeletor. Os bonecos nada mais eram que as primeiras e “originais” versões dos bonecos só que repintados e com armas giratórias substituindo armas clássicas dos personagens. No caso do He-Man o substituído foi seu machado de batalha e no caso do Esqueleto seu icônico cetro.

Mas o problemas não acabavam por aí! Preparada pra dar a martelada final no ultimo prego do caixão da série estava a…

CARTOON NETWORK

Apesar de ser exibido pelo canal nos EUA (e no Brasil também), a produção não era um original Cartoon Network e isso fez com que a própria emissora “boicotasse” a série em favor das produções da casa. Como ela fazia isso? Basicamente agindo como o SBT dos anos 90 com os seus desenhos japoneses exibidos no sábado. Ou seja, a série mudava de horário O TEMPO TODO e as vezes chegava ao cúmulo de ter seu dia de exibição mudado (o desenho era exibido semanalmente por lá, ao contrário daqui, onde passava na Globo de segunda a sexta). Isso, claro, dificultava o acompanhamento da série por parte da criançada e até por parte dos adultos, fãs do MOTU. Isso acabou gerando quedas vertiginosas na audiência e a série foi cancelada em sua segunda temporada sendo que a terceira já estava em desenvolvimento.

CONCLUSÃO

He-Man and the Masters of the Universe de 2002 é um bom reboot pra série e, arrisco a dizer, MUITO SUPERIOR a série original pelo simples fato de ter uma história continua e bem contada! Pegaram o lore ultra básico da série de 1983 e transformaram em uma série que alcançava de crianças a adultos, dando mais seriedade a coisa toda e, vez ou outra, até um tom épico que, sejamos honestos, só existe na memória afetiva de quem ama a série animada clássica. Trocando em miúdos, a série de 2002 é TUDO que a galera que anda reclamando de Revelations queria, uma série modernizada com uma linguagem mais adulta mas com o He-Man ainda como protagonista (e a Teela ainda usando trajes mínimos). Então, se você é um desses trintões/quarentões que ainda estão dizendo que Kevin Smith “arruinou sua infância”, dê uma rézinha até 2002 e veja essa série. Possivelmente você ainda vai reclamar do visual ultra exagerado dos personagens (e pelo fato do pacato ser chamado de “Cringer” na dublagem), afinal você ADORA reclamar! Mas tenho certeza que a história vai te ganhar! Aliás, que saber? Toma os episódios aí pra você não ter nem o trabalho de procurar! Pronto! Agora pode voltar a sorrir!