“Você tá falando comigo?

Travis Bickle é um homem comum, assim como as pessoas que vemos por aí aos montes. Elas passam para todos os lados, indo e vindo sem fazer diferença alguma no seu dia. E assim também é a vida de Travis, com pessoas indo e vindo sem fazer a mínima diferença na sua vida. Existem pessoas para todos os lados, e existem pessoas de todos os tipos, todas com suas tarefas e outras coisas para fazer durante o dia. E por onde você anda (e por onde Travis também anda) você consegue vê-las, sempre sorrindo, ou correndo, ou conversando, mas elas estão ali, por todos os lados. E, por mais que à sua volta esteja rodeado de pessoas, Travis está sozinho. Sempre.

E tem o fato de trabalhar a noite. Eu sei que parece besteira, mas você também sabe. A cidade muda, as pessoas mudam quando chega a noite. A noite toda a sujeira fica exposta. Você sabe muito bem do tipo de sujeira que eu estou falando, nãos se faça de bom garoto. Eu falo de traficantes, prostitutas imundas com seus cafetões, ladrões, drogados, trapaceiros, vigaristas de toda a sorte. O lixo das ruas. E nós não estamos acostumados com esse tipo de coisa, não senhor. Nem nós e nem Travis.

Mas isso um dia vai mudar, ah se vai! Um dia alguém vai varrer esse lixo pra fora da cidade. Deve haver alguém, tem que haver alguém que saiba o que fazer, assim como nós! Alguém que pense como nós! Alguém que sinta o que nós sentimos, não é, garoto? Deve haver alguém por aí que saiba o que fazer, que vai resolver os seus problemas, que vai acabar com essa sua solidão. Não é possível que alguém consiga viver tampo tempo se sentindo inadequado, diferente… deslocado do mundo onde viva!

É, Travis, você está sozinho nessa.

Taxi Driver (1976) dirigido por Martin Scorcese e roteiro de Paul Schrader narra a história de Travis Bickle, um homem com problemas de insônia que decide trabalhar no turno da noite como taxista. Vivido por Robert DeNiro, o jovem rapaz sofre de uma solidão patológica, além de possuir um temperamento antissocial, instável e violento. O filme acompanha o enlouquecimento gradual e progressivo de uma pessoa que simplesmente não consegue se encaixar na sociedade em que vive.

O comportamento paranoico e violento de Travis é evidenciado muitas vezes enquanto ele dirige, com palavras e olhares de repúdio pelo que se passa à sua volta, além de cenas que demonstram um certo comportamento racista por parte do mesmo. A inadequação também é bem evidente na cena que mostra Travis levando a mulher com quem tinha marcado um encontro para um cinema pornô.

Durante isso a vida do personagem principal se cruza com a de Iris, uma prostituta de 12 anos vivida por Jodie Foster. Iris fugiu de sua casa para morar com Sport (Harvey Kietel), seu namorado e cafetão. Um dia Iris entra no táxi de Travis tentando fugir de Sport, e a partir de então o mesmo cria uma obsessão pela garota e torna o objetivo de fazer a menina largar de tal modo de vida uma cruzada pessoal. E durante tudo isso Travis encontra o que considera o objetivo de sua vida: assassinar Charles Palantine, um candidato à presidência do Estados Unidos.

Taxi Driver é um filme tenso do início ao fim. A trilha sonora bem trabalhada, o clima desconfortante em vários pontos da película, o desenvolvimento do filme que nos leva ao previsível porém não menos impactante e violento ápice, o final que cabe interpretações variadas, tudo nesse filme contribuiu para que o mesmo seja considerado um dos mais importantes e relevantes do cinema americano. Recomendado.