Hacksaw Ridge – Até o Último Homem
“Please Lord, help me get one more.”
Vamos começar com o elefante branco na sala. É um filme de Mel Gibson e ele, merecidamente ou não, adquiriu uma fama terrivel nos ultimos anos.
Mas o fato é que, ainda assim, é um cara que conhece muito bem seu metier, e, mesmo sendo odiado pra caralho em Hollywood, conseguiu uma indicação para melhor filme, diretor e até ator, pro Andrew Garfield.
O filme é uma historia real, e trata da vida do soldado Desmond Doss. Ele era um soldado, digamos incomum. Devido a alguns incidentes durante sua infancia e adolescencia, ele era um pacifista total, que jurou nunca tocar numa arma.
Algo dificil de manter quando se está no meio da campanha de Okinawa, uma operação particularmente sangrenta no teatro do Pacifico. E durante o treinamento, pode-se imaginar que tal decisão não tornou Desmond exatamente popular com os oficiais e outros recrutas.
Desmond era o que se chamava Opositor Consciente. Em essencia, é uma pessoa que se recusa a prestar serviço militar, mas isso só vale durante alistamento obrigatório. O que confundia as pessoas é que não era o caso de Desmond, que foi voluntário, DESDE que não fosse obrigado a usar armas.
Agora, o que esse cara fez para merecer um filme? Muito mais do que muitos outros cinebiografados fizeram, como no caso remover 75 feridos de um campo de batalha, no meio do fogo inimigo e à noite. Com o agradável detalhe de que os soldados japoneses ganhavam boas recompensas por matar médicos.
E na verdade, Mel Gibson tirou do filme dois momentos da ação, mas porque eram tão insanamente inacreditáveis, que ele temeu que o publico não fosse acreditar.
Quando Doss estava baixando feridos do cume, ele ficou um bom tempo na mira de um sniper japonês e só não levou uma bala porque a arma do sujeito ficava falhando. E depois, ao ser ferido, rolou pra fora da maca quando notou um cara mais ferido que ele e exigiu que o outro fosse levado antes. Nessas, ele foi atingido no braço e se arrastou por uns 300 metros no meio daquela putaria toda, até chegar a um lugar seguro.
E isso porque o filme não mostra as outras dezenas de missões do cara, tudo sem levar consigo nem sequer uma faca.
Como no combate da Escarpa Maeda, ou Hacksaw Ridge, onde 500 dos 800 membros do batalhão de Doss, foram mortos ou feridos, após cairem em uma armadilha. E ali, por CINCO FODENDO HORAS, ele ficou recolhendo feridos, e os descendo por uma porra de penhasco de 12 metros, enquanto atiravam nele.
Carajo.
Gibson é um dos melhores diretores pra grandes, e sangrentas, cenas de batalha, da atualidade, mas consegue levar também as cenas mais intimistas e sentimentais com muita competência.
E dessa forma ele consegue um detalhe vital. Desmond era um sujeito profundamente religioso, e boa parte de sua convicção em não usar armas era devido ao tão pouco respeitado Sexto Mandamento, Não Matarás. O que Gibson conseguiu, até pra surpresa de quem esperava algo assim dele, é evitar que o filme se tornasse proselitista, mesmo tendo uns simbolismos aqui e ali. A fé de Desmond era dele.
O elenco é principalmente australiano e inglês, com o já mencionado Andrew Garfield, Sam Worthington, Hugo Weaving, Vince Vaughn e Tereza Palmer.
É um puta filme, não se prive de ver por besteiras tipo “vou boicotar”. Mel Gibson não vai ficar sabendo da sua atitude.
Afinal, conta a historia de um cara cujo batalhão varreu por horas um campo de batalha para encontrar uma biblia de bolso, molhada e meio queimada. Doss disse que ficou muito triste em perder a livro, presente de sua esposa. Os caras estavam muito gratos.