Edição Histórica Wolverine #01: Cooooisa linda…
Vamos falar de quadrinho bom?
Recentemente a Panini aproveitou o lançamento de Logan nos cinemas pra anunciar o lançamento de uma Coleção Histórica Marvel (aquelas revistas impressas com uma tinta que fedem a um mendigo após ter sido usado de banheiro por um elefante) totalmente dedicada ao baixinho canadense. No entanto, a Panini não deu mais detalhes sobre a publicação e todo mundo ficou se perguntando que fase seria publicada nessas tão aguardadas edições. Como as primeiras histórias solos do personagem ficaram nas mãos dos pesos pesados Chris Claremont e John Buscema e todo mundo que conhece as “peripécias” da Panini sabe que ela provavelmente vá guardar essa aclamada fase pra um encadernado de luxo que custará 3 pregas de nossos “cuzes”, a aposta maior recaiu na fase seguinte com a dupla Larry Hamma e Marc Silvestri. Essa fase saiu nos formatinhos da Abril, é claro, mas o que algumas pessoas podem não saber é que ela já foi publica completa em encadernados em formato americano no Brasil pela Mythos na coleção Edição Histórica Wolverine. E é do primeiro número desta coleção que falarei agora!
Publicadas originalmente em 1997 na coleção Wolverine Essential Nº02 , a Coleção Histórica da Mythos, assim como sua versão original gringa, trazia as clássicas histórias do Wolveninre nos anos 80 republicadas totalmente em preto e branco. No entanto, a Edição Histórica da Mythos vinha com “apenas” 260 páginas contra as mais de 400 páginas de sua versão original gringa. Sem falar que as supracitadas primeiras histórias da dupla Claremont/Buscema ficaram de fora por que a Abril já as havia publicado um ano antes no mesmo formato mas com o singelo título de “As Melhores Histórias do Wolverine de Todos os Tempos”, que estranhamente não contava com os 8 primeiros capítulos publicados em Wolverine 1, da própria Abril, em suas 370 páginas.
“Bem, não é a fase Claremont/Buscema…então não deve ser tão bom assim”, alguns podem pensar. E eu vos digo que ESTÃO ERRADOS! Claro que a fase do Caolho em Madripoor é SENSACIONAL, mas o senhor Larry Hamma segurou bem a tocha que lhe foi passada pelo Chris”mestre do excesso de texto inútil” Claremont e nos entrega uma fase memorável que pode ser dividida em duas partes: O memorável bom, que está justamente nesse encadernado, e o memorável ruim, que começa a partir do volume 2 e se estende por todo o medonho volume 3. Mas vamos falar de coisa boa! Vamos falar da Tek Pix de adamantium que é esse volume 1!
O Roteiro
Larry Hamma é um sujeito sagaz. Ele conseguiu pegar a saída de uma puta fase do Wolverine e a inserir em outra que, se não é tão grandiosa quanto a fase Claremont/Buscema, consegue ser muito boa e ainda ser tão memorável quanto. Hamma não se preocupou em jogar Logan em mega-sagas cheias de grandes cross-overs ou fazer um Wolverine overpower, praticamente imortal como a galera mais nova pode estar acostumada a ver. Seu Wolverine ainda carrega a essência do personagem em seus primeiros dias, com um fator de cura que não é milagroso, as vezes ele demora a agir dependendo da gravidade do ferimento, o seu tipico temperamento esquentado e pronto pra briga quando preciso, mas fanfarrão e debochado quando está em “modo civil”, sempre galanteando mulheres por onde passa.
A primeira história do encadernado se passa logo após Logan deixar Madripoor. Aqui vale um adendo: Assim como na edição da Abril, a Mythos acabou pulando uma história em 3 partes, se não me engano, onde é mostrada a “morte” do caolho e o Wolverine retomando sua identidade enquanto enfrenta membros da Yakuza. Uma pena, pois é uma ótima história. Mas, voltando ao que ESTÁ no encadernado, Logan está de volta ao Canadá afim de entrar em contato com seu lado primal, passando um tempo nas gélidas florestas e caçando e pescando pra se alimentar. No entanto, acaba se envolvendo em uma treta pesada quando fica sabendo através do xerife local que um assassino está nas montanhas e tem uma menina como refém. Mas não é só isso, uma criatura lendária, chamada de O Caçador das Trevas resolve mostrar que não é apenas uma lenda. Uma história fechada muito divertida e que, de quebra, ainda mostra partes do passado do Logan durante a segunda guerra mundial, além de apresentar um personagem que se tornará importante em uma trama futura.
A partir daqui temos dois arcos maiores e que acabaram tendo elementos de seu roteiro utilizados no filme Logan. O primeiro deles começa com Logan e Pigmeu, membro da Tropa Alfa, arranjando confusão em um bar. O que Logan não sabe é que Lady Letal se aliou a Donald Pierce com o intuito de dar um fim definitivo no carcaju. Para tanto, Lady Letal está usando os podere do mutante Teleporter (ou “Portal” como ficou na tradução Mythos) para caçar Logan pelo mundo. Acontece que os saltos no espaço-tempo de Lady Letal acabam criando uma singularidade que joga ela, Logan e Pigmeu para a época da Segunda Guerra Mundial na Espanha. Daí pra frente é correria e porradaria louca e alucinada com Lady Letal se aliando aos nazistas para acabar de vez com a raça do Wolverine.
Ao final dessa saga, começa aquela que irá seguir até o fim da edição. Nela somos introduzidos aos androides Albert e Elsie Dee, ambos criações de Donald Pierce com o único propósito de matar o Wolverine. Elsie Dee tem a aparência de uma menina de 5 anos, e deveria ter a mentalidade correspondente, mas um erro na programação (culpa de um estagiário distraído) acaba dando uma mentalidade mais madura a Elsie Dee, apesar de ela continuar falando como uma criança de 5 anos. Já Albert é um clone ciborgue do próprio Logan com direito a garras e tudo mais. O grande problema para Donald Pierce começa quando Elsie Dee se sensibiliza ao ver Logan tentar salvar sua vida, mesmo tendo descobrido que ela não era uma menina de verdade, e pra Logan quando Albert acha que ele sequestrou Elsie Dee e vai até as ultimas consequências afim de recuperar sua unica amiga.
Como eu disse, essa história se desenrola até quase o final do encadernado, com participações de Jubileu, Forge, Tempestade, Nick Fury, Cable e Dentes de Sabre pelo caminho com direito a uma sequencia de ação espetacular nos tuneis Morlocks.
Como também foi dito, esses dois arcos trazem alguns elementos que acabaram sendo incorporados ao filme Logan, como o vilão Donald Pierce e seu grupo, os Carniceiros, e até uma certa referencia ao Albert (não vou dar spoiler, mas basta saber que tem algo muito similar no filme).
A edição termina trazendo de volta o Caçador das Trevas que foi preso por um empresário afim de ser exibido como atração em um espetáculo. Não gostando nada da ideia, Wolverine decide que o bicho tem que voltar pra floresta canadense e no meio dessa quizumba toda, Dentes de Sabre aparece pra dificultar as coisas.
Como eu disse, o roteiro do Larry Hamma não pretende reinventar a roda nem criar um novo Watchmen. Ele é simples, direto, divertido e com ótimos momentos, nos entregando umas das melhores fases do Wolverine sem sombra de duvidas.
A Arte
Quem acompanhou quadrinhos nos anos 90 deve conhecer Marc Silvestri de sua mais famosa criação na Top Cow (sub-divisão da Image Comics), The Darkness. No entanto, quem acompanhou quadrinhos nos anos 80 sabe que o sujeito já labutava por ali no título dos X-Men. Em Wolverine, Silvestri está, sem sombra de duvida, em sua melhor forma! Seu traço tem um estilo muito próprio, dinâmico, trafegando entre o sombrio e o cartunesco quando o roteiro exige. É dele uma das capas do Wolverine que considero mais emblemática.
Traçando um comparativo, o traço do Silvestri lembra muito o do Mike Mignola nos primórdios do Hellboy, quando ele ainda estava ajustando o estilo que começou em Odisseia Cósmica. Temos sombras negras bem chapadas em muitos momentos, personagens com um traço mais estilizado, aquelas famosas canelinhas finas que culminam em pés que são pequenos triângulos e uma narrativa muito fluida. A grande diferença está no traço mais rabiscado e “poluído” de Silvestri.
As vezes pego a revista só pra “ler as figuras” e os desenhos nunca me cansam. Como eu disse, é Silvestri sendo Silvestri, coisa que parou de acontecer no inicio de 1992, quando o Silvestri foi obrigado a se tornar o Jim Lee. Isso será melhor explicado no post sobre o volume 2.
Considerações Finais
Edição Histórica Wolverine é aquela HQ que te faz se perguntar por que não ganhou uma reedição nestes dias em que tudo se resume a encadernados. Eis uma edição que vale a pena ter na coleção, pois além de extremamente divertida trás o Wolverine de raiz em suas páginas, fator que se perdeu através dos anos e que foi revivido agora com a introdução do Velho Logan no universo Marvel 616 pelas talentosas mãos do Jeff Lemire.
Como já citado, as chances de parte dessas histórias irem parar na Coleção Histórica Marvel do Wolverine é bem grande, no entanto é certo que não será na integra, já que essa coleção tem como objetivo jogar histórias do personagem título da vez em vários momentos diferentes de sua “carreira”, as veze não se importando nem em fechar um arco. Assim sendo, caso você queira recorrer a edição da Mythos, fica a dica: PESQUISE! Tem muita gente por aí vendendo essa edição a preços absurdos. O preço de capa dela é de R$17,90, eu consegui a minha em ótimo estado de conservação por R$9,90. Na verdade, fui dar uma olhada no Mercado Livre e vi que muita gente se tocou que R$80/R$90/R$100 era um pouquinho demais e agora dá pra encontrar por R$15 e até menos.
Edição Histórica Wolverine não é apenas mais uma HQ em minha coleção, ela é um de meus xodós e algo que, certamente, irei reler de tempos em tempos.
Nota: 9,5 (só não leva 10 por que a fase Claremont/Buscema existe).
E no post sobre o volume 2: Entenda como um roteiro consegue descer ladeira abaixo mas dar uma leve brecada antes de descer tudo de vez. Descubra o “Efeito Jim Lee”. Saiba o que NÃO SE DEVE FAZER com o passado de um personagem sem passado. Tudo isso e muito mais, aqui, no Superamiches. Até lá!